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Entrevista aos Therion

Os Therion têm sido bastante controversos desde os primeiros dias... as mudanças de som nem sempre agradaram aos fãs de metal, no entanto, isso não pareceu preocupar muito o Christofer Johnsson! Ele tem sido o cérebro por trás dos Therion desde o início, e a Metal Imperium decidiu conversar com ele para saber mais sobre o novo álbum “Leviathan”... no entanto, a conversa acabou por ser muito mais rica e falamos sobre a carreira da banda, o mercado da bolsa, os pontos altos da banda, as críticas… um diálogo bastante diferente e interessante que nos mostra um lado mais pessoal do Christofer. Continuem a ler...

M.I. - Olá! Como estás? Cansado?

Olá! Não! Houve momentos em que eu fazia mais de 100 entrevistas por telefone, mas, agora, tenho um pouco mais de sorte, porque o Thomas dá algumas das entrevistas e tenho eu menos.


M.I. - Quão diferentes são os Therion agora dos Therion em 1988? Como é que a banda evoluiu do Death Metal para o Symphonic Metal?

Bem, na verdade a banda formou-se em 87 e, no começo, nem tocávamos death metal. Começamos a tocar mais thrash metal, uma mistura entre heavy metal e thrash metal, algo muito barulhento. Éramos uma mistura entre Motorhead, Venom e “Kill‘ em all ”dos Metallica, algo assim. Em 88, começamos a tocar death metal. No nosso primeiro álbum, tínhamos um pouco de teclados, o que era muito controverso naquela época, porque o death metal era muito conservador... não se usa teclados, sabes? E, no segundo álbum, usámos muito mais teclados e algumas vozes femininas e alguns vozes masculinas limpas, e o desenvolvimento sinfónico já estava lá desde o início, mas em pequena escala. No terceiro álbum, tivemos algumas influências neoclássicas, do Médio Oriente e até algumas influências industriais. Nós experimentamos bastante, tentei experimentar um pouco com a voz e não apenas com vozes de death metal. No quarto álbum, tínhamos um soprano clássico e um cantor baixo barítono e ainda mais teclados e também tentamos cantar de forma diferente, portanto foi um desenvolvimento gradual. Quando fizemos “Theli”, usamos coros pela primeira vez e acho que foi quando demos os passos para nos tornarmos uma banda de metal totalmente sinfónica. Havia muitas bandas que tinham influências neoclássicas, mas, eu acho que fomos a primeira banda a abraçá-lo completamente, ou pelo menos, fomos nós que o estabelecemos. Por isso foi um desenvolvimento de nove anos basicamente, mas, se ouvires todos os álbuns, podes realmente ouvir a evolução gradual.


M.I. – Os Therion criaram um estilo que influenciou muitas bandas, como Nightwish ou Epica... como te faz sentir sabendo que contribuíste tanto para a cena do metal?

É uma sensação ótima! Na verdade, não sei se inspiramos os Epica, mas sei que inspiramos os Nightwish, pelo menos no começo, fomos uma das suas inspirações. É muito bom fazer parte disso! Quer dizer, de certa forma, somos apenas mais um degrau na escada. Em 87, o Tom G Warrior dos Celtic Frost, quando fez o “Into the Pandemonium”, foi o primeiro passo para tornar o metal sinfónico. Se ele não o tivesse feito, eu não teria tido as minhas ideias! Ele tirou as suas ideias das bandas de rock sinfónico dos anos 70. Acho que todos fazemos contribuições diferentes, mas é bom ser um pioneiro em vez de ser um dos imitadores, sabes? Se pegares nos Nightwish, por exemplo, eles não eram imitadores, eles inspiraram-se e fizeram uma versão mais cinematográfica, mais acessível. Mas os Therion sempre foram muito experimentais e obscuros. Vendemos muito bem nos anos 90, vendemos cerca de 150.000 cópias do álbum “Vovin”, o que não é mau, mas os Nightwish conseguiram popularizar o estilo e fazê-lo funcionar. Sim, pode chamar-lhe de comercial, não acho que comercial seja um palavrão, apenas significa que é mais acessível para um número maior de pessoas. Eles conseguiram chegar a platina e isso foi ótimo porque significava que conseguiram encontrar fãs que nós não encontraríamos e, às vezes, isso refletia-se em nós. Pessoas que se tornariam fãs e procurariam mais esse tipo de música e iriam encontrar os Therion, portanto eles realmente pagaram pela inspiração! O maior inovador de todos os tempos no rock foi o Jimi Hendrix. O que ele fez em 1967 revolucionou e mudou tudo completamente. Se perguntares à primeira geração de bandas de Hard Rock como os Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, e até mesmo aquelas que vieram um pouco mais tarde, como Judas Priest, dirão que o Hendrix mudou tudo. Se perguntares a alguém hoje sobre o Jimi Hendrix, alguns jovens fãs de metal, infelizmente, não o conhecem. Tu és jornalista musical e eu sou músico, e talvez conheçamos a história musical um pouco melhor, mas, em geral, acho que as pessoas desconhecem muitos dos génios da história da música. A mesma coisa se passa com os Black Sabbath, todos os adoram, mas a maioria das pessoas não faz ideia da revolução sonora que eles causaram. Além disso, alguns dos primeiros temas dos Judas Priest definiriam o método dos anos 80 e 90. Não quero comparar os Therion com o Hendrix e os Black Sabbath, mas, numa escala muito menor, também fizemos algumas contribuições. Acho que a maioria dos jovens fãs de hoje não entende realmente como era nos anos 90. Lembro-me de quando “Theli” foi lançado, algumas pessoas ficaram chocadas e, na Suécia, o único país onde tivemos muito sucesso como banda de death metal, perdemos toda a nossa base de fãs, porque já tínhamos testado a paciência deles com “Leppaca Kliffoth” e depois com “Theli”. Felizmente para nós, o álbum vendeu muito bem, e conseguimos um novo público, mas, especificamente na Suécia, basicamente paramos de tocar porque não fomos compreendidos e, até hoje, continuamos sem público lá.


