Os Cattle Decapitation sempre foram
considerados uma banda de death metal brutal interessante. Os seus discos não
eram assim nada de extraordinário no meio das ”n” publicações do género que
saiam anualmente, mas também não comprometiam. Discos como “Humanure” ou “Karma.Bloody.Karma”
aliavam a imagem visualmente brutal e controversa da banda a um som e atitude
que, em alguns pontos os faziam diferenciar dos seus pares, mas nunca foram
aquela banda que andasse nas bocas do mundo.
A edição de “The Harvest Floor” em 2009 mudou a agulha do discurso. Um disco muito superior e mais interessante de tudo o que a banda tinha feito no passado, muito mais coeso, mas mantendo os níveis de brutalidade elevados. Como que a querer mostrar que não são uma banda igual a muitas outras, a inteligente utilização de alguma melodia no seu death metal muito particular tornou esse disco um marco de viragem para a banda, que começou a criar um maior “buzz” no meio musical e a integrar cartazes mais interessantes (e importantes) em digressões de bandas maiores. Não é de estranhar que a curiosidade sobre o que este quarteto de San Diego iria fazer a seguir fosse levada.
E o que dizer então deste novo disco, “Monolith
of Inhumanity”? Se o anterior era um grande disco, este é gigante! Um portento
de death metal, furioso, brutal e esquizofrénico. Desta vez, os Cattle Decapitation
elevaram bem alto a fasquia com um disco que, do início ao fim, nos pega pelo
pescoço, no atira contra uma parede, pontapeia e nos deixa ali, a agonizar. Não
estou a brincar, este disco é mesmo assim, um portento de energia e insanidade.
As muito características vocalizações de Travis Ryan soam aqui muito mais
raivosas que anteriormente e o trabalho do guitarrista Josh Elmore é não menos
que fantástico, rasgando tudo e todos com riffs
insanos e frenéticos. No entanto, é justo considerar que o grande highlight deste disco é o baterista Dave
McGraw. O seu trabalho no disco anterior já era muito interessante coeso, mas neste “Monolith
of Inhumanity” que mostra todo o seu valor. Certamente que não fica em nada
atrás de grandes bateristas como Flo Mounier (Cryptopsy) ou mesmo de Trey Williams
(Dying Fetus). Uma prestação absolutamente magistral, muito bem completada pelo
novo baixista Derek Engemann.
Quando temos um disco com esta
qualidade é difícil dizer quais os melhores momentos, pois cada tema nos atinge
com intensidade diferente o suficiente para nos deixar sempre na expectativa, esperando o
que vem a seguir e se será que nos vai surpreender ainda mais. Isso acontece
neste disco, em que os dois temas iniciais “The Carbon Stampede” e “Dead Set On
Suicide” nos deixam logo de queixo caído, mas é em “A Living, Breathing Piece
of Defecating Meat” que o vamos apanhar perdido no chão. Furia descontrolada, blasts por todos os lados e aquela voz
de Ryan, que a meio do tema se torna evidente o que este consegue sacar da
garganta. O ritmo acalma um pouco em “Forced Gender Reassignment” para nos
voltar a esmurrar a seguir com “Gristle Licker” e a muito técnica “Projectile
Ovulation”. “Lifestalker” e “Do Not Resuscitate” continuam nos mesmos moldes
dos dois temas de início para depois aparecer mais uma excelente surpresa em “Your
Disposal”. Ainda andamos a tentar encaixar o nosso queixo no sítio quando surge
“The Monolith”: um pouco à semelhança do disco anterior, uma peça instrumental
mais calma que antecipa o melhor tema do disco com “Kingdom of Tyrants”.
Absolutamente destruidor.
São pouco mais de quarenta minutos de
pancadaria incessante. Um disco de death metal (quase) perfeito, que irá
certamente marcar a carreira dos Cattle Decapitation para o futuro e os elevará
a um estatuto maior. É death grind furioso e brutal mas ao mesmo tempo muito
inteligente e dinâmico. Vai ser difícil esta banda fazer melhor no próximo
disco, mas nunca se sabe. Apenas nos resta esperar que estes rapazes nos visitem
numa digressão europeia para podermos comprovar em directo o que sabem fazer.
Nota: 9.1 / 10
Review por João Nascimento