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Ephel Duath - "Hemmed By Light, Shaped By Darkness" Review


Os italianos do som avant garde estão de volta, apenas um ano depois do interessante EP "On Death And Cosmos". É o primeiro álbum de originais em cinco anos, portanto, não deixa de haver uma certa curiosidade em relação ao que se pode ouvir aqui, se bem que este "Hemmed By Light, Shaped By Darkness" é a continuação lógica em termos de som daquilo que se pôde ouvir no EP do ano passado. Música um pouco incatalogável (e quando assim é, a tentação para usar o termo avant garde e jazz é muito grande), com um falso sentido de progressão. Já lá vamos. A formação base mantém-se a mesma com David Tiso a liderar e Karyn Crisis em conjunto com Marco Minneman (que show de bateria que este homem dá) a manterem-se de pedra e cal. Steve DiGiorgio saiu (o que também era previsível, dado o histórico do músico), sendo substituído por Bryan Beller (que faz parte da banda fictícia Dethlok, criada para o programa de desenhos animados, "Metalocalipse").

Tal como aconteceu no trabalho anterior, cada música aqui parece uma viagem, mas ao contrário do que se poderia prever, esta viagem é feita dentro do mesmo espaço, tendo a ilusão de que se está andar, apenas para se descobrir que se esteve sempre no mesmo sítio. Músicas como a "Tracing The Path Of Blood" são o exemplo de como uma música parece ir de um ponto A para o ponto B, quando na verdade fica apenas nas redondezas do ponto A, depois do que parecia ser uma caminhada para ganhar balanço para chegar a um sítio diferente do de origem. Esta sensação de falsa progressão poderão irritar os mais impacientes, mas este facto não faz com que seja um desperdício de tempo. Apenas é um exercício de extrema paciência, indicado para aqueles que têm a mente aberta em relação à sua abordagem com a música - daqui surge a justificação do emprego do título "jazz".

Com as faixas a rondarem em média os sete minutos, tirando a instrumental "Hemmed By Light", que tem quase dois minutos e que deve ser vista como introdução da "Shaped By Darkness", como sugere o título do álbum, fica a ideia de que as músicas acabam apenas porque sim. Ou porque faltou a luz, ou porque estava na hora do jantar, ou porque tocaram à campainha. Não há um real sentido de fecho, de encerrar do tema, de cada tema. E isso poderá ser uma barreira intransponível para a maioria dos apreciadores de música extrema, embora quem aprecie os trabalhos mais recentes dos Deathspell Omega poderá ter parte do trabalho facilitado. De salientar também o conteúdo lírico, focado numa busca por paz interior, enfrentando tudo o de bom e de mau que tal jornada traz. Em termos sonoros, está imaculado, com uma força e qualidade cristalina, que só favorecem às músicas, fruto de uma excelente produção por parte de Erik Rutan (que também participa com um solo em "Within This Soil").

É um álbum desafiante que nos dias de hoje só levará a dois tipos de reacções, amor e ódio. Amor por aqueles que conseguiram desconstruir e apreciar a música como um todo e ao mesmo tempo, apreciando os infindáveis pormenores aqui contidos. Ódio por aqueles que tentaram retirar algo sem sucesso após sucessivas audições e por aqueles que nem sequer o conseguiram fazer, colocando-o logo de parte. Seja como for, é um álbum que talvez os coloque num labirinto criativo, mas que por agora satisfaz pela sua qualidade evidente. No futuro logo se vê se conseguem (ou querem) sair do labirinto ou não.


Nota: 7.4/10


Review por Fernando Ferreira