M.I. - Mas eu acho que as pessoas têm a mente mais aberta agora, não é? Eu era uma das poucas miúdas em concertos de metal nos anos 90 e as bandas não tinham T-shirts femininas nem nada.

O Metal era para tipos malvados, mas as pessoas estão mais abertas atualmente. Acredito e acho que aceitam as mudanças no som e nas bandas de uma forma mais relaxada. Não sei, mas acho que são influenciados pela música pop, porque ouvem de tudo um pouco.


M.I. - Antigamente, a maioria das bandas só podia dizer que ouvia metal, caso contrário, seriam banidas ou algo assim. Li alguns comentários online e alguns fãs amam o novo álbum, mas outros parecem estar desapontados, dizendo que a essência dos Therion desapareceu. Achas que a essência do Therion desapareceu ou as pessoas simplesmente não conseguem aceitar o facto de que as bandas evoluem?

Não sei, mas, honestamente, muito do metal hoje é música pop, são apenas músicas pop com guitarras pesadas. O metal com o qual cresci era o metal dos anos 80... realmente tinha riffs de guitarra! Não sei quando foi a última vez que ouvi um bom guitarrista! Não sentes isso na maioria das bandas. Há algumas bandas nostálgicas de heavy metal dos anos 80 como os Hammerfall, mas especialmente na cena de metal sinfónico é basicamente música pop sinfónica com guitarras pesadas. Bandas como os Nightwish ou os Epica não são uma coisa má, eu gosto de música pop, mas a aceitação da música pop é muito maior porque o metal se aproximou dela também. Se pegares numa banda como os Sabaton, por exemplo, eles são uma banda de metal fixe, mas basicamente tocam hard rock melódico. Se eles tivessem feito as suas canções nos anos 80, estariam no mesmo género dos Foreigner, Europe ou Bon Jovi. São muito melódicos, mas por terem vozes mais ásperas, a imagem e letras sobre guerra, as pessoas compram o conceito. É como os Manowar... pega na música “Carry on”, que teria sido uma música pop, mas como amávamos os Manowar e eles eram fixes, ouvíamos “Carry on” e é uma ótima música, eu adoro essa música, mas para o pessoal do metal precisas de usar a roupa certa, o conteúdo não é tão importante desde que seja bom, sabes? Isso é o que eu queria provar quando fizemos o álbum cover com as canções pop femininas francesas dos anos 60, que está muito longe do metal. Queria reorganizar as músicas em metal para mostrar que não é tão importante o núcleo da música, desde que seja bom, isso é o que importa! E uma de nossas músicas mais populares também é “Summer Night City”, a cover dos Abba. Para mim há música boa e música má, não importa o estilo que seja, se é uma música boa, é boa! Sempre adorei os Abba, sou um grande fã. Sempre adorei os Beatles, que inventaram o pop, e para mim nunca houve contradição. Adoro música, mas, como disseste, na cena metal era muito importante que ouvisses metal, e misturaram-se muito estilos musicais diferentes. E mencionaste que eras a única miúda... na cena death metal, era muito fixe, as miúdas eram tratadas muito bem e com muito respeito, mas, na cena metal normal, às vezes as pessoas diziam que as meninas não entendiam bem a música, que só iam ao concerto porque iam com o namorado. Era um pouco de machismo de certa forma, como se elas não conseguissem entender a música. Foi muito difícil para asas  mulheres artistas dos anos 80. Girlschool eram ótimas, eu adorava Girlschool e também tínhamos a Lita Ford e a Lee Aaron. O pessoal dizia sempre “oh, é uma banda feminina”. Agora não é nada estranho misturar bandas, ter uma cantora é quase mais comum do que um cantor. Algumas bandas lideradas por mulheres não têm nada musical em comum... o que é que os Arch Enemy têm em comum com os The Gathering? Nada! É muito fixe estar tudo misturado, porque basta fazer algo bom que as pessoas vão gostar!


M.I. - Sim, concordo totalmente! Quando a banda começou, imaginaste que ainda estarias aqui depois de 31 anos?

