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Entrevista aos Omnium Gatherum


Após quase três décadas a criar a sua própria marca de death metal melódico, os finlandeses Omnium Gatherum regressam com o seu décimo álbum de estúdio, “May the Bridges We Burn Light the Way”, que será lançado a 7 de novembro. Conhecida pela sua mistura perfeita de agressividade, melodia e beleza melancólica, a banda continua a evoluir sem perder a ligação às suas raízes. Conversámos com o vocalista Jukka Pelkonen, que tem sido a voz dos OG desde 2006, para falar sobre a carreira da banda, a criação do novo disco e o fogo eterno que alimenta a sua paixão por criar e tocar música ao vivo.

M.I. – Os Omnium Gatherum estão ativos desde 1996, e juntaste-te à banda dez anos depois. Como descreverias a evolução da banda até ao novo álbum “May the Bridges We Burn Light the Way”?

É a clássica história de jovens que querem formar uma banda e fazer música original. Com o tempo, as coisas foram crescendo. A banda teve as primeiras passagens na rádio, tocou no lendário Tavastia Club, em Helsínquia, e acabou por conseguir um contrato discográfico no virar do milénio. Eu juntei-me em 2006, quando tudo ainda era muito centrado na Finlândia. Os OG só tinham feito alguns concertos fora do país. Mas depois de “The Redshift” sair, em 2008, as coisas tornaram-se mais sérias, começámos a fazer digressões internacionais e essa experiência confirmou que podíamos realmente fazer isto a um nível global. Desde então tem sido um crescimento constante: digressões mundiais, lançamentos regulares e a paixão sempre viva. Agora, com o novo álbum a sair a 7 de novembro, vamos primeiro à América do Norte, depois à Finlândia, depois à Europa e, a seguir, começa a temporada de festivais. O ciclo continua, e adoro o facto de podermos fazer isto de forma séria há tanto tempo.


M.I. – És a voz da banda há muitos anos. Como sentes que o teu estilo vocal e a tua entrega emocional evoluíram desde o início?

Completamente. Já passaram 20 anos, e claro que o corpo e a mente mudam com o tempo. Sou uma pessoa muito diferente agora, e isso reflete-se na minha voz. Tornei-me mais maduro liricamente, mais ponderado e muito mais em controlo da minha voz do que nos primeiros tempos… isso vem da experiência, da prática e das digressões constantes. Respeito o que escrevi naquela altura porque lançou as bases do que veio depois, mas estou sempre a evoluir. Fazer digressões algumas vezes por ano mantém a voz afinada.


M.I. – Como cuidas da tua voz, especialmente durante longas digressões?

Gosto de correr, relaxa-me e mantém-me em forma para atuar. Bebo muita água e tento manter-me afastado do álcool; talvez uma cerveja de vez em quando, mas o álcool seca a voz e reduz a capacidade rapidamente. Faço sempre aquecimento vocal antes dos concertos e arrefecimento depois. Hoje em dia até uso uma aplicação de aquecimento vocal com escalas, é super prática. Consistência e cuidado são fundamentais.


M.I. – O que significa para ti o título “May the Bridges We Burn Light the Way”?

Sendo o nosso décimo álbum, representa tanto reflexão como renovação, olhar para trás, de onde viemos, enquanto seguimos em frente. O título significa que algo antigo tem de “arder” para que algo novo nasça. É uma metáfora clássica, mas encaixa perfeitamente. O disco tem um tema livremente inspirado na rua: sonhadores, mentirosos, andarilhos… símbolos de sobrevivência e de deixar para trás o que te prende. Musicalmente, é muito direto e enérgico, mais “na cara” do que o nosso anterior “Origin”, que era mais lento e com mais camadas. Estas novas músicas foram feitas para serem tocadas ao vivo: diretas, melódicas e cheias de energia.


M.I. – Foi intencional fazer um álbum mais orientado para o palco?

Não inicialmente, mas à medida que as músicas iam tomando forma, percebi o quão naturalmente funcionariam ao vivo. Também é uma ligação às nossas raízes. Os OG começaram como uma banda de death metal melódico bastante direta. Portanto, sim, no final do processo ficou claro que este seria um álbum muito voltado para o palco.


M.I. – Mencionaste o conceito solto de “histórias das ruas”. Como é que isso se desenvolveu?

É uma homenagem à nossa juventude: os anos 90, os skate parks, as saídas com amigos, a descoberta do metal. Queríamos capturar essa energia. Visualmente, é por isso que um dos videoclipes tem paredes grafitadas e um parque de skate. Liricamente, as histórias são ficcionais, mas ligadas a essa atmosfera. Musicalmente, penso que o álbum combina elementos de “Spirits and August Light”, “The Redshift” e “Beyond”. É material novo, mas com o ADN nostálgico.


