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Entrevista aos Finntroll


Em meados de junho, a Metal Imperium teve o prazer de estar à conversa com Vreth, vocalista dos trolls finlandeses Finntroll, para discutir detalhes sobre o novo álbum “Vredesvåvd”. Por causa da pandemia, houve pormenores relacionados com este álbum que mudaram desde então, a começar pela data de lançamento do álbum que passou de agosto para setembro, o que alterou também a data permitida para publicar esta entrevista. 
Este sétimo álbum, lançado sete anos depois de "Blodsvept", apresenta-nos a banda em excelente forma e com novo baterista. As datas da tournée que acontecerá em 2021 disponibilizadas não incluem Portugal, mas a banda já está confirmada para o Milagre Metaleiro Open Air 2021... e, com este álbum brutal, deverá ser um espetáculo a não perder! Entretanto, descubram aqui alguns detalhes bem interessantes que o Vreth partilhou connosco.

M.I. - Olá, Mathias! Saudações de Portugal! Como tens passado?

Olá! Tenho tido muitas coisas para fazer, ando muito ocupado.


M.I. – Os Finntroll existem há 23 anos... qual é a melhor experiência que já tiveste como membro da banda?

Ohhh, existem muitas e é difícil escolher só uma. O meu primeiro ano com os Finntroll será sempre um marco importante porque passei de engenheiro de som a músico a tempo integral. Isso é algo que vou sempre lembrar, porque a minha vida deu uma volta completa.


M.I. - Há um intervalo de 7 anos entre o novo álbum e o anterior. O que causou o atraso? Vocês normalmente demoram cerca de 3 anos para lançar material novo!

Muita coisa aconteceu nestes anos. Estivemos em tournée durante dois anos e meio e, quando voltamos dessa tournée... porque não somos uma banda que escreve em tournée... tentamos escrever e não conseguíamos e, tudo o que escrevemos, não estava bem e não parecia certo para nós... e depois perguntaram-nos se queríamos fazer o aniversário de 10 anos do álbum “Nattfödd” e nós fizemo-lo. Tentamos novamente escrever música depois disso e fizemos a tournée de aniversário... mas a música ia na direção errada. Portanto, decidimos fazer mais alguns concertos e esperávamos que, em algum momento, surgisse a ideia do que pretendíamos fazer. Mais dois anos passaram rapidamente e, no ano passado, tínhamos algumas músicas prontas e decidimos colocar um prazo para nós mesmos e conversamos sobre isso com a Century Media e eles apresentaram-nos um data limite para termos um lançamento em 2020. As ideias começaram a vir mais facilmente… em meio ano, escrevemos a maior parte do álbum e reescrevemos algumas das coisas antigas também. Ter um prazo foi bom nesse sentido. Terminámos de escrever em meio ano, entrámos em estúdio e, agora, um mês depois, está tudo feito e pronto.


MI. - Então, dirias que trabalham bem sob pressão?

Bem, não digo que trabalhamos bem mas, pelo menos, fazemos as coisas. Este inverno foi muito intenso e estive em contacto com o Trollhorn quase todos os dias a trabalhar nas músicas, a tentar mudar coisas que não nos agradavam... quando já não podemos procrastinar mais, temos mesmo que escrever.


M.I. - Referiste que escreveram algum material de que não gostaram, mas utilizaram parte dele?

Sim. Tínhamos quase 25 músicas para escolher riffs, mas, no final, no álbum, acho que há talvez 20 a 25% dos últimos 7 anos, o resto é do último semestre.


M.I. - “Vredesvåvd” é o 7º álbum que demorou 7 anos a ser preparado. Vredesvävd traduz-se em “Ira tecida”… por que acham que este é o melhor título para o álbum?