Bem, para ser honesto, já estamos por cá há 34 anos. O tempo voa! Os Therion são a minha primeira e única banda, isso é único, porque normalmente começas uma banda, não dá certo, arranjas outra e outra até, finalmente, arranjares uma boa. Mas os Therion são a minha primeira banda! Eu comecei a tocar baixo três meses antes de formar os Therion. Comecei como baixista e mudei para guitarra um ano depois. Basicamente, éramos amadores, o guitarrista tocava guitarra há um ano, e o baterista, que era da minha turma na escola, nem gostava de metal, mas tocava bem, era o único que conhecíamos que tocava bateria, e forçamo-lo a entrar na banda, apesar de ele não gostar da música. Sim, éramos basicamente dois amadores e um baterista contrariado e a nossa primeira ambição era escrever músicas. O próximo objetivo era fazer uma demo da nossa música, para que a pudéssemos ouvir, mostrar a outras pessoas e tocar ao vivo. Tínhamos objetivos muito pequenos, claro que sonhávamos em poder vir a viver de música, mas era um sonho realmente rebuscado. É como quando és criança e sonhas ser astronauta e ir ao espaço, é um sonho, mas realmente não achas que vai acontecer, não é? Cada vez que atingíamos um objetivo, tínhamos um novo objetivo, e, depois de fazer uma demo, pensamos que talvez pudéssemos conseguir um contrato com uma editora. Depois, assim que o conseguíssemos, em vez de apenas fazer concertos locais, queríamos fazer uma pequena tournée. Aos poucos, começas a sonhar em talvez viver da música, mas foi uma estrada muito longa. Antes de fazermos “Theli” em 96, não tínhamos dinheiro nenhum, não vendíamos nenhum disco, éramos uma banda underground, e é claro que tínhamos problemas de orçamento, porque se não vendes discos, a editora não te vai dar um grande orçamento. Eles não vão dar dinheiro a uma banda que perde dinheiro, e isso foi uma grande frustração, porque eu não podia fazer o que queria. Outra frustração era que eu estava a envelhecer e, se aos 20 moras com a mãe e o pai, tens um contrato com uma editora, queres algum dinheiro, comes a comida da mãe e não pagas renda, está tudo bem. Mas, em 92, eu saí de casa e tive que começar a pagar a minha renda e comida. De 92 a 96, vivia sempre de mês a mês, cada vez que pagava a renda, nem fazia ideia de como a iria pagar no mês seguinte... eu resolvia isso mês a mês, não tinha como pagar um carro obviamente, não tinha dinheiro para transporte público, e tinha de viajar ilegalmente. Quando chegas perto dos trinta, já não é tão divertido, e quando “Theli” começou a vender, foi realmente um salva-vidas, porque aí eu já pude começar a pagar as minhas contas como as pessoas normais e até comprar um carro. O meu primeiro carro custou 760 euros… era um BMW 316 muito antigo de 1981, que comprei ao baixista dos Morgoth na Alemanha. Tínhamos acabado de arranjar um empresário e eu tinha, finalmente, recebido um cheque e disse “Vou comprar um carro agora”. Enfim, eu tinha equipamento, precisava de me deslocar para a sala de ensaios e levar o equipamento no transporte público era uma chatice, por isso ter um carro era muito bom. Decidi comprá-lo na Alemanha e conduzi até à Suécia, porque eles tinham acabado de entrar na UE, e era possível importar carros de outros países. Essa foi a primeira vez que conduzi internacionalmente com o meu carro barato! Para ser honesto, tive sorte de o carro ter conseguido chegar à Suécia.


M.I. - Christofer, és o único membro que está na banda desde o início... Quem são atualmente os membros de Therion?

Eu; o Thomas; a Lori ainda é mas é apenas um membro de estúdio, porque desistiu de fazer tournées; Nalle, o baixista, é a mesma coisa. Por motivos de saúde ele desistiu de fazer tournée, mas teremos um baixista ao vivo; e Christian Vidal, o guitarrista, é um membro permanente... e estes somos nós! 
O resto são pessoas contratadas, por isso temos pessoas diferentes ao vivo e pessoas diferentes no álbum. É uma grande liberdade, na verdade, não ter membros permanentes, podes sempre colorir as músicas dos discos de forma diferente com pessoas diferentes. Não temos baterista de momento, embora no álbum tenhamos dois bateristas: Snowy Shaw que tocou cinco músicas e Björn Höglund que tocou seis, mas não sabemos quem vai tocar ao vivo. Estamos a tentar persuadir o Björn a entrar em ação... vamos ver se seremos bem sucedidos, caso contrário, teremos outro baterista ao vivo. Costumávamos ter o Sami Karpinnen, mas ele fez algumas escolhas, são sempre escolhas económicas, ele é técnico de bateria, e é um dos melhores do planeta, portanto é muito bem pago como técnico e ganha mais dinheiro sendo técnico do que a tocar e ele é o técnico favorito dos Opeth. Eles são tão dependentes dele que lhe pagam o dobro. Ele já era bem pago, e agora ganha mais do dobro por concerto sendo técnico deles do que tocando com os Therion. 
É o seguinte: as pessoas que trabalham neste negócio não recebem pensão, porque muitas vezes não pagam impostos, pois trabalham internacionalmente. Eu sempre tive uma empresa, e faço tudo legalmente, mas a maioria das pessoas pega no dinheiro e não o declara, quando começam a chegar perto dos 50, começam a entrar em pânico e pensam que precisam de começar a poupar. Era isso que acontecia com a Lori também! Mesmo em Portugal, o vosso estado social não é comparável à Escandinávia, mas o estado vai cuidar de vocês. Vocês pagam impostos ao sistema, e vão receber uma pensão, têm direito a cuidados de saúde, ninguém vos vai deixar apodrecer, vocês não têm que viver debaixo de uma ponte se não tiverem dinheiro...


M.I. - É, mas o estado já anda a avisar que não sabe se, daqui a 20 anos, ainda vamos receber pensão. Eles dizem que não sabem o que o futuro reserva, e isso é um pouco assustador. Sim, temos saúde gratuita, educação gratuita, temos isso, mas...

