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Entrevista aos Stampkase


Oriundos da ilha de S. Miguel, nos Açores, os Stampkase vêm trazer para o panorama nacional mais uma banda extremamente promissora que se irá manifestar naquele que será o primeiro álbum da banda, “Mechanorganism“. A Metal Imperium esteve, assim, à conversa com esta banda que esclareceu algumas questões pertinentes sobre o álbum e falou igualmente sobre outras experiências do campo musical.


M.I. – No dia 3 de Novembro, irão lançar o vosso primeiro álbum. Que nos podem revelar acerca do mesmo em termos de temáticas abordadas, da sonoridade, influências musicais, por exemplo?

O título "Mechanorganism" encerra por si só uma ideia de artificialismo, biomecânica e outros conceitos ligados à vida inumana. Partindo deste princípio, as temáticas aproximam a relação e os comportamentos entre o homem e a máquina, dando uma visão sinistra e intrigante entre estes dois universos. De cenas da vida quotidiana a outras fictícias e criadas de raiz, os temas deste álbum abordam o lado obsessivo do homem e a sua busca pela perfeição, muitas vezes desregrada, feroz e alheia a sensibilidades. Disto resulta também uma sonoridade que tem muito "coração" mas também muito frieza. Ou seja, o metal moderno dos Stampkase deve muito à matemática e caos de uns Meshuggah ou Textures, mas também à melodia de variadíssimos géneros que ajudam a trazer o lado humano para este disco. E com isto acabo por mencionar alguma das nossas maiores influências, embora a banda tenha um gosto muito vasto e oiça desde Dream Theater a Lamb Of God, passando por Fear Factory, Katatonia, Opeth, etc. Este é um disco que acaba por ter mais dinâmica e variedade de ambientes do que se possa pensar a início. 


M.I. – Donde surgiu a inspiração para o título do álbum, “ Mechanorganism “ ?

Por acaso, este título surgiu há vários anos (já não sabemos bem por quem dentro da banda) ainda antes de termos o alinhamento do disco completo ou mesmo algumas das letras concluídas. Na fase de pré-produção passámos a pente fino as letras e algumas sofreram profundas remodelações no sentido de se enquadrarem na perfeição com o título do álbum. Portanto, basicamente o título "Mechanorganism" começou por soar bem ao ponto de acharmos que era perfeito para dar algum norte aos nossos temas, quer lírica, quer musicalmente. Sobretudo, remete para um tema que nos entusiasma imenso e dá azo a muitos cenários e imaginários ou até mesmo pensamentos filosóficos, teorias da conspiração, etc. O disco acaba por não ser conceptual, mas todos os temas estão ligados a uma ideia geral e, sem dúvida, que ajudou-nos a entrar num certo estado espírito mais negro para criarmos os temas, o artwork, etc.   


M.I. - Há algum significado peculiar em torno da capa do álbum? 

Para dizer que sim, era sinal de que talvez soubesse quem era o bebé na capa ou algo do género. [risos] Não sei, para dizer a verdade. Não há propriamente um significado peculiar para além daquele mais "óbvio". Ou seja, a mensagem parece-nos forte e directa o suficiente para pôr as pessoas a associá-la ao título. Para além de magistralmente concebida pelo Colin Marks [Kataklysm, Nevermore, Exodus], a capa transmite perfeitamente a nossa ideia sobre o álbum: estamos revestidos de pele humana, mas seremos assim tão humanos? Achamos verdadeiramente perversa a forma como o homem está disposto no mundo actual e o quão promíscua é a sua acção. 


M.I. – Li na biografia da vossa página oficial do facebook que já tocaram em imensos festivais, tendo pisado até o mesmo palco de algumas bandas internacionais. Como foi viver esses momentos já que já não eram vocês que viam uma banda, mas outros que vos viam?

Sem dúvida alguma que foi no mínimo marcante. Para além de terem sido nomes muito respeitados internacionalmente, alguns deles fazem parte da nossa lista de bandas preferidas, nomeadamente os Mnemic. Foi simplesmente fantástico e, para além das amizades e dos contactos que inevitavelmente se fazem nestas ocasiões, também é importante referir que nos deu bastante projecção e nos permitiu tocar várias vezes num excelente palco como é o Coliseu Micaelense. Todavia, continuamos a ser fãs também. É interessante que fale nos "outros que nos viam", mas a verdade é que isso nem nos passava pela cabeça. O momento de estar em palco é verdadeiramente especial e depois é tudo feito como por um clique, quase como se não estivéssemos ali, mas sim a viajar numa outra dimensão qualquer! [risos] Para além disso, acabamos por ser relativamente novos nestas andanças, apesar dos dez anos de carreira, e gostamos sempre de manter aquele sentimento de como se tudo fosse novo e de estar do lado de fora enquanto fãs. 


