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Lamb of God - "Resolution" Review

Foi no já longínquo ano de 1994 que os Lamb of God se formaram - ainda com o antigo nome Burn the Priest - ano em que os Pantera assaltaram o primeiro lugar do top de vendas norte-americano com "Far Beyond Driven" e os Machine Head editaram o seu álbum de estreia, o clássico "Burn My Eyes". Bandas como os acima referidos Pantera e Machine Head, assim como os Sepultura, Fear Factory, White Zombie, desenvolviam por essas alturas um novo sub-género derivado do thrash, o chamado groove metal, powergroove, ou neo-thrash, como lhe quiserem chamar. A popularidade do thrash mais old school tinha enfraquecido com o aparecimento do grunge e eram estas bandas que mantinham o metal em alta nos Estados Unidos, salvo os brasileiros Sepultura que também tiveram uma palavra a dizer com "Chaos AD". Foi também em 1994 que foi editado o primeiro disco dos Korn, impulsionador daquele que foi provavelmente o fenómeno mais comercial de sempre, em termos de sonoridades mais pesadas, o mal afamado nu-metal, suportado em grande escala pela MTV. Essa nova sonoridade como é sabido, relegou o metal mais tradicional para um nível mais underground, principalmente nos Estados Unidos. Mesmo algumas das bandas atrás faladas abraçaram esse género durante algum tempo, como foi no caso flagrante de Machine Head, nos álbuns "Burning Red" e "Supercharger".

Já durante o novo milénio, com a queda de popularidade do nu-metal, emergiram no outro lado do oceano, bandas mais metálicas como os Lamb of God, Mastodon, Killswitch Engage e Trivium, entre outras, que ajudaram a dar o toque final na morte do género que antes estava em
voga. Enquanto as duas últimas se tornaram dois dos pilares do metalcore melódico e os Mastodon com a sua original mistura de sludge e progressivo, se tornaram numa banda à parte no universo metaleiro, os Lamb of God foram buscar influências ao tal groove metal falado no
início, que estava em alta na altura do nascimento da banda, assim como ao thrash metal da Bay Area, dos anos 80. Erroneamente considerados uma banda de metalcore por se terem tornado populares na mesma altura que as outras bandas desse género, a banda pratica um som
claramente mais influenciado pelos Pantera e Slayer, usando essas referências para criar a sua própria identidade. Desde que editaram o seu primeiro álbum em 1999, quando ainda se chamavam Burn the Priest, até agora, a banda tem tido uma grande regularidade em termos de
lançamentos, atingindo com este novo disco, a respeitosa marca dos 7 álbuns de estúdio. A banda passou rapidamente de uma promessa do metal norte-americano a uma das mais populares bandas do metal contemporâneo devido à grande qualidade de álbuns como "As the Palaces Burn", "Ashes of the Wake","Sacrament", "Wrath" e chega agora a "Resolution", já com um consideravel legado, bastante difícil de superar.

"Resolution" não é o melhor disco dos Lamb of God, isto porque enquanto os três anteriores trabalhos da banda, mantém o nível elevado do início ao final, com vários temas memoráveis, o actual registo contém talvez demasiadas faixas, 14 no total e algumas destas, sendo boas, não conseguem fazer frente às dos antigos CDs. Enquanto os outros registos do grupo costumam ter 10/11 músicas, este tem mais e o baixista Phil Campbel explicou numa entrevista recente que como gostam de todas, não quiseram retirar nenhuma. Aceita-se esta decisão tendo em conta que nenhum dos temas é propriamente um filler, todos têm valor suficiente para estar num disco de LOG, podem é não se tão fortes quando comparadas com outras do anterior catálogo do colectivo de Virginia. No entanto os seguidores da banda podem estar descansados porque há aqui vários temas capazes de rivalizar com o melhor já feito pela banda. Na primeira metade do álbum destacam-se grandes faixas com a trademark Lamb of God, como: "Ghost Walking", que podemos considerar uma espécie de "Redneck" deste álbum; "Desolation", que também soa um pouco similar a outro tema da banda, neste caso "In Your Words"; a veloz e catchy "Guilty"; e "Number Six", que conta com um refrão mais melódico que o habitual, tanto em termos de guitarra, como de voz, onde Randy Blythe ensaia uma voz ligeiramente harmónica, voltando rapidamente ao seu registo habitual. Na segunda metade do álbum também encontramos dois temas bastante marcantes, mas também surpreendentes. "Insurrection" é um tema diferente do que ouvimos habitualmente por parte da banda. A nível instrumental grande parte do verso está mais técnico do que o habitual, a fazer lembrar um pouco Meshuggah, mas tocado à la Lamb of God e a nível vocal, no início do tema Randy Blythe aparece a cantar, num registo limpo, nunca antes antes tentado deste modo pelo frontman. O refrão também é memorável, com as guitarras mais harmónicas do que nunca, a fazer lembrar o death metal melódico sueco, mas aqui Blythe usa o seu registo agreste mais usual. Mas o tema mais distinto e atípico nos Lamb of God, ainda assim muito bem conseguido, está guardado para o final. A 14ª e última faixa intitulada "King Me", que conta com Randy Blythe em registo spoken word e uma cantora lírica por trás e ainda a presença de uma orquestra. O resultado final é incrivelmente forte e vale a pena ouvir. Poderá desagradar os fãs mais die-hard dos Lamb of God, mas é um dos temas mais bem conseguidos do disco. Há outras músicas algo diferentes neste álbum: "Straight for the Sun" inicia o álbum com dois minutos e meio de um sludge arrastado, preparando o ouvinte para a destruição dos temas seguintes e "Cheated" é o tema mais punk-metal criado pela banda até à data, superando nesse sentido "Contractor" do disco anterior.

"Resolution" é um disco maduro, composto por uma banda experiente, que já sabe como agradar aos fãs e fazer conjuntos de temas fortes, com todos os ingredientes necessários. A grande maioria dos temas são Lamb of God típico, o que vai agradar a quem gosta da sonoridade do grupo. Ainda assim a banda soube introduzir diferentes riffs, ritmos e ideias em cada tema, o que resultou do seu mais variado disco até à data. A sonoridade da banda continua poderosa e a performance de todos os músicos intervenientes está a um nível tão elevado como nos anteriores trabalhos, o que é notável tendo em conta que este já é o seu 7º álbum e estes já contam com 17 anos de carreira. Quem dera a muitas bandas manterem esta qualidade durante tanto tempo. Por tudo isto é credível que os Lamb of God continuem a sua escalada em termos de popularidade nos próximos anos e que nos continuem a brindar com álbuns fortes como este.

Nota: 8.4/10

Review por Mário Rodrigues