M.I. – Isso significa que sentes falta dos teus 20 anos?

Não, nada disso. É bom recordar, mas os OG sempre olharam em frente. O passado pode inspirar, mas vivemos no presente… é aí que a criatividade floresce.


M.I. – Como equilibram a escuridão e a determinação em músicas como “Walking Ghost Phase” e “Ignite the Flame”?

Vem da experiência: aprender, praticar e desenvolver um sentido de equilíbrio ao longo do tempo. Não há atalhos, é uma questão de paixão, repetição e compromisso. É assim que se encontra a mistura certa entre peso e melodia.


M.I. – Como funciona o processo de composição nos OG?

A maior parte da composição começa com o Markus Vanhala. Ele envia-me riffs e demos, e eu trabalho os conceitos líricos e os arranjos vocais. Trocamos ideias, é muito colaborativo. Quando as demos estão prontas, partilhamos com o resto da banda. Todos podem contribuir, mas normalmente a base que o Markus e eu criamos mantém-se. É uma democracia, gentilmente gerida por nós os dois! (risos)


M.I. – O álbum foi gravado em vários estúdios finlandeses e num na Suécia. Como é que esses ambientes diferentes influenciaram o som?

Na verdade, não muito, só escolhemos estúdios profissionais nos quais já confiávamos. O único novo foi o da Suécia, onde gravei as vozes: o Sola Sound Production, do Björn Strid, em Estocolmo, e foi ótimo. O Björn é uma lenda, claro, e muito profissional. Ele acrescentou algumas ideias e ajustes que melhoraram bastante as vozes.


M.I. – Li que gravaste as vozes na mesma mesa SSL usada no tema “Innuendo” dos Queen. É verdade?

Sim, é! Fiquei super entusiasmado… é o Freddie Mercury, caramba! Uma das maiores vozes de todos os tempos. Só o facto de saber disso deu-me uma verdadeira faísca criativa.


M.I. – O Jens Bogren e o Tony Lindgren trataram novamente da mistura e masterização. O que os 
torna tão adequados ao som dos OG?

Este foi o nosso terceiro projeto com o Jens. Fizemos “Origin” e o EP “Slasher” com ele também. Na minha opinião, ele é um dos criadores do som moderno do metal. Mas também é aberto às nossas ideias, o que é importante. A colaboração simplesmente funciona, é natural.


M.I. – Se tivesses de escolher uma música que melhor representasse o novo álbum, qual seria?

“Ignite the Flame”. Resume o álbum perfeitamente: rápida, melódica, agressiva e ainda assim emocional. Capta a energia e a diversidade do disco.


M.I. – Em breve vão embarcar numa digressão europeia, mas não vejo Portugal na lista. Porquê?

Gostava de saber! (risos) Não sou eu que planeio as digressões, mas já tocámos em Portugal e foram grandes concertos. Espero mesmo voltar em breve. Já lá vão oito anos, demasiado tempo.


M.I. – Como te estás a preparar para a digressão?

Apenas a ensaiar e a manter-me saudável. Vamos começar o ciclo de digressões com um concerto especial no Helsinki Metal Cruise, no mesmo dia em que o álbum sai. Depois seguimos para a América do Norte. Vai ser intenso!


M.I. – Alguma produção especial em palco ou surpresas planeadas?

Na Finlândia, usámos uns barris com pirotecnia, os mesmos do vídeo de “Slasher”, e gostaríamos de usá-los novamente. São enormes, por isso é complicado transportá-los, mas veremos. Quanto ao alinhamento, haverá algumas surpresas e, esperamos, muitas músicas novas… estão ansiosas por serem tocadas ao vivo!


M.I. – Sendo o frontman, essa pressão alguma vez te afeta?

De forma alguma. Adoro. Gosto de me conectar com o público, é algo natural. Não há pressão, só paixão.


M.I. – Depois de todos estes anos, o que ainda te entusiasma em ser o vocalista dos OG?

A sinergia com o público. Essa energia partilhada é imbatível. É o que me mantém apaixonado por atuar e pelo metal em si.


M.I. – E por fim, o que esperas que os ouvintes retirem deste novo álbum?

Espero que sintam o ambiente, esse equilíbrio entre nostalgia e impulso para a frente. E espero que lhes dê força, boas vibrações e coragem para enfrentar os obstáculos da vida.


M.I. – Muito obrigado pelo teu tempo, Jukka. Esperamos ver os OG em Portugal em breve!

Obrigado! Também espero que sim! Seria ótimo voltar.

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Entrevista por Sónia Fonseca