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Entrevista aos Paradise Lost


Com mais de três décadas a moldar o som do gothic e do doom metal, os Paradise Lost continuam a ser uma pedra angular do género. O seu 17.º álbum de estúdio está prestes a ver a luz do dia e a expectativa é grande. Conhecida pelas suas paisagens sonoras sombrias e letras que refletem sobre a vida, a morte e a resiliência, a banda continua a avançar sem perder a ligação às suas raízes. Conversámos com o frontman Nick Holmes sobre o novo disco, os desafios de manter a voz intacta após anos na estrada, os temas intemporais das suas letras e os planos futuros da banda.

M.I. -  Olá, Nick. Como estás?

Estou bem, obrigado.


M.I. -  Tenho de dizer que sou fã há mais de 30 anos. É um prazer estar aqui a falar contigo.

O prazer é meu, muito obrigado. 


M.I. -  O novo álbum sai já no dia 19 de setembro. Como costumas sentir-te antes de um lançamento?

Depende. Historicamente, antes da internet, era sempre intrigante. Não sabias como o álbum tinha sido recebido até tocares ao vivo e veres como os fãs reagiam às músicas. Agora lançam-se singles e previews, por isso não é como nos anos 90. Mas as pessoas parecem muito positivas em relação aos singles até agora, por isso espero que todos adorem o álbum… bate na madeira! É sempre o início de um novo capítulo. Depois vamos em digressão, e os próximos dois anos ficam moldados por isso.


M.I. -  E o que costumas fazer na semana anterior ao lançamento? Tens algum tempo livre?

Nenhum tempo livre agora. Fazemos entrevistas todos os dias e temos de ensaiar porque vamos tocar em Leeds e vamos estrear algumas músicas novas. Depois fazemos sessões de autógrafos no Reino Unido, que nos levam até à tour daqui a umas semanas. Só agora terminámos os festivais de verão, por isso, quando o ciclo de promoção começa, é como uma montanha-russa, nunca pára.


M.I. -  Onde é que encontras toda essa energia?

Não faço ideia. Simplesmente vais com o fluxo: onde estamos amanhã, onde estamos depois? Não paras para pensar nisso. Quanto mais velhos ficamos, menos energia temos, mas os concertos em si não cansam, o que cansa são as viagens entre espetáculos, especialmente nos festivais, porque a logística pode ser complicada. Em digressão com autocarro é mais fácil, tens bastante descanso e a única parte realmente ativa é o concerto.


M.I. -  Sendo a voz da banda, como proteges o teu instrumento das mudanças de tempo, vento e tudo isso?

O melhor é dormir, dormir bastante. E evitar falar demasiado, bares, beber, gritar. Isso é o pior para a voz. Nos anos 90 fazia tudo isso, mas agora já não. Em tour evito bares e pubs como a peste. Talvez num dia de folga beba um copo, mas gritar a beber é terrível para a voz.


M.I. -  Pareces bastante calmo, quase zen.

Sou só velho! (risos) É provavelmente mais pela idade do que outra coisa.


M.I. -  Como têm sido as reações às músicas novas?

Muito boas. As três músicas que lançámos até agora foram bem recebidas. O álbum é muito variado. Algumas pessoas pensavam que seria só com vocais guturais, mas há bastante voz limpa também. Espero que todos gostem do conjunto.


M.I. -  Algumas músicas lembram o Icon. Foi intencional?

Algumas sim, porque regravámos o Icon e isso fez-nos recordar como escrevíamos e estruturávamos músicas naquela altura. Se não o tivéssemos regravado, provavelmente nem pensaríamos nisso. Cada experiência deixa a sua marca, consciente ou inconscientemente. Foi interessante revisitar esse tempo… 1993, 1994 parece que foi há uma eternidade.


M.I. -  As letras fluem facilmente para ti?

Escrever letras é sempre um processo. Escrevo, volto a elas várias vezes, mas têm sempre de se adaptar à música. Gosto de letras sombrias e ambíguas, mas às vezes com um toque de positividade. E gosto de usar palavras diferentes, às vezes recorro ao dicionário de sinónimos para evitar clichés.


M.I. -  Usei IA para analisar as vossas letras e as cinco palavras mais usadas foram: medo, dor, morte, perdão e tristeza.

(risos) Isso é um bom resumo da nossa carreira.


M.I. -  O título do álbum fala em erguermo-nos na vida apesar da adversidade. Tu próprio fizeste isso na tua vida?

Tentamos sempre tirar o melhor das más situações. A vida dá-nos porrada e quanto mais tempo vives, mais passas por isso. Especialmente na nossa idade, quando amigos começam a morrer, isso assusta. Mas é sobre nos erguermos e fazermos o melhor com o tempo que temos.


M.I. -  Tens medo da morte?

Não propriamente. Não tenho medo de morrer em si, mas sim da dor de como poderá acontecer. Quando escrevo letras, entro nesse estado de espírito, mas fora disso não penso muito no assunto, porque ficaria louco se pensasse.


