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None - “Inevitable” Review

 

Para os apreciadores mais atentos dos subgéneros atmospheric e DSBM, o anúncio de um novo álbum dos None encontrava-se entre um dos mais aguardados para 2023. O duo anónimo, oriundo de Portland e formado em 2015, tem vindo a construir boa reputação com 3 LPs sucessivos, consolidando-se principalmente com o álbum anterior “Damp Chill of Life”, de 2019. Quatro anos de espera passados, o quarto álbum chega-nos através da Hypnotic Dirge Records, editora canadiana, com base nos arredores de Lisboa desde o início deste ano. 

“Inevitable” emerge da negra profundeza emocional dos seus criadores para encontrar outros ânimos errantes na noite terrena. Como próprio da vertente DSBM, o percurso através das 6 faixas é lento e cadenciado, transpondo o ouvinte para lugares de desolação e letargia. “Never Came Home” inicia-nos ao ritual, revelando que a sonoridade característica do projecto se manteve intacta, embora com nuances suficientes para se distinguir dos álbuns anteriores. A guitarra lead límpida (por vezes acústica), conjuntamente com as teclas, entregam-nos notas simples que comandam suavemente a melodia. A segunda guitarra tece uma cortina de fundo com ostinatos de som extremamente distorcido - de que “Alone, Where I Can See” é exemplo. A voz continua também num plano mais distante, de uma essência atmosférica, mas sem perder a relevância nos ambientes criados. A secção rítmica, por sua vez, é a mais sombria, fazendo-se evidenciar apenas quando pertinente, seja com o baixo a tomar parte do papel melódico ou com a bateria a recuperar-nos a pulsação, como acontece em “A Reason to Be”. 

No final das três primeiras faixas, fica claro que NONE mantêm a sua mestria a construir ambientes depressive / atmospheric black metal, tendo desta vez colocado especial foco nos ambientes atmosféricos derradeiramente sombrios. Mas terá sido aqui que o álbum mais acaba por pecar, no par constituído por “My Gift” e “Locked, Empty Room”. São duas faixas que partilham um singelo troço melódico e toda a envolvência atmosférica que maioritariamente as constitui não justifica a duração total desta parte colocada no cerne do álbum. Tivessem sido fundidas, ou partes de “Locked, Empty Room” suprimidas, e o resultado poderia evitar fáceis distrações e desconexão da música que estamos a ouvir (o que se acentua conforme se repetem as audições do álbum). Felizmente, “Rest” é uma faixa emocional que vem fechar o álbum com excelência, retomando laivos das telas pintadas em “Damp Chill of Life”.

Em suma, “Inevitable” é bem mais despojado do que os seus álbuns precedentes, o que prova a capacidade evolutiva da banda e captará interesse de novos ouvintes. Por outro lado, poderá deixá-lo ficar aquém das expectativas de alguns dos seguidores da música de NONE. Não quer isto dizer que a melodia se tenha perdido completamente, mas apresenta-se de forma quase minimalista. Algo que a capa do álbum ilustra bem: enquanto que os dois anteriores representam árvores de luxuriante vegetação erguidas no clima do Inverno, “Inevitable” representa-as despidas e quebradas, como que defuntas. A contrastar com enlevo melódico dado pela beleza das notas límpidas e singelas de “Damp Chill of Life”, este quarto álbum traz-nos uma paisagem lúgubre e de devastação, acentuando-se um sentimento de desconfortável inquietude. A press-release refere-o como um estádio do luto, de resignação niilista perante o fracasso e perda existencial, e “Inevitable” traz-nos eficazmente um retrato sonoro desse negro fim.

Nota: 7.5/10

Review por Luna