Sim, nos EUA, se não tens dinheiro, tem que comer do caixote de lixo e morar em baixo de uma ponte. A Lori teve uma espécie dos crise de 40 anos, porque quando fez 40 percebeu “Não tenho pensão, não tenho nada, estou a envelhecer”. Em seguida, foi-lhe oferecido um emprego em que receberia todos os benefícios, o que significa que receberia assistência médica paga pelo empregador e uma pensão, e ela teve que tomar uma decisão difícil. Não foi divertido, mas eu entendi-a, ela sente falta das tournées e nós sentimos falta dela, mas o que podemos fazer? Estas são realidades, infelizmente. Estou muito voltado para os negócios e penso sempre a longo prazo. Por exemplo, com os tipos da minha banda, quando fazemos um álbum, eu pago-lhes uma quantia em dinheiro imediatamente e fico dono do álbum. Eles querem assim, querem o dinheiro no momento, não querem esperar, querem saber exatamente quanto vão ganhar e querem-no imediatamente. Eu compro-os sempre, fico com o disco e, dali a 10 anos, ganho dinheiro com isso. Historicamente, comprei sempre os tipos, quando apareceu o covid, o momento não poderia ter sido melhor! Recuperei os direitos do catálogo anterior da Nuclear Blast no dia um de Janeiro de 2020, o que significa que de cada vez que alguém ouve ou faz download de uma música na Internet, recebo cem por cento... portanto tenho um renda mensal de streaming, com a qual posso viver confortavelmente. Não tenho que trabalhar o resto da minha vida se não quiser, por isso este acabou por ser um investimento muito inteligente que fiz no passado. É melhor tomar boas decisões a longo prazo, fazer investimentos, se acreditas em ti mesmo, na tua música e na tua carreira, não gastes o dinheiro todo e isso realmente valeu a pena. Quando ganhei muito dinheiro nos anos 90, quando o álbum “Vovin” vendeu 150.000 cópias... na verdade, o álbum “Vovin” era o meu álbum a solo, era só eu e músicos de estúdio... eu ganhei muito dinheiro e, em vez de comprar um carro desportivo ou algo assim, economizava porque não sabia quanto tempo isto iria durar, aprendi com os anos difíceis antes, e comprei ações, investi no mercado de ações. Quando a Apple lançou o iPhone, eu investi tudo o que tinha, porque pensei que seria uma revolução... se pedes a alguém para fazer investimentos, eles dizem para não usar tudo numa empresa só, mas não neste caso... era como se a empresa não fosse afundar de jeito nenhum, eles são donos do mercado dos Ipod, e mesmo que o Iphone fosse um pequeno sucesso, o preço da ação iria subir com certeza. Isto foi uma grande revolução, e ganhei mais dinheiro com a Apple do que com a música. Quando me tornei pai, achei que era um bom momento para fazer um investimento seguro, e construí uma enorme villa, chamada Villa Adulruna, e um estúdio na Suécia, que tive durante 10 anos e, agora, que o meu filho está mais velho, decidi mudar-me para Malta porque a Suécia é um país que se está a afundar. Eu vendi o que tinha e fiz alguns investimentos novamente, ganhei mais dinheiro, e agora compro imóveis. Acho que se quiseres ter um futuro seguro como músico, precisas de ter uma mente empresarial também, não basta beber cerveja!


M.I. - O 17º álbum de estúdio dos Therion, "Leviathan", foi lançado há algumas semanas. Como têm sido as reações até agora?

Acho que há menos reclamações do que o normal. Se vires um arquivo da internet antes das redes sociais, já havia fóruns e, sempre que os Therion lançavam um novo álbum, havia muitas reclamações tipo “o novo álbum é uma seca, os Therion perderam a alma, por quê sueco, por que têm letras em sueco, eu não entendo sueco, é burro e estúpido e blá blá blá e sinto-me tão mal e dói-me o c*”... se leres os comentários de cada lançamento dos Therion, pensarias que nunca fizemos um álbum bem sucedido.
Eu diria que a quantidade de reclamações é realmente muito pequena e muito previsível porque podes controlar as emoções das pessoas. Se eu tivesse dito “oh, nós vamos voltar às raízes com este álbum porque eu tenho uma visão de culto ou qualquer outra coisa” as pessoas diriam “sim, é tão fixe voltar”... é tão fácil manipular as pessoas . Só porque dizes "Ok, agora vamos dar aos fãs o que eles querem", há pessoas que não se conseguem conter, é como o síndrome de Tourette, elas precisam de dizer algo negativo sobre isso... a internet é tão impessoal, e as pessoas podem escrever coisas rudes ou estúpidas. Se estiveres num bar e dizes algo assim, as pessoas dão-te um murro. Ninguém se atreveria a dizer isso na minha cara, é assim mesmo, é assim que a internet é, as pessoas são muito mal-educadas e, as pessoas que têm uma opinião negativa, têm mais probabilidade de expressá-la do que as pessoas que têm uma opinião positiva.
O nosso álbum francês teve 60 comentários negativos, mas se vires no Spotify, a música mais tocada dos Therion é “Mon amour, mon ami” com quase três milhões de streams, é mais popular do que qualquer outra música que eu escrevi. Temos mais de 10 milhões de streams do álbum inteiro. Mas se leres os comentários, pensarias que foi a pior ideia que o cérebro humano já teve dentro da cena do metal, fazer um álbum feminino francês dos anos 60... mas ganhei muito dinheiro com esse álbum, que se me mudar para um país pobre e barato, poderia ganhar a vida apenas com as vendas digitais. Não se pode simplesmente julgar pelo que as pessoas dizem na internet, sabes? Não significa nada, vê as vendas de discos, vê se as pessoas fazem stream ou download, isso é o que importa, vê se as pessoas vão aos concertos, isso é o que importa.


M.I. - Este é um álbum de heavy metal com 45 minutos de temas dos Therion sem história ou tema central. Por que optaram por fazer assim agora? Foi complicado ou fácil dar aos fãs o que eles pediram?

