Já todos sabemos que o Christos dos SepticFlesh é um génio musical com um currículo invejável... o homem continua a dar que falar com a sua outra banda, Chaostar, que lançou recentemente “The Undivided Light”. A vocalista e letrista Androniki Skoula esteve à conversa com a Metal Imperium...
M.I. - A banda nasceu do desejo de Christos Antoniou de criar música com uma abordagem mais clássica. O que faz com que os Chaostar ainda criem música hoje em dia? O mesmo desejo ou surgiram outros desejos ao longo do caminho?
Olá! A força motriz por trás de Chaostar continua a ser o desejo de nos envolvermos com a música clássica, mas também o nosso profundo desejo de experimentação.
M.I. – Os Chaostar desejam fazer experiências com música. Achas que conseguiram isso?
Eu, realmente, acredito que fizemos um esforço para experimentar. Não vou julgar se esse esforço teve um resultado interessante ou não, mas tenho a certeza que é fácil perceber em todas as nossas músicas que não nos limitamos. Nós experimentamos com muitos elementos controversos e realmente gostamos disso. Quase tudo o que tínhamos nas nossas mãos era mais um elemento para "brincar".
M.I. - O último álbum "Anomima" foi lançado há 5 anos. Por que demoraram 5 anos para lançar material novo?
Demorou muito tempo por dois motivos básicos. O primeiro é que o material que tendemos a criar é sempre muito complexo porque consiste na colaboração com músicos de diferentes géneros que temos que reunir e com a diversidade de cada música que queremos manter. Nós nunca queremos repetir um estilo específico de uma faixa para outra e isso exige muito esforço. Não queremos que as faixas soem de forma semelhante. O segundo factor básico do atraso tem a ver com as nossas vidas diárias. O Christos faz tournées com os SepticFlesh e não está a maior parte do ano e o resto da banda passa muito tempo no trabalho... Às vezes, isso não nos deixa muito tempo livre e, claro, não surgem novas inspirações.
M.I. - Com "Anomima", os Chaostar queriam satisfazer os fãs numa dimensão musical desconhecida que libertasse os seus pensamentos e almas. O que é que os Chaostar desejam com "The Undivided light"?
"The Undivided Light" é muito mais introvertido. Ainda é um álbum de experimentação, mas principalmente um álbum de auto-exploração para cada um de nós. O conceito básico tem a ver com o poder do conhecimento e todos os valores importantes, para se tornar cada vez maior quando partilhado com as massas. Claro, isto é algo que exige defesa e autodisciplina para ser alcançado e é exactamente a viagem em que vos queremos levar. A viagem dentro do vosso eu interior, o poder do soldado oculto dentro de vós, que tem a sensibilidade de chorar, embora tenha o poder de matar também.
M.I. Qual é a principal diferença entre "The Undivided Light" e o material anterior?
"The Undivided Light" é de longe o trabalho mais concreto e maduro até hoje. Neste álbum, a viagem sombria e introvertida que deleita os ouvidos, tem níveis mais equilibrados de elementos surpreendentes. Ao ouvir o álbum inteiro, percebe-se que há um prólogo que alimenta o cérebro e o coração com ritmo, de modo a suportar o resto da tristeza do álbum.
M.I. - Com o “The Undivided Light”, os Chaostar levam a experimentação mais longe e dão um novo significado ao termo “world music”. O que é que isso significa exactamente? O que podemos esperar?
Através de “The Undivided Light”, o elemento da experimentação é incluído dentro de um conceito geral. Não que isso não tenha acontecido com "Anomima", mas desta vez é mais aparente. Sente-se que há uma viagem com um começo e um destino final, com inúmeras experimentações e surpresas pelo meio. Gostaria de concluir que as surpresas e os elementos deste álbum, ficam melhor incluídos num conceito geral.
M.I. - Por quê o título “The Undivided Light”?
Como referi antes, “The Undivided Light” fala sobre o poder da luz, mesmo que tenha sido partilhada ou dividida em muitas chamas. A luz pode representar qualquer coisa: um valor, uma virtude, uma batalha, tudo o que é precioso e ocupa um lugar especial dentro de nós não pode ser dividido, como amor, conhecimento, história, educação, sacrifício, herança, todas essas coisas não temem a divisão. A única coisa é que, às vezes, exigem protecção e sacrifício nosso para que a sua “chama” seja protegida e brilhante ...
