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Entrevista aos …And Oceans


Quando “The Dynamic Gallery of Thoughts” foi lançado em 1998, o underground ficou louco… mas então os …And Oceans mudaram o seu Black Metal Sinfónico para Metal Industrial / Eletrónico e o underground ficou dececionado. Agora, 18 anos depois, os finlandeses retornam com um novo álbum "de volta às raízes", intitulado "Cosmic World Mother"... o Timo e o Mathias tiveram uma longa conversa com a Metal Imperium... leiam os seus pensamentos aqui...

M.I. - Saudações de Portugal e da equipa da Metal Imperium! Espero que vocês estejam bem, sãos e salvos. Como estão todos os ...And Oceans a lidar com o surto de COVID-19 até agora?

Timo: Todos nós estamos saudáveis, obrigado por perguntares. Mas não sei como é que eles estão a lidar com a quarentena.
Mathias: Eu estou a ficar inquieto. Era para ir para o México hoje e começar a temporada de festivais deste ano!


M.I. - “...and Oceans estão de volta! Com vingança.” Esta é a frase na vossa página oficial do Facebook ... o que querem dizer com isto exatamente? Por quê com vingança? Acham que existem pessoas que gostariam de vos ver falhar?

Timo: É apenas uma maneira de falar, uma maneira de dizer que estamos mais fortes do que nunca. Claro, há sempre pessoas que querem coisas diferentes e estão a pensar que algumas bandas não deveriam voltar nem existir. Mas esses, só temos de ignorá-los e concentrarmo-nos no que é essencial.


M.I. - O guitarrista Timo comentou: "A nova era de ...And Oceans já faz muito tempo. Nós já sabíamos como seria: a banda tocou alguns concertos e festivais selecionados no ano passado e foi ótimo ver antigos e novos fãs dando as boas-vindas de braços abertos aos ...And Oceans. Parece que é a hora certa de voltar com este novo álbum. “Cosmic World Mother” está pronto, a data de lançamento está marcada, os concertos estão agendados e nós temos uma nova e forte formação. Vamos comemorar a nova pele! " Por que é agora o momento certo para voltarem à cena? Não tinham receio de não corresponder às expectativas, considerando o estatuto de culto que a banda alcançou ao longo dos anos?

Timo: Após os primeiros ensaios e concertos de sucesso, sentimos que sim, parece-nos certo. As novas músicas fluem com muita facilidade também. E essas foram as razões para tomarmos esta decisão de regressar. Na minha opinião, não existem muitas bandas antigas que tocam este estilo de Black Metal sinfónico dos anos 90. Se for honesto, sim, realmente questionávamo-nos se conseguiríamos fazer isto com material novo, etc. E agora, que o álbum está pronto, pensamos que tomamos a decisão certa.


M.I. - Houve um hiato de 17 anos na banda. Enquanto isso, regressaram com o nome "Havoc Unit", mas não durou. Estavam confusos quanto ao tipo de sonoridade que queriam? Além disso, o que mais fizeram durante estes anos em que não estiveram em cena como ...And Oceanos?

Timo: Mudamos bastante o estilo no final e assim os ...And Oceans morreram e nasceram os Havoc Unit. Ao mesmo tempo, a maioria dos membros saiu da banda. Era um grupo totalmente novo, não realmente uma continuação dos ...And Oceans. Para mim, houve algumas coisas importantes na minha vida pessoal que me mantiveram ocupado durante vários anos. Formei a banda Magenta Harvest e fiz alguns discos e tournées com eles. E também ressuscitamos a nossa primeira banda de old school death metal, Festerday.


M.I. - Qual é a maior diferença entre ...And Oceans em 2002 e ...And Oceans em 2020? O que será diferente para os ...And Oceans agora que são mais velhos e mais sábios?

Timo: Na composição não há muita diferença. Bem, o nosso novo teclista é muito ativo, o que ajuda em tudo. Claro, pode-se dizer que somos melhores músicos, mas isso não significa necessariamente muito melhor. A nova formação é forte, pelo menos ao vivo, podemos ver a diferença. Claro, hoje em dia, realmente precisas de dominar o instrumento, o que significa que deves tocar o máximo possível e estar bem preparado para os concertos ao vivo. É claro que, neste tipo de música, não é o principal, tal como não era nos anos 90. Não faz mal, haha. A música é diferente da dos ...And Oceans em 2002, mas nunca se sabe como será o próximo álbum.