Queríamos fazer um álbum de sucesso dos Therion que soasse clássico porque, depois de “Beloved Antichrist”, eu senti que não havia mais nada a fazer, fiz tudo o que sonhei... e agora? E percebemos que a única coisa que não tínhamos feito era tentar agradar aos fãs e, honestamente, é muito fácil se fores muito artístico, mas na verdade é um desafio. Foi um grande desafio fazer algo que nunca fizemos antes e os Therion sempre funcionaram melhor quando estão “entre a espada e a parede”, a tentar algo novo e com o desafio de que algo poderia não correr bem.
No começo, foi realmente muito difícil, foi um processo muito lento mas, de repente, escrevemos mais de 40 músicas. Não queríamos copiar nenhum álbum antigo nem nenhuma música específica, mas tentei ouvir as músicas mais famosas e descobrir: “Qual é o segredo? Por que é que estas músicas são as mais populares?”. Porque, musicalmente, elas não têm nada em comum. Não somos muito fãs do Spotify, a maioria dos nossos fãs ainda compra CDs, mas o Spotify é uma forma de medir o que as pessoas realmente ouvem, lá tem estatísticas. Quantas vezes alguém ouviu aquela música?! Pode ver-se a popularidade de um tema, e, quando comparamos as músicas mais populares, percebi que são tão diferentes umas das outras que poderiam ter sido escritas por bandas diferentes. “Rise of Sodom” e “Birth of Venus” realmente não têm nada em comum, musicalmente são muito diferentes uma da outra. Eu tentei pegar na “vibe”, na quintessência da música, apenas tentei inspirar-me na atmosfera das músicas mais populares e escrever novas músicas. Bem, temos que deixar os fãs julgarem se tivemos sucesso ou não. Mas qual é a nossa intenção? Ter canções de sucesso.


M.I. - Acho que conseguiram! O novo álbum é incrível! Vocês escreveram tantas músicas que vão lançar o Leviathan 2 e Leviathan 3, certo? Conseguiram captar a sensação do som dos Therion nos anos 90 e até a capa faz lembrar os primeiros álbuns.

Fico feliz em saber! Temos material suficiente para três álbuns. A ideia é que possamos agradar à maioria dos fãs com pelo menos um dos álbuns. Cada vez que lançamos um novo álbum, é claro, olhamos um pouco à nossa volta, vemos reações e comentários e algumas pessoas pensam seriamente que devemos voltar a tocar death metal. Essas pessoas vão morrer dececionadas! Esperamos que pelo menos todos encontrem um destes álbuns com que se identifiquem! O Leviathan 2 será mais sombrio e melancólico. O Leviathan 3 será muito diverso, terá músicas mais aventureiras, experimentais e algumas coisas mais pesadas, algumas coisas folk. Esperamos que todos encontrem um Leviathan que lhes agrade!


M.I. – O Thomas escreveu muitas letras deste álbum e “Ten Courts of Diyu” é inspirado nas lendas chinesas; “Tuonela” com o Marko Hietala é sobre a mitologia finlandesa... em que mais é que as letras se focam?

“The Leaf on the Oak of Far” fala do deus celta Camulus. “Leviathan” é sobre a deusa alemã Nertos e “Nocturnal Light” é sobre uma deusa suméria Algol, que é uma estrela frequentemente chamada de estrela demoníaca. “Tem Courts of Diyu” são os dez estágios do inferno na mitologia budista chinesa e “El Primer Sol” é uma continuação da canção “Quetzalcóatl”. Desta vez, escrevemos sobre o antagonista de Quetzalcoatl na mitologia asteca, por isso são regularmente diferentes mitologias e sistemas esotéricos de todo o mundo.


M.I. - Este álbum foi um processo multicultural já que vocês gravaram os instrumentos e vozes em diferentes países, já que o vírus obrigou a banda a adotar uma forma diferente de fazer as coisas... quão desafiador foi?