O título realmente descreve muito bem o tema lírico do álbum. Vredesväv ou ira tecida... este álbum conta histórias sobre jornadas, diferentes tipos de jornadas... não jornadas geográficas, mas jornadas espirituais, jornadas dentro de nós mesmos, busca da alma... todas estas jornadas estão de alguma forma relacionadas à raiva ou ira.


M.I. - Essas letras e viagens são biográficas? Realmente aconteceram a quem escreveu as letras?

De certa forma, algumas são. Tudo está relacionado com a experiência do autor, é claro, e também são baseadas em histórias da mitologia finlandesa e viagens.


M.I. - O que é que os fãs podem esperar do novo álbum?

Este álbum é diferente dos 3 últimos álbuns. Depois do álbum “Nattfödd”, começamos a ir numa direção diferente, ainda reconhecível como Finntroll, mas já havia alguns novos elementos lá também. Desta vez, estamos a dar alguns passos atrás. Queríamos fazer algo novo, mas também ter algo nostálgico, algo para os fãs dos três primeiros álbuns. Se colocarmos este álbum numa linha do tempo, poderia encaixar depois do “Nattfödd”. Desta vez, queríamos fazer um álbum mais melódico, rápido e energético. E, por alguma razão, as melodias do estilo “Nattfödd”, começaram a aparecer e pensamos que era uma escolha muito boa e decidimos levar este álbum para aquele som Black Metal do final dos anos 90, início de 2000. Então, em vez de usarmos orquestrações de batidas modernas, usámos sintetizadores antigos e coisas assim.


M.I - Ótimo! Já que o álbum combina os elementos mais essenciais do passado da banda com um pacote de temperos novos, é inovador, achas que vai corresponder às expectativas?

Sim, definitivamente espero que sim! Acho que vai, mas também já há muito tempo que queríamos fazer algo para os fãs mais antigos e novos também. Este álbum é como um impulso de energia. Não queríamos um álbum lento e medíocre, queríamos energia e algo que soasse a novo também.


M.I. - Desde o quarto álbum “Ur jordens djup”, que é o primeiro álbum em que participaste, todos incluem 11 faixas... algum motivo em particular?

Nunca pensei nisso antes, por isso não há nenhuma razão especial. (Risos) 11 é apenas uma boa quantidade de faixas para um álbum, acho eu.


M.I. - Como ocorre o processo de escrita nos Finntroll? É um processo democrático ou é mais tipo ditadura?

Bem, é uma espécie de ditadura democrática. (Risos) Claro, que o Trollhorn sempre foi e será uma grande parte disso, e tudo que escrevemos passa por ele em algum momento. Neste álbum, eu não escrevi nenhuma música, mas estive a fazer os arranjos, a esmiuçar e virar tudo, estive realmente envolvido. É um processo democrático, mas, no final, tudo passa pelo Trollhorn, portanto, sim, é uma ditadura democrática.


M.I. - O álbum foi produzido por ti e pelo Trollhorn. Não é um peso sobre os vossos ombros?

Sim, mas é evidente que todos têm a sua própria responsabilidade aqui. É assim que queríamos fazer desta vez. Como sou produtor, e o Trollhorn também, é uma maneira fácil de fazer as coisas. Se todos fossem produtores, o álbum seria uma bagunça!


M.I. - Sim, seria! Em termos de som... vocês limitam-se de alguma forma?

Nós nunca quisemos fazer parte de uma caixa como essa... sempre pegamos em influências de fora da cena metal. Num dos nossos álbuns ouve-se música folk de todo o mundo e da Escandinávia. Noutro álbum tivemos influências da Indonésia e noutro influências da música pop dos anos 80, por isso ...


M.I. – O Trollhorn afirmou que este álbum tem as tuas melhores e mais agressivas performances vocais... é um grande elogio! Como reages a isso?

Bem, quando fizemos este álbum, queríamos levá-lo um pouco mais além. Eu era exigente com o que guardava das minhas gravações. Tenho gravado muitos álbuns nos últimos anos e produzido vozes, e isto é uma espécie de progressão. É porreiro saber que os membros da banda gostam e espero que as pessoas concordem e sintam o mesmo, porque passamos muito tempo a fazer com que a minha voz soasse tão agressiva quanto se ouve no álbum.


