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Entrevista aos Chthonic


“Mirror of Retribution” foi a rampa de lançamento dos Taiwaneses Chthonic no metal internacional. Agora que conseguiram o tão desejado reconhecimento, vão lançar o álbum “Takasago Army” carregado de referências à história e mitologia de Taiwan. A Metal Imperium conversou com eles e teve a oportunidade de os questionar sobre o álbum e sobre esta força que os move, o desejo da Independência de Taiwan.

M.I. - Antes de mais sou fã do trabalho de Chthonic e é um prazer entrevistar-vos. Como o nome “Chthonic” é originalmente diferente, pesquisei e descobri que, de acordo com a Wikipedia, é “uma palavra grega referente à terra com implicações no submundo”. Era isto que queriam representar quando escolheram a palavra? Onde a descobriram?

A banda escolheu este nome quando se formou. Na altura, só tínhamos um nome taiwanês. Um dos membros pesquisou e descobriu que a palavra significa “Os Deuses do Submundo”, o que representava os temas que tocavam. Apesar de ser Grega, é um palavra simples mas difícil de pronunciar. Por isso decidimos usá-lo. Mas se pudéssemos voltar atrás no tempo, eu definitivamente diria NÃO a esta palavra, porque pronunciá-la é uma chatice! (risos)


M.I. - O álbum anterior “Mirror of Retribution” recebeu excelentes críticas da imprensa... sentistes-vos pressionados para fazer um álbum que superasse o anterior?

Não, nunca nos sentimos pressionados, porque somente fazemos o que nos apetece fazer. Só nos preocupamos em exprimirmos bem os pensamentos e emoções sobre o conceito do álbum.


M.I. - Os álbuns de Chthonic usam a história e a mitologia de Taiwan, assim como o instrumento tradicional erhu. “Mirror of Retribution” baseou-se na lenda do Inferno taiwanesa. “Takasago Army” é um tributo, tanto liricamente como na capa, aos poderosos e destemidos soldados de Taiwan?

“Takasago Army” é sobre a procura da identidade e dignidade pessoal. Durante anos, não sabíamos porque se lutavam estas guerras, não tínhamos identidade nem independência e éramos ocupados por outros países e as nossas vidas eram controladas de acordo com as vontades deles. O título “Takasago Army” é usado para representar todos os soldados taiwaneses. No final da segunda guerra mundial (1942-45) mais de 200 000 soldados taiwaneses foram recrutados pelo Exército Japonês para lutar na guerra do Pacifico. Foi para esses soldados que escrevemos o álbum, porque eles encontraram a dignidade em combate, pois não eram Japoneses, nem Chineses, eram apenas eles próprios. Quanto mais a morte se aproxima, melhor sabemos quem somos. É uma pena que o governo taiwanês não queira que se saiba isto. O governo taiwanês (agora controlado pelo partido KMT que saiu da China por causa da guerra interna que lá se vivia há 60 anos) escondeu este facto durante 60 anos e fez uma lavagem cerebral ao povo taiwanês fazendo as pessoas acreditarem que a China é o futuro, apesar de desrespeitar e destruir a cultura, a história e a identidade Taiwanesa. Por isso, consideramos que temos a obrigação de revelar esta parte da história relacionada com a segunda guerra mundial. Como seres humanos, temos de saber de onde vimos e onde estamos para podermos ter o conhecimento e o poder de decidir que caminho tomar.


M.I. - De acordo com a banda, a pintura facial expressa o espírito das músicas e as histórias por trás delas. Tiveram de adaptar a pintura facial às músicas do novo álbum?

Para este álbum, a nossa pintura facial e a indumentária misturam os elementos da cultura aborígena Taiwanesa com o estilo militar.


M.I. - O vídeo promocional para o single “Takao” foi lançado no dia 7 de Junho e contém imagens fortes... porque é que decidiram usar Sakura que é um símbolo Japonês, uma metáfora para a natureza efémera da vida?

A pergunta é muito boa. A Sakura no vídeo é uma metáfora para a natureza efémera da vida mas também representa a dura batalha que o exército Takasago enfrentou, foi como uma faca (o Japão) a cortar-lhes o corpo...


M.I. - O vídeo “Broken Jade” é muito diferente do habitual pois mistura imagens animadas com imagens reais. Quem o produziu? Pensam que este género de vídeo tem um maior impacto nos espectadores?

Foi produzido pelo vocalista Freddy e pela baixista Doris. O impacto visual foi um dos factores que tivemos em conta, mas o mais importante foi a decisão do que melhor descreveria “Broken Jade” e todos os membros concordaram com esta versão... por isso pode-se dizer que este tipo de vídeo é o que causa mais impacto nos membros da banda.


