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Reportagem: Haken, Between the Buried and Me, Cryptodira @ LAV, Lisboa – 12.03.2023


Foram necessários mais de 15 anos para que os Haken visitassem o nosso país, mas quando decidiram fazê-lo, foi em dose dupla, com as cidade de Lisboa e Porto a serem naturalmente as contempladas. Convidados de respeito nesta Island in Limbo Tour, nada mais que os Between the Buried and Me (BTBAM) e os Cryptodira, que também se estreavam em terras lusas.

Ilustres desconhecidos para a grande maioria, não foi por isso que o LAV deixou de estar com uma boa casa logo ao arranque do concerto dos Cryptodira, eram 20h00 em ponto. Os apreciadores de metal progressivo são um público curioso e por essa razão estes americanos tiveram uma estreia de luxo em Portugal. Com dois álbuns de originais na sua curta carreira, a escolha para esta noite incidiu no mais recente, The Angel of History. “Dante´s Inspiration”, tema com que o quarteto iniciou a sua atuação, agarrou logo o público para não mais lhe dar descanso. Foram apenas 30 minutos, mas com muita entrega por parte de todos os elementos, principalmente dos dois guitarristas, que também se encarregavam das vocais.

Com mais de duas décadas de existência, os BTBAM regressaram a Portugal com o intuito de apresentar o seu mais recente “Colours II”. Se houvessem duvidas de que a banda é arrojada, temos aqui um bom exemplo disso mesmo: a coragem de dar continuidade a um álbum como Colours de 2007 que, para muitos, é uma obra-prima. Foi, no entanto, com “Extremophile Elite” que a banda arrancou com a sua atuação e logo se percebeu que iria ser algo de memorável. Não houve conversa com o público e quem não estivesse familiarizado com a música destes norte americanos poderia não perceber as passagens entre um e outro tema. Apresentando-se em formato quarteto, pois Dustie Waring não esteve presente, a banda teve de recorrer a gravações da sua guitarra ritmo. Os solos, esses, foram interpretados a vivo e a cores por Paul Waggoner e arrepiavam. Tommy Rogers também não parou um segundo, percorrendo sempre o palco com o seu microfone, provocando o público e conseguindo mesmo que se criasse um moshpit. Era inegável que muito do público presente compareceu a este concerto devido aos BTBAM. Dos temas mais recentes, destaque para “Never Seen/Future Shock” e “Bad Habits”, tendo sido, no entanto, “Voice of Trespass”, do anterior trabalho, a encerrar a sua atuação.

Os Haken são uma banda diferente das anteriores. Desde logo a sua sonoridade não é apenas metal progressivo, mas também rock, com um sem acabar de influências. O resultado só poderia ser algo estonteante, com muita cor e não apenas cinzento e negro. Tal como as camisas que os 6 membros envergavam, alusivas ao recente álbum “Fauna” e que pareciam havaianas. A banda londrina deu início ao seu espetáculo com o tema “Prosthetic”, do seu álbum Virus, trabalho esse que seria o mais visitado ao longo dos 80 minutos que durou a sua atuação. A sala do LAV, perto da sua lotação máxima, logo ficou rendida à sonoridade dos ingleses, pulando e cantando praticamente durante todos os temas. Ross Jennings deixou por diversas vezes o palco, sempre que a sua voz não era necessária, mas logo voltava para espevitar o público. O momento mais calmo deu-se com o tema “Lovebite”, o mais parecido que os Haken têm com uma canção de amor, segundo Ross, mas o final foi simplesmente de loucos. Recorrendo novamente ao álbum Virus, os Haken tocaram na integra as 5 partes que compõem o tema “Messiah Complex”. Não houve encore, mas houve a promessa de uma nova visita para breve.
Esta foi uma noite para quem gosta de sonoridades especiais. Para quem gosta de ser surpreendido pela nota seguinte, para quem gosta de bandas que estão tão afinadas e sincronizadas que roçam a perfeição. Esta foi uma noite assim.

Texto por António Rodrigues
Agradecimentos: Prime Artists