
O álbum mais recente do power trio francês é hipnótico mal se começa a ouvir a primeira faixa. Logo de início, as referências em termos de sonoridade que retiro são Russian Circles e Pinkish Black, por um lado. Por outro lado, as mudanças de compasso e a bateria inspirada no jazz moderno parece influenciada pelos Imperial Triumphant. Todos grupos diferentes, mas o compasso irregular do tema de abertura e o riff repetido pela guitarra remete para grupos de sonoridade tanto psicadélica como progressiva.
Estamos perante um lançamento instrumental em que as faixas não têm nomes atribuídos, e a fluidez entre elas é bastante bem conseguida. Cada tema encadeia no seguinte sem a menor interrupção, havendo um enfoque na repetição típica de grupos de música repetitiva ou drone, como os Earth ou Sunn0))). É uma sonoridade abrasiva, mas suficientemente harmoniosa para que se possa disfrutar.
A segunda faixa, a mais longa do disco, entra de rompante e dá o protagonismo ao guitarrista Shantidas Riedacker, com um crescendo de feedback e ruído que após atingir o clímax se desvanece num fade out.
A terceira faixa é a mais agressiva até aqui, com a guitarra quase a “rasgar” o tecido do tema em si. O tema que segue é pautado por uma maior agressividade na bateria e por pausas desconfortáveis no seu início, com uma métrica irregular que acentua essa mesma sensação de desconforto. O quinto tema é mais estável, preparando o ouvinte para a conclusão do disco.
A bateria de Antoine Hadjioannou assente num groove quase reminiscente do jazz moderno de Brian Blade é um dos pontos altos do disco. Por sua vez, o baixo nem sempre é audível, mas quando nos concentramos a segurança de Matthieu Canaguier no assegurar do groove do trio é contagiante. Mais uma vez, sublinho, trata-se de uma sonoridade power trio, com cada papel dentro do grupo está bem definido: a guitarra a liderar, o baixo mantém a base harmónica e a bateria segura o tempo e as dinâmicas de cada tema.
O tema que encerra o disco começa um solo de guitarra caótico sendo seguido por uma linha de baixo pausada e repetitiva, com a bateria a segurar o ritmo. Gradualmente a guitarra volta a fazer-se sentir e instala-se um ambiente negro que aos poucos se vai degradando, sublinhando que o groove da secção rítmica dá sempre a sensação de que estamos prestes a cair, mas sem que nunca isso aconteça.
Lux é um disco que pode agradar a fãs de qualquer tipo de rock ou metal instrumental, de fãs de Pink Floyd a Vipassi, ou os já mencionados Imperial Triumphant, Earth ou Red Sparowes. Trata-se de um lançamento coeso, mas que poderia beneficiar de mais momentos de quebra de rotina dentro da repetição de um mesmo tipo de estrutura em quase todos os temas (introdução, solo de guitarra, bridge assente no baixo, solo de guitarra final).
Nota: 7/10
Review por Raúl Avelar