Bem, existem sempre dois lados de uma moeda. Por um lado, era muito demorado para eles e muito caro para mim! Normalmente, eu tenho o meu próprio estúdio, e se perdermos mais um ou dois dias no estúdio, não faz diferença, porque é meu. Desta vez, tivemos que alugar estúdios comerciais e se perdermos muito tempo, tenho que pagar por cada hora, e fica caro. Costumo ter uma visão do que quero, mas, na realidade, nem sempre se manifesta da maneira que imaginei. Isso significa que eu tenho que apagar takes que estão no estilo errado. Mas do modo como trabalhamos agora, eu mandei demos e instruções para todos reservarem um estúdio comercial e eles foram lá e passaram lá meio dia ou um dia inteiro a gravar de acordo com as minhas instruções. Depois eles mandavam-me as demos e, às vezes, eu dizia que não era aquilo que eu queria. No final, teve que se reservar um estúdio novamente e refazer o que estava mal, e é muito frustrante para eles gastarem tempo e energia para fazer as coisas perfeitas no estilo que eu quero. Também é muito caro para mim ter que pagar estúdios o tempo todo. Com a bateria, por exemplo, gravamos primeiro com o Snowy Shaw e depois, seis das músicas do álbum, foram regravadas pelo Bjorn, porque eu ouvi tudo junto e eu senti que algumas dessas músicas estavam monótonas. Portanto, tomei a difícil e cara decisão de contratar outro baterista e regravamos seis das músicas. Isso significa que eu também tive que regravar o baixo e a guitarra. Tive de pagar às pessoas de novo, por isso ficou muito caro trabalhar desta forma. Se eu estivesse sentado lá a gravar a bateria, talvez tivesse percebido isso antes, e essa é a desvantagem disto.
Há dois lados positivos: um é que posso fazer várias coisas ao mesmo tempo. Gravei o Hammond Organ na Suécia ao mesmo tempo que o violino era gravado na Alemanha e o Christian Vidal gravava guitarras na Argentina... isso é uma coisa boa e também os meus ouvidos e mente estão frescos porque, quando fazemos uma gravação regular, tenho que ouvir todos os instrumentos o tempo todo. Depois tenho que fazer a mistura com alguém. Assim que terminamos a mistura, temos a masterização e, quando a terminamos, não quero ouvir a palavra estúdio por mais dois anos. Isso deixa-me doente, sabes? Mas desta vez eu apenas pegava nas demos e, às vezes, mandava regravar, mas foi um trabalho muito fácil comparado ao que normalmente é. Assim que completamos a mistura e a masterização, eu pensei “Vamos fazer outro álbum! Já temos as músicas, vamos continuar a gravar!”. Já gravamos a maior parte do material do Leviathan 2 e até gravamos toda a bateria do Leviathan 3. Gosto de trabalhar desta forma, especialmente depois do “Beloved Antichrist”, onde gravamos três álbuns e tive que estar lá o tempo todo. Podes imaginar como alguém se sente depois de ouvir gravações de bateria para três álbuns? Gravamos 18 guitarras, sempre que ouves um acorde de guitarra em “Beloved Antichrist”, são 18 guitarras a fazer esse acorde, e gravamos aquela quantidade de guitarras para três álbuns, quer dizer, eu estava quase a cometer suicídio depois da gravação da guitarra. Por isso, depois de “Beloved Antichrist”, gravar apenas um álbum normal foi quase como tirar férias. Não vai ser problema terminar o segundo álbum e, logo a seguir, o terceiro. Será uma situação única onde teremos os álbuns finalizados prontos para serem lançados quando quisermos, e o plano é lançar um álbum por ano.


M.I. - Agora que as tournées estão canceladas, como planeiam promover “Leviathan”? Por eventos de transmissão ao vivo?

O ano passado foi o primeiro ano, desde que a banda começou, em que não fizemos nenhum concerto, e foi estranho. Ninguém tem certeza de nada. Além disso, países diferentes têm restrições diferentes, por isso é muito difícil planear uma tournée. Digamos que eles retiram as restrições em Portugal e em Espanha, mas há restrições em França, precisamos de passar pela França para chegar a Espanha e Portugal, por isso pode ser muito difícil fazer uma tour. Cada vez mais as tournées programadas para este outono estão a ser adiadas para 2022. Temos algumas ofertas para o outono, mas ninguém sabe se vão acontecer. 
A primeira estratégia é tentarmo-nos juntar a outra banda, e em vez de fazermos duas tournées, fazemos tournée juntos. Todo o ecossistema em torno da indústria da música entrou em colapso! Há muitas salas de concertos que estão a desaparecer, há agentes com problemas financeiros, técnicos de palco que precisam de aceitar outros empregos para poderem alimentar as suas famílias e pagar as hipotecas. Tudo será difícil de conseguir. As empresas de autocarros estão a falir e pode ser difícil encontrar um autocarro para a tournée. Também as empresas de merchandising... quando eu queria imprimir T-shirts, enviei um e-mail para uma empresa com a qual trabalho há muitos anos e não obtive resposta porque eles já não existem. Tive que comprar as T-shirts através da Nuclear Blast, porque eles são a maior editora independente da Europa e têm uma loja online muito grande, na qual vendem muitas T-shirts. Para eles, é mais fácil conseguir alguém e ninguém não quer perder a Nuclear Blast como cliente, portanto eles têm prioridade. Mesmo com a Nuclear Blast, as T-shirts não conseguiram a tempo, chegaram seis dias depois do lançamento. Imagina quando formos em tournée, teremos de planear com bastante antecedência para termos T-shirts a tempo. 
Se não pudermos fazer uma tournée com outra banda, a estratégia número dois é apenas esperar e fazer a tournée depois de tudo voltar ao normal. Se muitas empresas de autocarro vão à falência, as poucas que ainda os têm podem cobrar um rim por eles... e eu não quero vender os meus órgãos para conseguir um velho autocarro! Receberemos menos dinheiro dos promotores porque, uma vez que os espaços de concertos perderam muito dinheiro, ficarão mais caros, e o promotor terá que pagar mais por esses espaços, porque também é muito incerto para eles. Não sabem se as pessoas estão ansiosas e vão a correr comprar bilhetes ou se as pessoas vão ficar com medo de apanhar o corona vírus e morrer cinco minutos depois do concerto. Esta cena toda foi exagerada demais e algumas pessoas pensam que é o apocalipse, temem pelas suas vidas!
Também se trata de obter lucro suficiente. Eu não quero ir em tournée por um mês e pagar por isso. Adoro tocar música, mas este é o meu trabalho, preciso de receber alguma coisa. Há muitos fatores incertos aqui. Se for pago o suficiente para ter um orçamento que funcione, até podemos partilhar coisas. Eu sou um pouco old-school, e partilharia autocarro com outras bandas, sem problemas! Não somos estrelas do rock, somos pessoas realmente simples, e podemos partilhar os técnicos também. Normalmente os técnicos não gostam disso porque são muitas bandas para trabalhar, mas eles entendem que estas são circunstâncias especiais e vão ganhar mais dinheiro com isso. Mas se não for feito de forma profissional, prefiro ficar à espera que as coisas voltem ao normal. Nós não fazemos tournées todos os anos. Lançamos “Les Fleurs du Mal” em 2012 e fizemos uma tournée, mesmo sendo um álbum de covers, e não fizemos nada até 2018. Portanto, se demorar alguns anos para fazer a tournée deste álbum, não é o fim do mundo.