M.I. – A tua voz nos Finntroll e nos …And Oceans é realmente diferente. Como processas isso? É complicado saber qual o estilo vocal que funciona melhor para cada faixa e banda?

Normalmente, é estranho quando começo a escrever e a praticar. No estúdio, as coisas que faço no primeiro dia deito fora, porque posso ainda estar ligado no modo de alguma banda. Por exemplo, quando comecei a fazer o álbum dos ...And Oceans, ainda estava no modo Dispyt, a minha banda punk, e não combinava. Não sei como dizer, mas apenas sinto o que está errado e o que está certo. Todas estas bandas têm o seu som. E a mesma coisa aconteceu quando comecei a gravar o álbum dos Finntroll... eu ainda estava no modo ...And Oceans e precisei de dar um passo atrás para conseguir a vibe Finntroll que pretendia.


M.I. - Normalmente, quantos takes fazes da tua voz?

Isso é muito difícil de dizer... tem a ver com a velocidade, com quão rápido eu tenho que cantar e outras coisas.


M.I. - Ok, então depende! Este álbum também é o primeiro em que o Morko, o novo baterista, é apresentado... quão complicadas são as mudanças de formação? O que é que ele trouxe para a banda?

Esta mudança na formação não foi nada dramática. O Beast Dominator avisou-nos que deixaria a banda e não houve ressentimentos. Ficamos um pouco em choque e perguntámos “O que devemos fazer? Para quem devemos ligar? ”. Nós conhecíamos alguns bateristas e o Trollhorn disse “Ei, e este tipo?!” e todos nós decidimos que devíamos perguntar-lhe porque ele é um bom amigo nosso e questionámo-nos por que não nos tínhamos lembrado dele antes. Enviamos-lhe um longo e-mail e ele imediatamente disse que estava interessado. Foi uma transição fácil. Ele encaixa neste novo álbum e estamos felizes com a escolha.


M.I. – As vossas letras e títulos são predominantemente em sueco, mas têm um grande impacto sobre os fãs... achas que a mensagem passa na mesma ou as pessoas apreciariam ainda mais toda a atmosfera e vibração dos Finntroll se cantassem em inglês?

Bem, provavelmente se o tivéssemos feito antes, sabes? No início, se tivéssemos mudado para inglês, provavelmente poderíamos ser maiores do que somos agora. Mas acho que se mudássemos agora, também perderíamos uma grande parte do som e não estamos prontos para sacrificar o nosso som para sermos maiores.


M.I. – Sim! A arte da capa é incrível como sempre. Quem a desenhou?

Foi o guitarrista, como de costume. Ele fez todas as capas dos álbuns até agora, portanto vamos continuar com ele... (Risos)


M.I. - Há um feiticeiro na capa. Onde é que ele vê os Finntroll no futuro?

Bem, depois das fronteiras abrirem, haverá tournées de novo... estamos ansiosos por isso!


M.I. - Sim, eu sei que estais porque, num post no Facebook, muito antes do coronavírus aparecer, vocês mencionaram o lançamento do novo álbum e disseram que queriam comemorar com os fãs no Summer Breeze... na verdade, vocês até esperavam que eles estivessem nus e tivessem bebidas. Divertes-te muito nos Finntroll?

Eu, definitivamente, divirto-me muito e sinto falta disso! Na sexta-feira, teria começado a temporada de festivais, e é chato ter de ficar em casa.


M.I. - Apesar da diversão, as tournées não se tornam chatas e cansativas com a idade?

Não, claro que há dias bons e dias maus, mas principalmente são bons e não as faríamos se assim não fosse.


