O título “Fin de Siécle” e o próprio artwork do trabalho de estreia deste enigmático duo alemão deixa antever alguns dos principais objectivos da sua música. O termo francês aponta o final de uma era como um período de degeneração marcado pelo pessimismo e decadência. É utilizado para descrever o final do século XIX, com o culminar dos impactos da revolução industrial e o dualismo entre a miséria dos becos e ruas imundas dos grandes centros urbanos e novos decadentes vícios de uma classe burguesa enriquecida. Este imaginário está até reflectido nas indumentárias dos músicos.
Musicalmente, assim que o negrume de “Dekadente Nachte” brota das colunas, são dois os nomes que vêm de imediato à memória - Bethlehem e, com menos impacto, os Secrets of the Moon. Até no termo que utilizam para se caracterizar (“Decadent Dark Metal”) está refletida a enorme influência que os seus conterrâneos têm na música que criam. No entanto, e para todos os efeitos, os Porta Nigra preservam uma identidade própria sendo bem mais estruturados, menos esquizofrénicos e assustadores que os autores de S.U.I.Z.I.D. mas movem-se sempre sob a sua sombra. Nas partes mais ritmadas e percussivas é quando a influência de Secrets of the Moon se revela.
“Fin de Siécle” é no fundo uma interpretação muito pessoal do black metal. É utilizado tremolo picking com abundância, são criadas ambiências muito características através de samples e teclados, as letras são vocalizadas em registo gritado e cantado maioritariamente em alemão.
Um trabalho de estreia excepcional, revelando uma maturidade e consistência difíceis de criticar. Todas as canções funcionam bem, são distintas, as vocalizações são dinâmicas e interessantes. A inteligência, capacidade de composição e ambientes peculiares criados por estes músicos são motivos mais que suficientes para não perder de vista uma banda que acaba de preencher o enorme buraco deixado pelos (velhos) Bethlehem.
Nota: 8/10
Review por David Sá Silva
