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Reportagem: Mata-Ratos, Booby Trap, Artigo 21, Deadly Mind, Contrasenso e Centopeia @ RCA, Club, Lisboa – 17.12.2022



Um verdadeiro tributo aquele que aconteceu esta noite. Verdadeira homenagem feita por grandes bandas nacionais aos Mata-Ratos, que celebravam 40 anos de carreira ao serviço da música punk e que encerravam aqui uma série de concertos que têm vindo a realizar como forma de celebração dessa incrível marca atingida. Para além disso, esta noite era disponibilizado também o segundo volume de Covers, Cu & Mamas, O Tributo Ideal, desta vez um duplo cd onde participam mais de trinta bandas, algumas delas presentes em palco no concerto desta noite.

Os Centopeia foram uma delas. Primeiros a entrar em cena, encontraram a sala ainda um pouco despida, mas com uma assistência que logo deu a entender ao que vinha. Era noite de festa e ela havia começado. “October 7th” deu início a uma atuação que teve tanto de curta, como de rija, sempre em elevada rotação. O tema dos Mata-Ratos não podia faltar e este intitulava-se “Os Mortos Também Dançam”.


Seguiram-se os Contrasenso que optaram por dividir a sua atuação em dois momentos: o primeiro, composto pelos seus originais, “Cabeça Erguida”, “Um Segundo” e “Reviravolta”. O segundo dedicado a bandas que os influenciaram, tais como os Black Flag, Circle Jerks e claro, os Mata Ratos. “Wild in the Streets”, que antecedeu “Expulsos do Bar”, proporcionou uma ponta final “em grande”, para os Contrasenso.



Conforme a noite ia avançando e mais publico ia entrando, também o ambiente dentro do RCA ia melhorando, beneficiando com a sua chegada. Quando os Deadly Mind começaram a sua atuação às 21h30 já a sala estava muito bem composta. O seu hardcore cantado por dois vocalistas continua a fazer render o álbum Recognize the Threat, que forneceu os temas para mais esta atuação, onde não podia faltar também “Vozes de Raiva”, o seu contributo para o álbum de covers desta noite.



Seguiram-se os Artigo 21 e com eles, Daniel Hipólito, que subia ao palco pela segunda vez. Depois de assegurar uma das vozes e uma das guitarras nos Contrasenso, apresentou-se agora atrás da bateria e… com menos roupa. Punk rock cantado em português com refrões que ficam no ouvido e que levam a que o público participe, parece ser a receita do sucesso desta banda que tocou temas como “Só Mais Um Bocado” e “Ilusão”. Os Artigo 21 não têm 40 anos de existência, mas têm 20, o que é suficiente para terem também as suas “malhas”. “Inocente O Doente” foi o tema que gravaram para o cd tributo aos Mata-Ratos e, obviamente, o escolhido para interpretarem nesta noite e encerrarem a sua atuação de 30 minutos. 

Antes de os senhores desta noite, os Mata-Ratos, subirem ao palco, houve tempo ainda para os Booby Trap. A banda de Aveiro foi a última a atuar antes dos homenageados e esteve muito bem. O seu crossover foi muito bem recebido e o stage dive e moshpit que tinha vindo a subir de intensidade ao longo da noite refletiu isso mesmo durante a sua atuação. O tema dos Mata-Ratos escolhido pelos Booby Trap foi o velhinho “Rock Radioactivo” que foi inserido na ponta final, juntamente com outros dois cantados em português e onde se incluía “O Bom, O Mau e O F.D.P.”, que encerrou a sua atuação.

Chegou então a vez dos Mata-Ratos e ao celebrarem 40 anos de carreira, talvez o mais difícil seja mesmo selecionar uns tantos temas capazes de representar essas quatro décadas. São tantos álbuns, tantas músicas, mas “Napalm na Rua Sésamo” foi uma boa escolha para o pontapé de saída, faltavam 15 minutos para a meia-noite. O ambiente era de loucura e assim continuou durante mais de uma hora, tempo de atuação da banda que fez uma fiel retrospetiva à sua carreira. Miguel Newton continua a ser o homem do leme, com a sua imagem de marca, partilhando sempre o seu microfone com o publico que não se faz rogado e o usa para cantar temas que, certamente, os acompanharam em fazes da sua vida. “Outra Rodada” e “C.C.M” lembraram que a banda é sinónimo de festa e boa disposição, mas “Vozes de Raiva” e “Deus, Pátria e Família” recordam também que a critica social sempre esteve presente nas letras das suas músicas. Rock Radioactivo, primeiro álbum da banda, foi bastantes vezes visitado e a cada vez que isso acontecia notava-se o saudosismo de quem assistia a essa viagem ao passado. Dele saíram malhas que marcaram uma geração e ela estava ali bem representada, ao lado de outras mais novas para quem a música dos Mata-Ratos ainda tem algo a dizer. “Leis de Merda” é um dos temas que não podem faltar e logo de seguida foi altura de convidar Alberto, o baterista do álbum Expulsos do Bar, para vir tocar a música “Xu-Pá-Ki”, que encerrou a noite.

A palavra “tributo” parece ter recuperado aqui o seu real valor: sala cheia; presença da banda homenageada; as que prestaram esse tributo, com mais, ou menos anos de carreira estão a construir o seu caminho alicerçado em composições originais e responderam afirmativamente à chamada, quando o motivo foi participar na festa que celebrava a majestosa data de 40 anos de atividade de um projeto musical, cujo feito é assinalável por raramente acontecer. Algo transversal às cinco bandas convidadas, para além do seu respeito pelos Mata-Ratos, foi o sentido agradecimento ao Emanuel da Hell Xis por tudo o que tem feito a favor da música nacional.


Texto por António Rodrigues
Fotografias por Tânia Fidalgo
Agradecimentos: HellXis