M.I. - A banda está a planear uma longa tournée e Portugal está incluído… vocês já tocaram em Portugal. O que pensam deste país? Qual é a sua melhor coisa? E a pior?

Eu já aí estive muitas vezes. Quando chegamos a essas partes da Europa, como Espanha e Portugal, os planos mudam um pouco. O público é diferente do público do Leste Europeu que é mais violento e faz mais mosh pit… quando tocamos em Portugal, as pessoas tendem a envolver-se mais na música, cantando as melodias em vez de baterem umas nas outras… (Risos) Algumas das coisas que me lembro mais de Portugal é que pode não haver muitas pessoas, mas elas cantam muito alto, e é por isso que gosto de ir aí em tournées.


M.I. – Do que é que mais sentes falta das tournées... da cerveja grátis?

Não! Bem, é difícil dizer, mas definitivamente não é a cerveja grátis. Acho que fico inquieto quando fico muito tempo no mesmo lugar. Gosto de ver coisas novas e, claro, fazer tournées, tocar ao vivo... Gosto muito de estar em palco!


M.I. - O que tens feito para manter a sanidade nestes dias?

Tenho feito muitos cursos, tenho um professor de canto. Faço aulas de canto. Isso é algo que me mantém são. Faço aulas por skype. Na verdade, é muito divertido. E, claro, há muito trabalho com o álbum dos Finntroll, e isso mantém-me muito ocupado.


M.I. - Há algumas semanas participaste no “Cruachan Virtual Pub” com músicos de outras bandas… como foi? Os fãs apreciam estes eventos? Achas que iniciativas destas ajudam a manter o espírito do metal vivo?

Bem, é exatamente por isso que elas acontecem, para ver e encontrar os amigos que não vemos há algum tempo e manter o contacto.


M.I. - Já pensaste em escrever um livro sobre a tua vida na estrada? 

Não, na verdade não! (Risos) Quando atingir uma certa idade, posso pensar em fazê-lo, mas não agora!


M.I. - Eu entrevistei-te recentemente sobre o novo álbum dos ...And Oceans... quão diferentes são as duas bandas? Qual é a tua prioridade agora? Como conciliarás ambas as bandas e possíveis tournées quando o covid for embora?

Por exemplo, o outono já está planeado. Tínhamos feito planos com as duas bandas e encaixamos e não foi muito difícil. Com os Finntroll, podemos mexer nas datas à vontade porque somos os cabeças de cartaz. Com os ...And Oceans será mais difícil porque estaremos num cartaz como banda de apoio. Devemos ser capazes de conciliar as bandas, porque há 8/10 anos eu estava em mais bandas e funcionou, portanto não deve ser difícil fazer com que estas 2 bandas trabalhem juntas. Os ...And Oceans é uma banda com tipos mais velhos, com empregos e outras coisas, e não podemos andar em tournée durante 2 anos e meio como fazemos nos Finntroll.


M.I. - Como lidas com a popularidade? Já recebeste uma proposta indecente de um fã ou outro músico?

(Risos) Sim!


M.I. - (Risos) Sim? Então fala-nos sobre isso!

Não! Vou guardar para mais tarde! Agora já não acontece com tanta frequência!


M.I. – Daqui a uns anos volto a perguntar e talvez me digas!

Ou talvez fale disso no livro que escreverei mais tarde! (risos)


M.I. - (Risos) Sendo fã de ficção científica… achas que a pandemia daria um ótimo tema para músicas, livro ou filme? 

Sim, acho que vão surgir muitas canções e teremos material para muitos anos... se não nos Finntroll, talvez para a minha banda punk Dispyt ou até mesmo nos ...And Oceans. Com certeza vamos escrever sobre estes tempos.


M.I. – Queres deixar uma mensagem final aos fãs portugueses? Espero ver-vos no próximo ano!

Faremos uma longa tournée mais à frente e, com certeza, iremos aí! Espero ver-vos! Curtam a música!

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Entrevista por Sónia Fonseca