M.I. - Alguma tragédia grega ou Deus antigo inspirou as letras desta vez? Androniki foi responsável pelas letras de "Anomima". Foste a responsável por estas também?
Sim, as letras são minhas novamente em “The Undivided Light”. Para ser sincera, há sempre uma figura grega dominante antiga e, desta vez, é Sócrates. Sócrates afirmou que “Só sei que nada sei” e, por isso, este grande filósofo sublinhou que o único caminho para a nossa liberdade é entender que a perseguição da verdade e do conhecimento não é o objectivo. O objectivo é defender o procedimento para isso. Ele esclarece que nunca podes ser um verdadeiro conhecedor de tudo, mas que o conhecimento é a chave para a liberdade e a viagem para esse procedimento é o conhecimento que sempre procuraste.
M.I. – Como têm sido as reacções ao novo álbum até agora?
As reacções são óptimas. Comentários maravilhosos, comentários entusiasmados no Youtube e nos média online, e entrevistas com perguntas muito interessantes (como esta!). Pessoalmente, recebo muitas mensagens entusiastas de fãs que compraram o vinil, CDs, merchandising e estão realmente impressionados.
M.I. - A directora de arte da capa e do conceito foi Androniki Skoula. Como é que a capa reflecte / retrata a “mensagem” do álbum?
Seguindo a minha explicação sobre o título do álbum, o conceito da obra é mais facilmente compreendido. Eu pretendia retratar um soldado a descansar depois de uma batalha e, na parte de trás da capa, o preço da morte que tem que ser pago. Como expliquei antes, o título “The Undivided Light” fala (principalmente) sobre a luz do conhecimento e de qualquer tipo de escravidão da mente. Isso, claro, exige sacrifício e protecção, para que cada um de nós possa tomar o lugar do soldado retratado na capa do álbum. Como também se percebe, o lugar ou a roupa não podem ser facilmente definidos numa época histórica específica e isso é porque não interessa. Não há épocas nem barreiras históricas específicas que possam restringir a importância de defender os nossos direitos e de morrer pelas nossas crenças.
M.I. - A vocalista da banda era Natalie Rassoulis, mas Androniki Skoula entrou em cena em 2009. Foi difícil substituir Natalie? Temias que os média e os fãs comparassem as vossas vozes?
Ela é uma excelente cantora e fez um óptimo trabalho com os Chaostar. Não, nunca senti medo algum. Todos os cantores têm o seu estilo único. Alguns gostam, outros não. Tudo é possível.
M.I. - Quando descobriste que tinhas uma voz encantada? Quem são as tuas referências? Que treino vocal tens?
Eu comecei a cantar com a idade de 3-4 e depois continuei com aulas de piano. Depois disso, segui o curso de canto clássico e obtive o meu diploma de mezzo-soprano em 2012, no Conservatório Helénico, em Atenas. Também tive uma experiência interessante e muito preciosa de aulas particulares em Berlim (Alemanha) com a conhecida soprano Mikaela Kaune.
M.I. - Se pudesses fazer um dueto com um vocalista, vivo ou morto, quem seria e por quê? Que música escolherias para cantar?
Eu realmente não consigo pensar em ninguém! Eu adoro tantos cantores e músicas que não consigo decidir o que dizer!
M.I. - Christos e Chaostar dão-te a liberdade de seres tu mesma ao cantar? Cantas como queres?
Absolutamente! Nós temos uma comunicação muito boa com Christos. Ele orienta-me e eu sigo algumas linhas gerais e conselhos mas, de um modo geral, sou totalmente livre.
M.I. - No último álbum, usaram 6 idiomas diferentes... quantos são usados neste?
Usamos 4 idiomas neste álbum: Suaíli, Grego, Inglês e Alemão.
M.I. - Este álbum tem um line-up diferente... essas mudanças afectam o vosso estado mental e o processo de escrita?
O processo de escrita é algo muito especial e, às vezes, realmente diferente da ideia que se tem. A nova formação conta com Charalambos Paritsis (violino), Nikos Velentzas na percussão e eu como vocalista e letrista.
M.I. - Os álbuns de Chaostar geralmente incluem músicos convidados... como decidem quem convidar? Pelo talento e habilidades?
