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Reportagem: Cannibal Corpse e Suicide Silence @ Paradise Garage, Lisboa - 15/07/2015


Previa-se noite quente em Alcântara e não estamos a falar de meteorologia. O regresso de uma das mais amadas bandas de death metal norte-americano (e porque não do death metal mundial?) ao nosso país é sempre um evento, ainda para mais quando a banda está a atravessar um excelente momento forma, tal como bem comprova o seu último álbum "A Skeletal Domain", que mantém o padrão de qualidade que os Cannibal Corpse já nos habituaram. Ou seja: alto. A acompanhar a clássica banda de Buffalo, de Nova Iorque, vieram os também norte-americanos Suicide Silence, já veteranos do deathcore, que também editaram no ano passado o seu último trabalho, intitulado "You Can't Stop Me", o primeiro com o novo vocalista Hernan Hermida que substitui o falecido Mitch Lucker.

A sala já estava praticamente cheia quando os Suicide Silence entraram em palco e logo de início foi possível ver que estavam lá muitos fãs da banda, algo que a banda depressa notou pelas reacções calorosas que obteve. Sempre muito energética e com um som poderoso, ainda que algo desequilibrado (principalmente o baixo que parecia abafar tudo) mas com uma guitarra solo cristalina, os norte-americanos estavam a jogar em casa, o que não deixa de ser um fator curioso, já que quem gosta das sonoridades mais tradicionais no death metal tem uma certa resistência a metalcore e deathcore. No entanto, é inegável o tareão que o público do Garage levou, com a voz de Hermida a soar perfeitamente entrosada em todos os temas antigos e a banda instrumentalmente irrepreensível.

O vocalista revelou-se bem à vontade, não se cansando de elogiar o nosso país e o nosso público, fazendo uma alusão ao impacto que a ponte 25 de Abril, semelhante à de São Francisco, teve em si. Musicalmente não faltou o tema título do último álbum assim como as inevitáveis "Wake Up", "Fuck Everything", "Lifted", "Sacred Words" e "You Only Love Once" - que segundo Hermida, foi a primeira música que ele cantou com a banda. A banda demonstrou-se bastante humilde, e embora o já mencionado último álbum tenha evidenciado um esforço por parte da banda em variar e romper mais além das fronteiras do deathcore, ao vivo, essas fronteiras estão bem estanques e a banda soa um pouco genérica. No entanto, e essa é a parte que deve ser salientada, de todo o público que encheu o Paradise Garage, foi difícil encontrar quem não tivesse satisfeito com a primeira parte.

Findada a actuação dos Suicide Silence era chegada a vez da mudança de palco, da repetição de um pedido da banda feito no início da noite de não fumarem no interior da sala (que na generalidade foi seguido), e do abastecimento de líquidos nos bares. A temperatura estava de tal forma alta que a cerveja à pressão acabou, tendo de ser servidas latas (que mais tarde também acabaram) mas ainda subiu mais quando a banda entrou em palco sem grandes apresentações nem artifícios. Dispararam logo com "Scourge Of Iron" e "Demented Aggression" do álbum de 2012, "Torture" e passearam praticamente por toda a (longa) discografia da banda, deixando de fora apenas o seu segundo álbum "Butchered At Birth".

A reacção do público foi frenética mas tal reacção era perfeitamente compreensível, já que os clássicos como "Stripped, Raped And Strangled", "Disposal Of The Body", "Sentenced To Burn", "Addicted To Vaginal Skin", "I Cum Blood" não paravam de ser disparados para o público que os recebia de braços abertos. O som esteve imaculado e perfeito para aquilo que a complexidade dos temas exige e por falar é sempre impressionante ver a banda a tocar, com um rigor assustador que se torna hipnótico. Com um George "Corpsegrinder" também bem afinado e sempre bem disposto, a banda deu um espetáculo de luxo que apesar de não chegar a duas horas, teve a intensidade de um concerto de quatro horas. Para o final ficaram as inevitáveis "A Skull Full Of Maggots", "Hammer Smashed Face" e "Devoured By Vermin" que fecharam com chave de ouro um concerto que deixou todos satisfeitos, desde a banda aos seus fãs, numa noite onde o death metal reinou supremo.

Texto por Fernando Ferreira
Fotografia por Diana Fernandes
Agradecimentos: Prime Artists