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Ensemble Pearl - "Ensemble Pearl" Review


O álbum de estreia e auto-intitulado dos Ensemble Pearl destaca-se, mesmo antes de o começarmos a ouvir, por ser o projecto liderado por Stephen O'Malley dos Sunn O))) e que junta o baixista William Herzog (ex-Jesse Sykes & The Sweet Hereafter), guitarrista Michio Kurihara e o baterista Atsuo, estes dois últimos, ambos dos  Boris. Portanto, antes mesmo de ouvirmos o quer que seja, podemos esperar daqui o mega projecto drone. Não é bem o que temos.

Seis faixas, em que as primeiras são mais curtas e as últimas as mais longas, em o ouvinte é puxado para algo que não consegue bem perceber o quê. Sejam as primeiras faixas mais curtas que atraiem o ouvinte para uma espécie de armadilha sonora em que com o lento desfilar de notas de "Ghost Parade", sem muita distorção (o que só por si, constitui logo uma surpresa) e sons que marcam um ambiente claustrofóbico e desagradável; ou mesmo o suave ritmo quase dub que "Painting On A Corpse" transmite, se o dub fosse feito por uma banda de rock psicadélico a tripar em ácidos letárgicos; ou até mesmo a falsa doce melodia de "Wray", que em crescendo, vai instalando um sabor de estranheza viciante.

Na segunda metade do álbum, é aí que os Ensemble Pearl realmente vão até ao limite, pegando em todos os elementos das primeiras músicas e levando-as até ao extremo. A lentidão desagradável de "Island Epiphany" que entre o crescendo lento vai demonstrando ao mesmo tempo os dotes de Atsuo na bateria, criando um ritmo seguro e hipnótico, quase ritualista, que leva à aparição da guitarra distorcida, sendo doze minutos dignos de uma cena de tensão de um qualquer filme de suspense. "Giant", por seu lado, é suave. Suave como o efeito de strings ou pads feitos a partir de distorção (que pode ser confundido com um enxame de abelhas a andar a rondar as colunas) e que não é menos tenso por causa disso. Aliás, antes pelo contrário. Muito pelo contrário. As notas a crescerem nos tons chegam  a um ponto quase insuportável

O álbum finaliza com um épico de quase vinte minutos, que representa bem o que o álbum é, uma viagem pela escuridão, por vezes com algumas frinchas de luz, por vezes com alguma frieza, como se fosse debaixo da terra. Mais uma vez a bateria de Atsuo brilha, e o eco quase que a torna apropriada para a banda sonora de algum filme de Western conceptual - porque não western spaghetti? - e faz com que o ouvinte se perca definitivamente. Quando a música acaba, quando o álbum acaba (de repente) a pergunta que fica na cabeça é... "Por onde raio andei eu?". Não se sabe, mas há vontade lá voltar, definitivamente. Não é álbum para ouvir todos os dias, mas sem dúvida que é um trabalho que tem que se ouvir. Mais que não seja como desafio.
 
Nota: 7.8/10

Review por Fernando Ferreira