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Ne Obiviscaris - "Citadel" Review



O início de "Citadel" impõe respeito. Com uma intro intitulada "Painters Of The Tempest (Part I: Wyrmholes)", a coisa toma proporções cinematográficas de horror, algo que "Painters Of The Tempest (Part II: Triptych Lux)" confirma e simultaneamente transpõe. Este épico de dezasseis minutos é uma viagem que todos os que se dizem amantes de música intricada e complexa devem ouvir. Misturando a complexidade do jazz, com o extremismo do metal, estruturas do progressivo e a excelência da música clássica, é uma verdadeira obra de arte. De tal forma que quando chega ao final, foi-se a tantos sítios, sentiu-se tantas emoções, viu-se e ouviu-se tanta coisa que mais pareceu um álbum inteiro. E basta essa mesma faixa para verifica a evolução brutal que a banda teve em relação à estreia, que apesar de ser apontada como uma obra maior, foi alvo de algumas críticas (pequenas se comparadas com o trabalho em si).

Aqui tudo corre bem, tudo resulta. As pequenas faixas instrumentais são de uma beleza ímpar, também todas com sensações diferentes a transmitir, desde o feeling claustrofóbico da já referida "Painters Of The Tempest (Part I: Wyrmholes)" até à beleza esmagadora da "Painters Of The Tempest (Part III: Reveries) sem esquecer a "Devour Me, Colossus (Part II): Contortions", intensa e algo desconfortável - sendo que o elemento chave para cada um destes adjectivos em cada canção é o violino. Mas quem for adepto da brutalidade mais sem contemplações, basta ir até à "Pyrrhic" e deliciar-se com os seus blastbeats, pedal duplo e ao mesmo tempo melodia viciante. A "Devour Me, Colossus (Part I): Blackholes" também não deixa de parte a brutalidade, embora esta ofereça um número maior de estados de espírito e sensações a transmitir.

Tudo isto poderá soar a pretensionismo, toda esta complexidade e verborreia nos títulos das canções mas é apenas um daqueles síndromes que irritam sobejamente: ter um miúdo que tem ares de cagão (podendo até não o ser) por ser excelente neste ou naquele campo, ou em todos eles, e ficar irritado com ele porque ele é REALMENTE bom. É o que se passa aqui. Não é hype infundado e injustificado (até porque quando se tem o conservatório de Sydney a considerar que o trabalho é digno de ser ensinado aos seus alunos, não será de todo estranhar da qualidade do mesmo), não é música para pseudo intelectuais. É uma obra de arte em pouco menos de cinquenta minutos, num álbum praticamente inesgotável, por tudo aquilo que se retira a cada audição mas principalmente pelo prazer que proporciona. Para quem tinha saudades das extravagâncias prog dos anos setenta, tem aqui delírio suficiente para mais quarenta anos.


Nota: 9.6/10

Review por Fernando Ferreira