M.I. – Também soube que ganharam o “ Concurso Angra Rock “ em 2005. Foi através dessa experiência que sentiram novos caminhos a abrirem-se à vossa frente, como se sentissem que seria mesmo possível tornar o vosso sonho musical real?

Talvez não tenhamos pensado tão além, mas de facto foi indescritível aquele momento, nem que seja porque a banda ainda só tinha dois anos e talvez nem meia-dúzia de concertos. Lemos um anúncio no jornal, marcámos passagem para a ilha Terceira e... voilà, estávamos com o prémio na mão, uns trocos generosos e sem nos apercebermos bem da realidade. Mas sem dúvida que o maior prémio foi o reconhecimento que subiu, não direi em flecha, mas o suficiente para começarmos imediatamente a tocar em festivais virados para as massas. Neste assunto há um misto de alegria e indignação, porque a verdade é que começámos a ser aceites nas festas concelhias, por onde passam milhares de pessoas, apenas porque alguém externo (os júris do concurso, neste caso) disse que tínhamos qualidade. Enfim, é um estigma que atinge muita gente e não apenas a nós. 


M.I. – Já trabalharam com alguns nomes experientes, como André Tavares, Pedro Mendes, José Miranda, Carlos Rijo e Daniel Cardoso, sendo que todos estes nomes já trabalharam com bandas nacionais e internacionais. Muito resumidamente, que palavras encontram para descrever todas estas uniões profissionais?

Necessariamente muito enriquecedoras. Se uma experiência de gravação por si só é sempre benéfica para o crescimento de um músico, imagine a situação com gente deste calibre. Qualquer um deles foi importante para nós. Para além disso, tirando o Pedro Mendes e o Daniel Cardoso com quem temos menos contacto e conhecemos apenas na altura da labuta, todos os restantes nomes eram amigos de longa data. Facilitou-nos o trabalho, o que não quer dizer que com o Pedro e o Daniel tenham havido problemas, antes pelo contrário. Foi tudo demasiado eficaz! E felizmente que foi assim, pois já tínhamos tido alguns problemas com estúdios (completamente alheios ao factor música) antes de escolhermos os Ultrasound para gravar este disco e confesso que já estávamos emocionalmente desgastados. Sem dúvida que ficam muitas coisas engraçadas destes contactos e diga-se que o mais importante é mesmo a sabedoria e os conselhos que sugámos deles. Estamos certamente muito mais aptos a fazer um melhor trabalho de estúdio numa próxima oportunidade e certamente que é assim a cada gravação que um músico concretiza. Escolher estas pessoas foi uma aposta no futuro também. À partida acelera-se um processo de crescimento. Atirámo-nos aos "leões"! [risos]


M.I. – Já têm concertos agendados de promoção ao novo álbum? 

Fazemos a primeira parte dos Ramp no dia 24 de Novembro, em São Miguel. Para além disso, é tudo uma incógnita. Certamente que não vamos baixar os braços, mas para qualquer pessoa que saiba que vivemos numa ilha com cerca de 140.000 habitantes apenas, é facilmente deduzível que é muito complicado resistir como minoria dentro de uma outra minoria - que é o metal, claro está. Agravado pelo cenário de crise, não há grandes expectativas de uma agenda muito preenchida enquanto pisarmos o solo açoriano, mas vamos certamente fazer todas as diligências de forma a proporcionar uma promoção justa a este disco. 


M.I. – Já que o nome da vossa banda remete para “carimbo“ (stamp), aproveitem para deixar, então, a vossa marca aos leitores da Metal Imperium para que estes os possam seguir daqui para a frente.

Soará sempre presunçoso tentar influenciar a mente das pessoas para seguirem as nossas pisadas. Por isso, e sobretudo porque o mundo já está repleto de fantásticos músicos e bandas, esperamos simplesmente que a nossa música não cause danos a ninguém [risos] e que se destaque pela sua maior virtude: a força de vontade que emana dos seus autores. Viver num sítio como os Açores não nos impede de nada, mas complica muito, por isso atingir o feito de lançar um álbum já nos faz sentir, modéstia à parte, como verdadeiros guerreiros. Este álbum foi verdadeiramente arrancado a ferros e, por isso, contamos agora com o apoio e a generosidade de todos para que façam valer a sua existência. Stay metal, stay human.  

Entrevista por Daniela Abreu Freitas