M.I. - Portugal não tem sido um lugar de boas memórias de tournée para vocês. Em 2013, quando tocaram no Lisbon Dark Fest, os organizadores roubaram a banda. Mas os Therion voltaram depois disso e espero que a imagem de Portugal e dos fãs não tenha ficado prejudicada!

Sim, lembro-me disso! Foi a única vez que tivemos um caso criminal, porque eles falsificaram documentos bancários. Normalmente, quando se tem um novo promotor, é um pouco como “Vocês dão-nos dinheiro com uma mão, nós damos o concerto com a outra”. Ao mesmo tempo, a menos que tenhas recebido o depósito integral, não entras no avião. O nosso agente de reservas disse-lhes “Olhem, vocês precisam de seguir o contrato e, se não pagarem o depósito final, a banda não virá”. Então, um dia antes do voo, nem sabíamos se iríamos tocar. Eles enviaram um papel do banco que atestava a transferência... ok, o dinheiro não estava na conta, mas nós vimos o papel, confiamos nele e acabou por ser falso. Normalmente, esperamos que chegue o dinheiro e não o papel, e isso mostra porque não se deve fazer isto, porque algumas pessoas são criminosas. Não fomos totalmente pagos por aquele concerto! Estas coisas acontecem, mas se tens alguém com quem trabalhas há muito tempo... não tem nada a ver com países. As pessoas dizem que em alguns países é pior do que noutros. Em geral, confio mais num promotor da Suíça do que do Brasil, com certeza. Mas tem a ver com a pessoa! O Carlos com quem trabalho no México... ora, o México é um dos países piores em termos de esquemas monetários do planeta mas, apesar de tudo, trabalhamos com ele há tantos anos, que já nem assinamos contrato, apenas escrevemos um e-mail. É como um aperto de mão por e-mail! Nós somos pagos depois dos concertos porque sabemos que funciona e todas as bandas recorrem a ele. Portanto, não tem nada a ver com o país, tem a ver com as pessoas. Se for algo grande como o Wacken, eles têm o maior festival do planeta, eles pagam-te. No Wacken, tocas e mandas a fatura depois, é normal. Mas em concertos mais pequenos e especialmente com alguém com quem não tens um relacionamento de longa data, és sempre 100% pago primeiro ou então a banda não vai. Parece duro, mas é por um bom motivo e também é melhor para os fãs. Existem tantos casos com promotores que tentam culpar as bandas dizendo “Oh, eles são estrelas do rock, não querem aparecer” e assim por diante. Se comprares um bilhete de cinema, eles vão passar o filme, e é assim que deve ser.


M.I. - Ora, és o mentor dos Therion… qual o ponto mais alto da carreira da banda até agora?