M.I. - Agora que a banda está de volta com um novo álbum e tudo, o vírus corona está aí e todos os concertos e festivais de verão foram cancelados ou adiados... estavam muito animados com 2020? Como estão as expectativas agora?

Timo: Claro, isso também nos afeta e é realmente frustrante lançar um álbum depois de tantos anos e parece que não o podemos promover como deveríamos. Estávamos muito empolgados com a tournée no Japão, por exemplo. Agora, estamos a tentar reorganizar os nossos concertos aqui na Finlândia. Em seguida, vamos planear concertos e festivais para o próximo ano. Temos que tirar o melhor proveito disto.


M.I. - Vocês já lançaram duas faixas do novo álbum "Cosmic World Mother". Como é que as pessoas estão a reagir?

Timo: Já temos três músicas lançadas. O feedback tem sido ótimo. Claro, existem algumas pessoas que gostariam de uma abordagem mais experimental ou mais eletrónica. Bem, mas sempre fizemos as coisas da nossa maneira, tal como todas as bandas deveriam fazer, caso contrário, não faz sentido estar aqui. É bom ver todos os fãs antigos a perceberem que estamos vivos novamente.


M.I. - Em relação a uma dessas faixas, o vocalista Mathias Lillmåns comentou: "'Vigilance and Atrophy' mostra o lado melódico dos ...And Oceans. Uma música carregada de melodias de guitarra e envolvida em sintetizadores espaçosos, apresenta as paisagens sonoras mais épicas de "Cosmic World Mother". Apesar de ser uma música bastante animada, as palavras foram escritas durante um dos momentos mais sombrios da minha vida, numa insónia alimentada por um transe." O que é que os fãs podem esperar do novo álbum? Foi muito esperado...

Mathias: Como eu disse nessa citação, existem muitos sintetizadores épicos e melodias de guitarra. Em termos de música, este álbum, realmente, recorda-nos os ...And Oceans dos anos 90, mas com uma paisagem sonora mais moderna. As letras ainda são bastante surrealistas, mas, é claro, são escritas no meu estilo, em vez de copiar o ex-vocalista Kena.


M.I. - “Cosmic World Mother” será lançado no 8 de maio e o mundo está basicamente fechado. Acham que isso afetará as vendas? A editora ofereceu-vos a oportunidade de adiar o lançamento devido à situação de pandemia?

Timo: Bem, o tempo dirá como nos afeta. Obviamente, as pessoas podem encomendar as coisas como antes faziam, apenas alguns postos de correios restringiram os envios, mas isso não deve afetar muito. Como mencionado anteriormente, isto afeta os nossos concertos e a visibilidade, de modo que afeta as vendas, com certeza. A nossa campanha promocional já estava em andamento há tanto tempo e não seria sensato interrompê-la e adiar o lançamento. Então, vamos fazer como estava planeado.


M.I. - Em termos de som, este álbum é regresso às vossas origens... sentiram falta delas e do som original?

Timo: O som, sim, talvez um pouco. Na minha opinião, mais parece o estilo dos nossos primeiros álbuns com um toque moderno, claro. Pessoalmente, gosto muito do som do Black Metal dos anos 90, o sentimento é importante nos álbuns da época. O que é bastante raro hoje em dia.


M.I. - Na vossa opinião, e considerando que alguns provavelmente não estavam familiarizados com a cena em 2002, que tipo de ouvintes este álbum pode atrair? Podem mencionar algumas bandas que têm um "som" semelhante?

Timo: Bem, mais ou menos, a maioria das bandas dos anos 90. Alguém comparou o som ao dos Emperor, Limbonic Art, etc, em início de carreira.


M.I. - A banda está presente (de novo) desde 2017 e sofreu mudanças no alinhamento. Como lidam com estas situações? Elas afetaram o novo álbum de alguma forma?

