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Spectral Lore – “III” Review


Apesar do título, “III” não é o terceiro, mas sim o quarto álbum a ser lançado sob o nome Spectral Lore, a one-man-band de black metal atmosférico do multi-instrumentista grego Ayloss e, se tivermos em conta que, no que diz respeito a black metal, a Grécia já fez nascer nomes que se expandem para lá dos cânones do género como é o caso de Septicflesh, Nightfall ou Rotting Christ, sendo que os dois últimos já não podem ser considerados black metal, apesar das raízes do género se manterem vivas na sua música. Contudo, a sonoridade de Spectral Lore mantêm-se bem firme dentro deste subgénero, ainda que seguindo as pisadas progressivas do anterior “Sentinel” e expandindo-as muito mais, elaborando um álbum denso e extenso, muito extenso, pois estamos a falar de um duplo CD que na sua totalidade chega aos 85 minutos, pois o que o constitui são sete temas com uma média de 15 minutos cada um, mas não há que temer a possibilidade de “III” ser aborrecido já que Ayloss sabe compor temas em que cada minuto transborda de qualidade.

Se há uma palavra que podemos usar para classificar estes dois discos ela é variedade, uma palavra que não se vê muitas vezes associada ao black metal. Assim que se mete “Singularity” – o nome do 1º disco – a tocar, “Omphalos” entra ruidosa e estende um tapete de destruição à medida que se vai desenrolando, porém, a meio do tema surge o ponto de viragem: a guitarra começa a puxar por notas mais agudas e começam a surgir melodias que se poderiam pensar bastante improváveis nos primeiros minutos da canção. Segue-se “The Veiled Garden”, um tema que se introduz com uma forte tendência para o doom; tendência essa que se vai arrastando e arrastando até chegar a um quase funeral doom e depois, quando se pensava que dali para a frente as coisas só podiam manter o peso megalítico, o tema muda com subtileza para um nada subtil e rápido tornado de música extrema. A partir desse momento, “III” já tem a atenção total do ouvinte e não o desaponta, lançando um tema forte, vibrante e épico como “The Cold March Towards Eternal Brightness”, cuja parte final tem uma aura folk/ medieval. O segundo disco, “Eternity”, desenvolve o lado mais épico do trabalho de Ayloss com dois temas que se mantêm na onda de “The Great Cold March (…)” mas que conseguem trazer em si uma intensidade e uma beleza (lá está outra palavra que não se vê muitas vezes associada ao black metal) ainda maior antes de encerrar a obra com os ambientes sonhadores do instrumental “Cosmic Significance”.

Do princípio ao fim, pode-se ver “III” como uma jornada de ascenção do abismo mais fundo para o cosmos infinito, a nível musical é um álbum que sabe usufruir do seu longo tempo de duração para explorar tanto o seu lado atmosférico como o progressivo, evitando ao máximo a existência de momentos mortos. Ayloss é capaz de ver o seu projecto subir de patamar no underground graças a este disco merecedor de fazer parte da colecção de qualquer apreciador deste género de música.

Nota: 9/10

Review por Tiago Neves