M.I. -  Precisas de algum ambiente especial para escrever?

Escrevo sozinho em casa. Em tour não consigo concentrar-me nas letras. Às vezes fluem, outras vezes desisto e volto mais tarde. É tudo uma questão de estar no estado de espírito certo.


M.I. -  A capa, The Court of Death, é marcante. O que vos atraiu nela?

Sempre gostámos da ideia de usar uma pintura clássica, o que nunca tínhamos feito. O Greg encontrou-a e concordámos logo que funcionava. É uma peça enorme em Bristol, no Reino Unido. Normalmente a arte causa sempre discussões, mas desta vez não houve discussão, foi uma decisão imediata.


M.I. -  Este álbum marca também o fim da permanência do Guido na banda e o regresso do Jeff Singer. Como foi essa sensação?

Muito natural. O Jeff saiu há anos para passar algum tempo com a família e os filhos pequenos, queria vê-los crescer, o que era compreensível. Continuamos amigos, e ele até nos ajudou em digressões às vezes. Tê-lo de volta foi muito natural, é como se nunca tivesse partido.


M.I. -  Depois de uma carreira tão longa, ainda há espaço para experimentar, como com o One Second?

Não sob o nome Paradise Lost. Foi por isso que o Greg e eu fizemos o projeto paralelo Host durante a pandemia. Depois de tantos álbuns, o mundo não precisa que de repente façamos country & western (risos). Não somos contra experimentar, mas não é algo em que estejamos realmente a pensar neste momento. Mas nunca digas nunca.


M.I. -  Depois de 17 álbuns, já te questionaste sobre o que vos falta dizer?

Pensei que ias perguntar se ainda há algo pelo qual viver. (risos) Não. Sempre acreditámos que o nosso melhor álbum ainda está para vir. Se achas que o teu melhor trabalho já passou, é melhor parar. Os fãs preferem, geralmente, os primeiros álbuns que descobriram na adolescência... Continuo a adorar os três primeiros álbuns dos Metallica e dos Slayer... mas continuamos a avançar.


M.I. -  Sentes que as tuas letras voltam sempre aos mesmos temas?

Sim e não. Escrevo a partir de perspetivas diferentes consoante a idade. Era mais cínico em jovem, mas continuo a abordar temas semelhantes. Gosto da ambiguidade, não quero escrever histórias arrumadinhas em dez versos. Os cantores pop escrevem sobre amor eternamente e ninguém se cansa disso. Para mim é encontrar fascínio na ambiguidade.


M.I. -  Qual é a tua música favorita do novo álbum?

Prefiro ouvi-lo como um todo. Mas se tivesse de escolher, destacaria Serpent on the Cross, tem um som clássico de Paradise Lost logo desde o início.


M.I. -  Sobre os vídeos… estiveram envolvidos naquele em que a banda não aparece?

Não, esse foi encomendado à parte. Já fizemos muitos vídeos de performance, mas preferimos os que contam histórias. Na era da MTV os vídeos eram muito importantes, por isso ainda gostamos desse tipo de abordagem.


M.I. -  O streaming e os pre-saves no Spotify não ajudam realmente as bandas, pois não?

Hoje em dia tudo gira em torno dos concertos e do merchandising. Tens de te adaptar. Tocar ao vivo é a única forma.


M.I. -  Quais são as tuas cinco músicas favoritas para tocar ao vivo?

Beneath Broken Earth, Enchantment, Gothic, Embers Fire e Say Just Words.


M.I. -  A vossa música atrai tanto fãs antigos como novos. Qual é o segredo?

Muitas vezes é geracional. Os fãs dos anos 90 têm filhos que cresceram a ouvir a nossa música em casa. E a internet torna tudo mais acessível. Plataformas como o Spotify espalham o nosso nome em lugares onde antes não chegava.


M.I. -  Vêm a Portugal no próximo verão para um festival. Há hipótese de um concerto a solo?

Talvez na segunda parte da tour europeia. Vamos ver, depende sempre da logística. Esperemos que no próximo ano possamos fazer um concerto em nome próprio.


M.I. -  Vão também fazer o 70,000 Tons of Metal. O que mais está planeado?

Estamos a ver concertos nos EUA por essa altura e, esperamos, mais datas lá para o final do próximo ano. Não temos tocado tanto na América como devíamos.


M.I. - Como consegues lembrar-te de todas as letras ao vivo?

Não consigo, tenho-as escritas. Às vezes até as mudo para me divertir. Vi o Steven Tyler fazer isso uma vez e achei piada. Com tantas músicas, é como memória muscular… voltam quando começo a cantar.


M.I. - O que tens ouvido ultimamente?

Nada, na verdade. Tenho estado só a ouvir o novo álbum. Tive um mês sem música.


M.I. - Nick, foi um prazer. Desejo-vos o melhor para o novo álbum e espero ver-vos em breve ao vivo no Porto.

Obrigado, apreciamos o apoio. Esperamos conseguir ir aí no próximo ano.

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Entrevista por Sónia Fonseca