Timo: "Sofreu" é uma palavra bastante forte. Sim, algumas mudanças não eram planeadas. Algumas eram de acordo mútuo, etc. É sempre um choque quando surgem do nada! Todos os membros que tínhamos antes desta nova formação eram, mais ou menos, o grupo original. Portanto, não é bom separarmo-nos, mas, novamente, nesta situação, era algo que precisávamos de fazer. Sim, os novos membros tiveram a sua contribuição no álbum. O teclista, por exemplo, fez duas músicas com teclados e eu apenas contribui com guitarras nessas.


M.I. - O primeiro vídeo “The dissolution of Mind and Matter” já está disponível há algumas semanas... por que optaram por esta faixa para mostrar o álbum?

Timo: Não há nenhuma razão especial. Nós pensamos que era algo que poderia funcionar. Partes rápidas e partes melódicas mais lentas, algo presente em todo o álbum.


M.I. - O álbum inteiro gira em torno de temas de energia. O que vos interessa neste tema? Acreditam que há uma energia cósmica e poderosa à nossa volta?

Mathias: Sempre fui uma pessoa guiada pela lógica e pela ciência. De acordo com as leis da física, toda a energia é eterna, apenas muda de forma, nada se perde. Todos somos parte dessa energia cósmica e sempre o seremos. Estou muito intrigado com o que isso significa para nós como seres humanos, aqui e agora, e o que significa após a nossa morte e antes do nosso nascimento. O facto de que a energia que dá poder ao nosso corpo vive de outra forma depois de morrermos é um pensamento reconfortante.


M.I. - A experiência e a maturidade ajudaram-vos a criar um produto do qual se orgulham? De todas as 11 faixas do álbum, qual é a vossa favorita e por quê?

Timo: Até certo ponto, talvez. Criar coisas novas não é mais fácil quando és mais experiente ou maduro; mas, naturalmente e felizmente, essa foi uma tarefa bastante fácil desta vez. É cedo demais para dizer qual a favorita. Normalmente, a música favorita é uma daquelas que funcionam melhor ao vivo. Até agora, tocamos apenas duas músicas deste álbum ao vivo. Até já podemos ter alguma favorita, mas é difícil dizer uma música específica. O tempo vai dizer.


M.I. - A banda usa mais de um idioma... como conseguem encaixar tudo isso? Como sabem em qual idioma uma faixa deve estar? Ainda posso ter esperança que inventem uma faixa em português? 

Mathias: Nunca sabemos que idiomas haverá no próximo álbum! Sinto-me mais à vontade para escrever em inglês por algum motivo. Também usei um pouco de sueco neste álbum para variar a letra, e o sueco é a minha língua materna, por isso está perto do meu coração. Também acho que as línguas escandinavas se encaixam muito bem no Black Metal e têm um certo toque especial!


M.I. - O álbum foi gravado em quatro locais diferentes. A Bateria e o baixo no vosso local de ensaio com equipamentos do estúdio móvel SoundSpiral Audio do Juho Räihä. As vozes foram projetadas pelo próprio Räihä no local principal da SoundSpiral Audio, nos arredores de Kouvola. O teclista, Antti, decidiu que faria todas as suas partes no seu estúdio sozinho. As guitarras, a mistura em si e, finalmente, o master foram feitas no Wolfthrone Studios por Owe Inborr. Não temiam que a "essência" do álbum se perdesse ao longo do caminho?

Timo: Com o equipamento de hoje e o facto de já termos gravado álbuns de maneira um pouco semelhante, não me deixou preocupado.


M.I. - Quão complicado foi gravar assim? Quão complicado foi juntar todas as peças?

Timo: Mencionei antes que esta maneira foi um pouco semelhante à que fizemos antes. Eu não era responsável por juntar todas as pontas soltas, por isso não posso dizer o quão complicado foi. Talvez o Mathias possa explicar mais.

Mathias: Foi um grande quebra-cabeças reunir tudo, mas conseguimos e estou muito feliz com o resultado final. O Owe e eu tínhamos aquele som dos anos 90 do Abyss Studios na nossa cabeça enquanto gravávamos e misturávamos o álbum. Soa mesmo do jeito que eu queria!


