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The Faceless - "Autotheism" Review


Os The Faceless são uma banda originária dos USA (California), que pratica uma mistura complexa de Death Metal Técnico e Progressivo com uns requintes de Deathcore, crendo nós que são capazes de agradar a fãs de Cephalic Carnage, mas também a fãs de Nile e Behemoth, e ainda a fãs de Opeth (só para aludir algumas referências).

E conquanto tais referências sejam claríssimas (em vários momentos perfeitamente identificáveis!), somos compelidos a sublinhar a entidade ímpar da banda: os padrões citados realinham-se, na construção de um ser maior do que os pedaços de cada uma delas, e esse ser gigantesco é o “Autotheism" (curiosamente, já o terceiro álbum da banda!).

Um trabalho conceptual com a complexidade do tema aqui sugerido, é algo no mínimo assustador: “Autotheism” significa, no contexto: “Deificação” de si mesmo, ou por outras palavras a elevação de uma pessoa, ao nível divino: ser o seu próprio Deus. E temos que referenciar que a excelência musical, encontra o seu par no brilhantismo das letras, suficientes para fazer repensar teses de Doutoramento em Teologia ou Filosofia.

Mas e a música? Como um ser gigantesco e Divino (ou Demoníaco?!) somos consumidos por este álbum, absorvidos pela sua extrema brutalidade e violência, e embalados pela sua densa e hipnótica ternura. É assim possível coexistirem na perfeição, momentos que teoricamente seriam de profundo antagonismo, e na realidade encaixam na perfeição como peças de um puzzle maior - que só no fim faz sentido, com a colocação nervosa da última peça.

Veja-se a complexidade magnífica dos três temas iniciais, “Autotheist Movement I, II e III”: em que furiosos blast beats e riffs tipicamente grindcore, desaguam em solos de Saxofone (sem pretensiosismos, apenas porque a música o pede), entre órgãos de Igreja - que proclamam “God is dead” – ou o chamamento de sublimes e geniais momentos de guitarra, suaves xilofones, hipnóticos pianos, intervalados por uma panóplia de vozes ora guturais ora limpas – que incluem preenchidos coros.

A crueldade musical deste álbum, advinda do mais técnico e furioso Death Metal, cuspido com brutalidade contra o nosso rosto, é assim intervalada e domada por momentos profundamente melodiosos e hipnóticos, por vezes até dementes, que ironicamente nos confundem, nos perdem e encontram… nos fazem viajar numa tempestade de mestria e genialidade.

E é aqui que sentimos que as palavras perdem todo o sentido, na ânsia de intentarmos a todo o custo que os nossos leitores se debrucem sobre este álbum… porque são tão raros álbuns assim: que queremos partilhar, discutir, decifrar, e - tão adequadamente – idolatrar!

“Follow me and I will show you where to follow yourself”… é um dos versos da última música, surgindo como um apelo à busca espiritual aqui provocada. E apenas podemos concluir com o conselho: não temam fazê-la! Descubram este álbum com premência, porque acreditem… é um momento verdadeiramente extraordinário, que nos recorda a cada minuto o porquê de o Metal, na sua profunda complexidade de subgéneros, ser um estilo sem barreiras ou limites, de onde nascem tão raras e apaixonantes obras!!!


Nota: 9.5/10

Review por Sérgio Carvalhais Correia