Primeiro de tudo, nós convidamos aqueles que partilham connosco o mesmo amor pela experimentação e combinação de diferentes géneros musicais... Só depois é que vem o virtuosismo, a habilidade e a performance, mas o mais importante é sempre que eles queiram fazer uma viagem mística com os Chaostar.
M.I. - Considerando que os Chaostar são o projeto paralelo de Christos, quanto é que os SepticFlesh influenciam o som de Chaostar?
Para ser mais específica, gostaria de salientar (algo que o próprio Christos sempre destaca) que os Chaostar não são um projeto paralelo, mas uma banda concreta e estável, que segue os procedimentos exactos que qualquer outra banda seguiria. É evidente que os SepticFlesh são facilmente audíveis em Chaostar porque o Christos é a pessoa que compõe em ambas as bandas. Os elementos extremos, os sons de metal e os toques de doom metal são obviamente coisas que qualquer um pode reconhecer como influências de SepticFlesh.
M.I. - Tens uma vasta experiência e participaste em muitos álbuns, principalmente de bandas gregas. Estás a fazer alguma colaboração no momento?
Eu acabei de fazer uma linda colaboração com a banda "Jaw Bones", no seu álbum "Wrongs on a right turn", uma banda mais rock e gostei muito. Eles são uma banda muito boa com óptimos elementos e música poderosa! A minha outra colaboração mais recente foi com LLOTH, uma banda de Hellenic Black / Death Metal fundada em 1995 pela falecida Tristessa das ASTARTE. O seu marido, Nicolas SIC Maiis, deu continuidade ao trabalho da banda nas vozes. Ele é uma óptima pessoa e um músico inspirado que me deu a oportunidade de fazer parte do maravilhoso álbum "ATHANATI".
M.I. – Tanto quanto sei, a banda não tem nenhum concerto programado... é por causa das agendas agitadas dos membros ou porque esse tipo de música atmosférica requer condições especiais?
Ambas as razões. Temos que encontrar o local adequado para os Chaostar e os horários dos membros da banda, às vezes, não ajudam…
M.I. - Se pudesses tocar ao vivo em qualquer local, onde tocarias e por quê?
Eu adoraria tocar no novo Concert Hall de Hamburgo! A arquitectura está além de qualquer comparação! Arquitectura incrível!
M.I. – O Christos tem um óptimo currículo... já te sentiste “intimidada” por trabalhar com este génio musical?
Não, a nossa colaboração é perfeita, embora eu não tenha diplomas tão aclamados nem a extensão da sua carreira musical.
M.I. - Qual foi a melhor lição que aprendeste com os Chaostar até agora?
"Viva silenciosamente - trabalhe silenciosamente" (provérbio grego antigo).
M.I. - Fazes parte de uma comunidade de artistas femininas chamada Eve's Apple. O que é que essa comunidade faz? Que tipo de artistas estão envolvidas nisso?
É uma comunidade de cantoras profissionais, com o objectivo de apoiar bandas femininas, partilhar informações sobre a indústria da música e promover o seu trabalho. É uma comunidade bonita e calorosa, onde muitos assuntos sérios têm estado em discussão e muitos problemas que as cantoras enfrentaram ao longo dos anos também são um tópico de discussão. É um grupo de apoio de artistas do sexo feminino e nós realmente gostamos de fazer parte disso .
M.I. - Hoje em dia, o assédio sexual é um grande problema e o movimento #Metoo também… és feminista? Prestas atenção a este frenesim dos média? Quão complicado é ser artista feminina numa cena dominada por homens?
Eu não gosto de rótulos. Não me considero mais nem menos do que as coisas que represento com a minha maneira de viver. É triste que os homens tenham em várias ocasiões exercido tal violência contra as mulheres, mas somos fortes e imbatíveis. Eliminaremos todas as ameaças permanecendo leais e focadas em oferecer o melhor dos nossos trabalhos. Apoio totalmente o #Metoo, pois temos de falar quando o nosso corpo e mente são assediados.
M.I. - Obrigado por responder às nossas perguntas, Androniki! Por favor, deixa uma mensagem para os fãs e leitores do Metal Imperium Webzine!
Queridos amigos, muito obrigado por ouvirem os Chaostar! Espero que gostem de “The Undivided Light” tanto quanto nós! Fiquem atentos às novidades!!
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Entrevista por Sónia Fonseca