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Reportagem: Bad Religion, Agnostic Front, Strung Out, Trinta & Um, Belvedere e Crim @ Sala Tejo, Lisboa – 11.05.2025



Sensivelmente três anos após a sua última passagem por Portugal, eis que os Bad Religion regressam com um cartaz à sua medida. O mesmo é dizer: um cartaz recheado com bandas de qualidade, tal como tem vindo a ser habitual. Os Agnostic Front visitam-nos regularmente e os Trinta & Um são nacionais, mas qualquer apreciador de punk/hardcore sabe que as chances de assistir a um concerto de Strung Out, Belvedere, ou mesmo Crim, não caiem do céu.

Foram mesmo estes últimos a arrancarem com esta maratona musical. Apesar do pouco público presente, a atuação da banda espanhola, oriunda de Terragona, foi fantástica, alicerçada no álbum de 2016, Blau Sang, Vermell Cell. O quarteto punk interpretou ainda alguns dos seus mais recentes temas, mas foi com “Castells de Sorra” que encerrou a sua atuação de 35 minutos.
Parece incrível, mas a quantidade de público aumentou consideravelmente para o concerto dos Belvedere. Sinal claro do interesse que a banda desperta no nosso país, com muitos a quererem marcar presença no espetáculo da banda canadiana. O que esperar? Punk/hardcore rasgadinho, com capacidade para dar início a um circle pit logo aos primeiros temas, tal como se veio a verificar. Quando o ambiente parecia querer arrefecer, o vocalista Steve Rawles anunciou “Subhuman Nature”, segundo ele, um tema para circle pit que continuou a festa.

É sempre um prazer enorme assistir a um concerto de uma banda portuguesa perante tanto público. Dentro daquelas que merecem estas oportunidades, os Trinta & Um são claramente uma delas, mais não seja por tudo o que têm feito pelo hardcore nacional. Sala cheia para os receber ao som de Rodrigo e o seu “Fado do 31”. Foi a habitual intro para 35 minutos cantados em bom português pela banda de Linda-A-Velha. Sempre com uma mensagem positiva para oferecer, o vocalista Goblin dedicou “Sintra” a Sérgio Bifes, num concerto onde não podiam faltar “Coma 85”; “Vencer” e “LVHC”, que terminou a sua atuação.

Os Strung Out eram sem dúvida alguma uma das bandas mais aguardadas da noite. Com um álbum novo lançado no final do passado ano, havia também interesse em todo o historial da banda que conta já com mais de três décadas no ativo. Algumas curiosidades deste quinteto norte americano, uma intro de Van Halen, o riff de “Walk” dos Pantera intercalado com um dos seus temas e ainda um sample de Elsa Fitzgerald imediatamente antes do tema “Analog”. Os Strung Out tiveram à altura das expectativas e isso foi percetível pela reação do público que não descansou durante a atuação de 40 minutos. Hardcore melódico no seu melhor a fazer as delícias de uma Sala Tejo cheia.

Quando os Agnostic Front tocam em Portugal é como se estivessem em casa, tantas as vezes que nos visitaram. Encontrá-los numa sala destas dimensões já não é tão comum, pelo menos em Portugal. Os porta-estandarte do hardcore nova iorquino apresentaram-se com um Vinnie Stigma a exercer enorme protagonismo. O guitarrista exibiu orgulhosamente a sua guitarra, onde podíamos ver o seu nome gravado, cantou e ainda desceu para o meio do público durante o tema “Friend or Foe”. Para além disso, o quinteto ofereceu um concerto sem surpresas, mas com as habituais malhas que fazem as delícias de quem assiste, como “Old New York” ou “For My Family”. Num concerto de Agnostic Front não podem faltar clássicos como “Crucified”, dos Iron Cross, “Gotta Go” e para que o final seja feito com toda a sala a cantar, “Blitzkrieg Pop”. O tema dos Ramones que tradicionalmente coloca um ponto final nos concertos dos Agnostic Front.

Chegávamos então à atração principal deste evento: os grandes Bad Religion que batizaram esta tour comemorativa como: 45 YEARS DOING WHAT YOU WANT. Grande verdade. Sobretudo estas mais recentes digressões a passar por Portugal e que são fáceis de ver que são do agrado do público, tal a adesão que se verificou nas últimas duas e que se confirmou na desta noite. A receita é essa mesmo e basta repeti-la: um bom concerto é garantia de sala cheia na próxima passagem e estes veteranos sabem-no. Não há música nova para apresentar e talvez não seja precisa. O show está montado e há dezenas de temas por onde escolher para que ninguém deixe a Sala Tejo insatisfeito. Quanto aos que foram interpretados nesta noite, não há necessidade de os mencionar exaustivamente. Quem conhece estes monstros do punk rock sabe que as suas músicas são curtas e diretas o suficiente para que 80 minutos de espetáculo sejam suficientes para interpretar duas dezenas e meia delas. Vamos às mais importantes: “Recipe for Hate” foi uma entrada a todo o gás que apenas terminou com “Fuck You”. Pelo meio, as incontornáveis “Fuck Armaggedon… This is Hell” e “Generator”, por exemplo e também algumas pequenas paragens para a banda se refrescar e… é verdade, para autografar um vinil. Foi uma sala em polvorosa, incansável, que pediu o regresso dos Bad Religion ao palco, o que proporcionou um encore com “Sorrow” e “American Jesus”. Sim, eles estão em grande forma e recomendam-se.

Foram mais de seis horas de evento com grandes atuações. A satisfação do público era visível e a pergunta que se deixa no ar não é se vai haver um próximo concerto de Bad Religion em Portugal, mas sim, quando? 


Texto por António Rodrigues
Fotografias por Paulo Jorge Tavares
Agradecimentos: Hell Xis