M.I. - A arte da capa foi feita por Adrien Bousson... quem criou o conceito? O que isso significa para vocês?

Timo: Foi inspirado por um pintor russo e pela sua pintura.
Mathias: Para a arte do álbum, o Adrien inspirou-se nas letras, e elas estão interligadas!


M.I. – A Season of Mist lançou os dois primeiros álbuns da banda, depois mudaram para a Century Media e lançaram mais dois... agora, para o seu quinto álbum, voltaram à Season of Mist... por que optaram por voltar para eles?

Timo: Nós, realmente, não entramos em contacto com a editora. Recebemos algumas ofertas daqui e dali. Portanto, não enviamos demos para qualquer editora. Apenas seguimos a situação. Não estávamos com pressa de fazer qualquer acordo antes de termos  material suficiente pronto. Já estávamos em contacto com a Season of Mist, porque a nossa outra banda, Festerday, tem um acordo com eles. Como eles queriam ouvir as nossas novidades, enviamos-lhes algumas demos. Eles ficaram interessados, e decidimos assinar com eles. São pessoas familiares e ótimas, profissionais acima de tudo. Até agora, tudo é de primeira qualidade. Esperamos muito desta cooperação.


M.I. - Embora o novo álbum ainda não tenha sido lançado, o Kontio mencionou que a banda não quer esperar muito antes de lançar material novo. A banda está a ser criativa neste período de quarentena? Têm trabalhado em material novo nestes dias?

Timo: Eu disse isso e queria dizê-lo. Por que parar agora se tudo é tão fácil? Nunca se sabe quando isto para. É claro que não temos pressa de entrar em estúdio, mas sempre podemos criar novas faixas para que tenhamos material suficiente pronto quando chegar a hora. Desta vez, a expectativa é ainda mais alta para um novo álbum. Sim, novo material está a ser criado neste momento.


M.I. - Já decidiram a setlist para a tournée promocional do novo álbum? Que faixas estão ansiosos por tocar ao vivo e por quê?

Timo: Nós estávamos a preparar a setlist para os nossos concertos em Tóquio em maio, mas depois veio o corona. Portanto, não temos pressa com a set list. Nós pensamos que deveríamos obviamente tentar todas as músicas ao vivo, para podermos ver qual é o conjunto de músicas ideal para nós. Temos algumas faixas para escolher. Claro, todas as novas músicas são emocionantes para tocar ao vivo pela primeira vez.


M.I. - A banda principal do Lillmåns, Finntroll, também vão lançar um novo álbum após um longo silêncio. Como vão lidar com a situação quando a pandemia terminar e as tournées surgirem?

Mathias: Serão tempos agitados, com certeza! Mas não me importo de estar em tournée. Eu sempre, bem, pelo menos nos 15 últimos anos, fiz malabarismos com pelo menos duas ou três bandas ao mesmo tempo, então não é novidade! Vai ser fixe estar de volta à  estrada a 200%!


M.I. - Existe um álbum na carreira dos ... And Oceans que gostariam de melhorar ou excluir por algum motivo?

Timo: Na verdade não. Todos eles eram o som da época. Cada álbum tem os seus momentos.


M.I. - Qual é a melhor lembrança dos ...And Oceans? Essas lembranças eram algo de que tinham saudades e ansiavam de novo?

Timo: Claro, o primeiro concerto da nossa primeira tournée europeia, em 99, em Marselha, foi uma experiência bastante agradável. Além disso, conseguir o acordo com a Season of Mist foi um dos pontos altos, com certeza.


M.I. – Algo mais que gostariam de partilhar com os fãs em Portugal que esperam ansiosamente pelo vosso regresso?

Timo: Nós deveríamos ter tocado aí em 2001 com os Marduk e os Behemoth, etc., mas, devido a algumas circunstâncias, tivemos de cancelar essa parte da tournée! Portanto, seria fixe finalmente ir aí tocar! Enquanto isso, ouçam o novo álbum! Obrigado por esta entrevista!

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Entrevista por Sónia Fonseca