Agora que o choque de Black Gives Way To Blue já passou, é hora de finalmente esquecer o passado e abraçar aquilo que são hoje os Alice in Chains. Afinal de contas o “coração” pode ter parado, mas o “cérebro” sempre lá esteve, e pouco a pouco vamos percebendo que o lendário colectivo está a ganhar uma nova alma, o que acaba por ser um dos grandes manifestos de The Devil Puts Dinosaurs Here, o novo disco da banda de Seattle.
Isto porque de certa forma este é o álbum que, para o bem ou para o mal, irá desvanecer algumas dúvidas que ainda poderiam subsistir desde a edição de Black Give Way To Blue. A começar pelo rumo tomado pela banda. The Devil Put Dinosaurs Here não sendo tão melancólico como o anterior, mantém o mesmo peso, mostrando a cada vez maior inclinação da banda para o sludge.
Mas não esquecer aquele que será sempre o grande motivo de discussão dos Alice in Chains deste novo milénio, a valia de William DuVall. Agora com mais espaço no campo vocal, o vocalista mostra a sua enérgica voz ao mesmo que tempo que o entrosamento das harmonias com Jerry Cantrell é cada vez maior. A juntar a isso os seus dotes de guitarrista e temos um elemento já totalmente identificado e entrosado com a banda.
Com a habitual dissonância que sempre os caracterizou, a banda lá vai espalhando toda a sua categoria através de grandes malhas, sempre com as guitarras como base, mas com secção rítmica de Inez e Kinney mais sólida do que nunca. Porventura talvez se sinta a ausência de pelo menos um tema passível de se juntar à galeria dos temas imortais dos Alice in Chains, fazendo de The Devil Put Dinosaurs Here quiçá o disco menos marcante da carreira do colectivo.
No entanto este vale essencialmente pelos pormenores. Desde as belíssimas melodias vocais dos acústicos Choke e Voices (é bem conhecida a tradição da banda nestes registos), passando pelos excelentes solos de Hollow e Low Ceiling. E quando vemos que 23 anos após a edição de Facelift, Jerry Cantrell ainda consegue escrever riffs demolidores como os de Stone ou Phantom Limb, então é inevitável não começar a encarar o músico como uma lenda viva do Rock, mostrando o paradigma máximo de “less is more” aplicado à guitarra.
Com a infame letra do tema título: “The devil put dinosaurs here / Jesus don’t like a queer / No problem with faith / just fear”, os Alice in Chains estarão também sujeitos a chatear muito boa gente, apresentando um conteúdo político menos subtil do que no passado, o que mostra o quão confortável a banda se sente hoje em dia.
The Devil Put Dinosaurs Here é acima de tudo um teste à vitalidade do colectivo de Seattle, que passa distintamente. Falta-lhe aquele algo que todos sabemos o que é, e que será sempre insubstituível, por melhor que DuVall o seja, e é. Mas é algo que temos que aprender a conviver, e dar graças por podermos continuar a ouvir discos novos de Alice in Chains.
Nota: 8.7/10
Review por António Salazar Antunes
