Depois de um par de discos a puxar para o medíocre e de há dois anos terem lançado o sofrível "Dark Adrenaline", os Lacuna Coil trazem-nos este ano uma boa surpresa na forma de "Broken Crown Halo".
Dizer que este disco é uma lufada de ar fresco face à tendência que a banda tinha vindo a apresentar desde "Karmacode", é estar a ser generoso. Não querendo traçar paralelismos entre a sonoridade de "Broken Crown Halo" e dos já distantes "In a Reverie" e "Unleashed Memories" há, sem dúvida, alguns traços comuns entre os discos, mas sempre com esta recente modernidade já característica do colectivo. Olhando para o a ambiência geral e até mesmo para o conteúdo lírico, quase que apetece dizer que os Lacuna Coil ousaram compor uma espécie de banda sonora pós-apocalíptica, porventura inspirados nos inúmeros franchisings de videojogos de hoje em dia.
E até certo ponto o conseguem. Ainda que não seja uma obra de proporções propriamente épicas ou sinfónicas, "Broken Crown Halo" consegue reunir alguns dos elementos necessários para nos transportar para esse universo alternativo, apenas com o uso dos instrumentos habitais. Resultado disso, este disco acaba por ser bastante diverso. Quem diria que os Lacuna Coil ainda conseguiram escrever um riff intenso como o do pesado "Zombies", um dos melhores temas do disco. "Victims", por exemplo, é a composição que melhor captura a costela gótica do passado, enquanto "I Forgive (But I won’t forget your name)", traz-nos um dos melhores refrõess que os Lacuna Coil fizeram nos últimos tempos. Mas em cada tema há algo para ser apreciado e, desta vez, até mesmo Andrea Ferro tem uma prestação segura, sem comprometer, fazendo cada vez maior uso das vocalizações mais ásperas, ao invés do seu habitual estéril tom mais limpo.
Certamente que o carisma de Cristina Scabbia continua a ser o grande abono de família dos Lacuna Coil, e fica difícil analisar até que ponto a qualidade do disco, mesmo aludindo a tudo o que foi dito atrás, não estará directamente ligada à voz da italiana, cada vez mais versátil e empolgante. Talvez o grande desafio de "Broken Crown Halo" seja a sua capacidade em conseguir resistir ao teste do tempo, pois a etiqueta de validade destes temas é por demais evidente. Para já mais vale é ir desfrutando-os.
Review por António Salazar Antunes