Costumo dizer que existem três pontos realmente altos! O primeiro foi em 1989, quando éramos uma banda bem underground de death metal, e se fizessemos um concerto, estariam lá umas 40/50 pessoas, não importa a que hora tocassemos. Em Estocolmo havia basicamente 50/60 pessoas que curtiam death metal e eu conhecia-os a todos. Quando alguém comprava uma demo ou T-shirt, comprava diretamente à banda. Ou então comprava-se na loja de discos House of Kicks, que era a única que vendia death metal. Lembro-me que, um dia, vi um tipo que não conhecia que tinha uma T-shirt dos Therion e foi um sentimento muito especial. Trocávamos demos e vendíamos T-shirts para pessoas de todo o mundo, que nem conhecias pessoalmente, mas escreviam-se cartas e alguém mandava dinheiro num envelope e comprava uma T-shirt da tua banda, era tipo um contrato! Mas foi uma sensação incrível ver alguém na cidade com a T-shirt de Therion… ainda me lembro disso hoje.
E, é claro, quando lançamos “Theli”, eu era tão pobre e, de repente, resolver minha situação financeira privada e também conseguir um orçamento adequado para a banda, mudou tudo. Eu não estava acostumado a isso. Cada disco vendia um pouco mais do que o anterior e recebíamos boas críticas... todas diziam que os Therion eram inovadores, tão fixes, tão especiais, mas não alcançávamos muitas pessoas. Um dia, pensei “Não seja estúpido, Christofer! Sabes que fazes disco após disco, mas não vai vender! ”. Por isso, planeei uma banda diferente, pensei em abandonar os Therion, e queria formar uma banda dos anos 70, porque é mais barato de gravar e eu gostava realmente do estilo dos anos 70. Eu ia chamar a banda de “Theli”, mas o chefe da Nuclear Blast, por algum milagre de Satanás ou o que seja, deu-me um orçamento para fazer o álbum, e dei-lhe o título de “Theli”. Mas o meu cérebro disse-me “Isto não vai vender”, porque nós não vendíamos, éramos muito estranhos, e “Theli” era mais estranho ainda e as pessoas diziam “Que porra é esta ?! Ópera? É ridículo! Peguem neste disco estúpido e enfiem-no no c*”. Então, de repente, começou a vender. Eles ligaram-me depois de duas semanas a dizer “Ei, o álbum está muito bem, vendemos 20.000 cópias e todos os dias há milhares de cópias a ser vendidas!”. Eu não estava em casa quando ligaram, e ficou gravado no meu atendedor de chamadas... ainda tenho aquela fita em algum lugar. É uma sensação realmente notável que, depois de todos esses anos, finalmente, estava a ser compreendido. Não se trata apenas de dinheiro! Claro, mudou tudo, poder pagar as contas como uma pessoa normal e comer comida normal. Mas também obter algum reconhecimento! Na verdade, com “Theli” recebemos muitas críticas negativas, mas a crítica mais idiota que já recebemos foi duma revista hardcore que, por algum motivo, decidiu dizer que era o pior álbum que eles já tinham ouvido e que os Therion deveriam descer do pedestal... que pedestal?! Acabamos de fazer um álbum, nunca dissemos que éramos melhores do que ninguém. Depois disso, eu pegaria tudo, tínhamos um grande orçamento em nosso contrato, mas eu tinha mais dinheiro do que gostaria. Para “Gothic Kabbalah”, eu disse “Ei, nós temos 15 músicas, podemos ter 25 e mais dinheiro, e fazer um álbum duplo?”. Eles concordaram. E, quando fizemos “Beloved Antichrist”, mesmo que as nossas vendas tivessem caído um pouco, não fazíamos um álbum há muito tempo, fizemos um álbum de covers maluco, não era realmente o momento certo para pedir mais dinheiro e eu disse “Ei, nós queremos fazer um musical de rock”... é muito difícil vender uma banda sonora de um musical de rock que ainda não foi encenado. Eu apenas disse "Podemos ter o dobro do dinheiro?" Se eles tivessem dito "Sabes, Christofer desta vez foste longe demais, adeus!" e desligassem o telefone... eu entenderia! E ligaria de volta a dizer “sim, ok, entendi, desculpem!”. Mas eles apenas disseram “ok, confiamos em ti, fazes sempre cenas fixes, aqui tens o dinheiro!”. Estamos na melhor editora do planeta e eles confiarem em nós... temos o maior orçamento da história da editora, e para uma banda que vendeu tão mal e teve a sorte de não ser dispensada da editora, é inédito! Este momento é de longe o mais importante.
Mas, pessoalmente, para mim, o momento mais especial foi em 2018, quando tocamos em Moscovo no Dia Nacional do Espaço. Eles decidiram transmitir parte do nosso concerto para a estação espacial internacional! E para realmente perceber o que isso significa para mim, tenho de vos contar um pouco do meu passado nos anos 80... Não sei como era em Portugal mas, na Suécia, quem ouvia metal era considerado um idiota, diziam que “metal não é música real, apenas barulho, é um bando de macacos aos gritos, o metal é artística e culturalmente inútil e todos que ouvem essa música são inúteis e burros, quando crescerem, irão carregar caixas num armazém ou virar hambúrgueres no Macdonald's ou limpar o chão, esse é o vosso futuro, porque a vossa cabeça está vazia por ouvirem essa merda”. No início, tive uma pequena vitória em 2009, quando construí uma enorme mansão. Faltava um pouco de dinheiro para construí-la. Liguei para o maior banco de negócios da Suécia para pedir um empréstimo e descobri que o chefe regional do maior banco de negócios da Escandinávia era na verdade um fã dos Therion. Portanto, alguns dos macacos de cabeça vazia saíram-se muito bem na vida! Mas ter metal transmitido para o espaço porque alguém que é astronauta é metaleiro... com a minha experiência, é simplesmente inédito! Que um astronauta seja metaleiro seria impensável mas transmitirem um concerto de metal para o espaço já era demais! Isso nunca vai acontecer! Mas, o facto de ter acontecido e terem escolhido os Therion, de todas as bandas, não consigo descrever o quanto isso significou para mim pessoalmente. Nunca fico nervoso. Bem, quando tocamos com uma orquestra, eu estava um pouco nervoso, porque havia muito dinheiro investido nessa produção... Estava mais nervoso com medo que a orquestra fizesse asneiras, mas, para este concerto, foi tipo “Se eu tocar um acorde mal, vai ser transmitido para o espaço, é melhor não falhar!”. Talvez não estivesse nervoso, mas estava sob pressão, focado no que estava a tocar. Assim sendo, o que mais posso desejar?! Nada!


M.I. - Bem, “Theli” completa 25 anos este ano. Pensaram numa celebração especial?

De certa forma, se há algum disco que devemos comemorar, deve ser “Theli” pelos motivos que te falei. Mas nós temos tantos discos, estaríamos constante em celebração, mas não faremos nada para a maioria dos álbuns. Talvez vá relançar “Theli” porque sou o dono dele agora, mas uma versão gold seria bom. Sim, talvez faça isso Lancei o álbum a solo da Lori Lewis em maio e foi tão problemático que, no final, simplesmente lançámos o álbum, praticamente sem promoção, nada funcionava, os aeroportos estavam fechados, não pudemos enviar cópias para revistas, nada, estava tudo parado... por isso pensamos: “Vamos esperar com os álbuns dos Therion”, porque nem pudemos enviar o álbum a solo da Lori Lewis a tempo para o lançamento em todas as lojas e a maioria das lojas nem estavam abertas... foi o caos!


M.I. - Muito obrigado por responderes às nossas perguntas. Espero ver os Therion ao vivo em Portugal em breve! Por favor, partilha uma mensagem final com os nossos leitores, Christofer!

Bem, mais cedo ou mais tarde esta m*rda vai acabar e estamos ansiosos para fazer uma tournée, será um prazer ver-vos lá! Muito obrigado!

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Entrevista por Sónia Fonseca