M.I. - Vocês são todos muito activos, patrióticos e politicamente directos, dando voz ao desejo do povo pela Independência de Taiwan da opressão da China. Tocaram no concerto “Free Tibet” e fizeram fotos controversas sobre esse assunto; organizaram um festival internacional de música para comemorar o 60.º aniversário do Incidente 228; participaram com activistas dos direitos humanos na exibição de pandas do Zoo Taipei, entre muitas outras actividades. Consideram que é uma “batalha” tentar conquistar um mundo que respeita a liberdade de expressão e opiniões?

A Madonna cantava sobre política assim como o Eminem, U2, System of a Down, Guns N’ Roses, Beastie Boys... todos cantaram sobre política e alguns destacaram-se e falaram sobre as suas visões politicas em público mas as pessoas não lhes chamam “artistas políticos”. O Richard Gere apoiou o “Free Tibet”, foi banido pelo governo Chinês e ninguém diz que é uma “estrela de cinema política”. Alguns críticos consideram-nos “banda política” por causa da lei, criada há 20 anos atrás, que proibiu os Taiwaneses de falar sobre política. Apesar de agora estarmos numa sociedade democrática, as forças conservadoras ainda são muito intensas e algumas controlam os média em Taiwan. Portanto consideraram os Chthonic como “banda política”, espalharam a palavra por todo o mundo e alguns tentaram influenciar até a Wikipedia. Na mente deles, quando os Chthonic falam de Liberdade, Direitos Humanos e Independência, tudo se resume a “Politica”. Actualmente, há dois partidos em Taiwan. O Partido Progressista Democrático que é a favor da independência e o partido KMT (que era o exército Chinês que se infiltrou em Taiwan após a segunda guerra mundial) que é a favor da China. Nós apoiamos o partido que apoia o nosso ideal. Se algum dia o KMT abandonar o seu objectivo de fazer parte da China e mudar o nosso nome de “República da China” para “República de Taiwan”, então também apoiaremos o KMT, não porque gostamos deles, mas porque apoiam o nosso ideal.


M.I. - Os metaleiros gostam de encaixar as bandas em géneros... Li que vocês se auto intitulam “Extreme Metal da Mitologia Oriental” ou “Metal Taiwanês”... consideram que esta é a melhor descrição para o vosso som?

O que nós fazemos não é só “metal”. 50% do nosso trabalho é a história que contamos. Por isso a história está ligada à história de Taiwan, e nós, naturalmente, usamos elementos orientais como a melodia da música folclore tradicional “Enka”, assim como instrumentos orientais como Hena (Violino de duas cordas), Shamisen, Koto, Sinos Tibetanos, Flauta Shakuhachi, Flauta Pgaku, por isso pensamos que “Metal Oriental” é a melhor descrição para o nosso som.


M.I. - Os Chthonic já tocaram em todo o mundo... como se sentem por saberem que a vossa voz está a ser ouvida por milhares de pessoas e que pode ajudar a melhorar a vida das pessoas nos países asiáticos?

Nós damos o nosso melhor para criar a música, portanto se a nossa música poder ajudar pessoas, ficamos muito felizes.


M.I. - A Spinefarm é uma editora europeia, porque é que não têm tocado mais na Europa? Os fãs Portugueses estão ansiosos por voz ver ao vivo...

Sim, tencionamos fazer uma grande tournée na Europa, portanto no segundo semestre deste ano vamos tocar na Europa com alguma frequência.


M.I. - Como Taiwan fica distante da Europa e América, onde a maioria das bandas actuam, tiveram oportunidade de ir a concertos quando eram mais novos? Devido a esta distância, diriam que a internet foi uma ferramenta importante na promoção da banda?

Sinceramente, a distância é um grande problema para as bandas asiáticas, mas mesmo assim, quando éramos mais novos, tentamos ir a todos os concertos que podíamos. Claro que a internet é um meio de promoção e seria estranho se decidíssemos não usar esta ferramenta de promoção gratuita.


M.I. - Já viram o filme “Seediq Bale” que é um drama histórico Taiwanês, dirigido por Wei Te-Sheng? Acham que filmes deste género projectam uma perspectiva realista sobre a história de Taiwan?

Não porque o filme ainda não saiu em Taiwan, mas pensamos que dará às pessoas de Taiwan uma maneira muito diferente de encararem o passado.


M.I. - Por favor, partilhem os pensamentos finais com os nossos leitores...

Stay metal! \m/



Entrevista por Sónia Fonseca