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Entrevista aos Thulcandra

“Ascension Lost” é o terceiro álbum dos germânicos Thulcandra que começaram como banda de tributo aos Dissection e agora reclamam o seu próprio lugar no underground. Steffen Kummerer esteve à conversa com a Metal Imperium.


M.I. – Thulcandra significa “O Planeta Silencioso” e foi inspirado na trilogia espacial de C.S. Lewis. Porque escolheste este nome? 

Não fomos buscar o nome Thulcandra à trilogia de C.S. Lewis. Há uns anos os Darkthrone gravaram uma demo com esse nome. A demo é simultaneamente extrema e apelativa. Agarramos nesse nome porque soava bem, sem ter qualquer tipo de ligação ao C.S. Lewis.


M.I. – Um dos seus membros fundadores da banda cometeu suicídio…. Quão complicado é perder um amigo nessas circunstâncias?

Basicamente fez com que a banda ficasse inactiva durante três anos até eu ouvir novamente as demos que tinham sido gravadas. Na altura, soou-me como algo inacabado. Quando começamos a banda, tivemos a ideia de gravar um álbum mas só gravamos uma demo de 4 temas que nunca foram misturados e, portanto, nunca foram lançados. Também ficaram imensos riffs e ideias por explorar. Para mim, foi um alívio quando o nosso álbum de estreia “Fallen Angel’s Dominion” finalmente saiu em 2010. O álbum foi dedicado ao Juergen e foi em honra dele que terminei algo que tínhamos começado juntos. Para os verdadeiros fãs da banda que me pediam há muito tempo as demos originais, nós misturámo-las durante as sessões de “Ascension Lost” nos Woodshed Studios e acrescentámos estas faixas na edição especial e nos vinis do novo álbum. Exactamente dez anos após as termos gravado.


M.I. – Nos vossos álbuns, a influência dos Dissection é evidente tanto no som como nas imagens. Quão importantes foram os Dissection na criação e trajectória dos Thulcandra?

Bem,  a banda foi fundada como tributo para tocar na veia de bandas do início dos anos 90, tais como Dissection, Unanimated, Eucharist, entre outras. O Dissection foram a banda mais importante e bem sucedida dessa altura. Os seus álbuns e demos, ainda hoje, são das minhas favoritas, por isso a sua influência na banda é demasiado importante.


M.I. – O que sentes quando te comparam com os Dissection?

Considerando que começamos esta banda como tributo, atingimos o nosso objectivo a 100%.


M.I. – O primeiro álbum foi melhor recebido do que o segundo… como será a reacção ao terceiro álbum? 

Todos os álbuns são diferentes. Enquanto que o álbum de estreia “Fallen Angel’s Dominion” foi escrito com diferentes membros, “Under A Frozen Sun” foi escrito como um todo. Enquanto todos os outros temas foram compostos antes de gravarmos uma única nota, “Ascension Lost” é completamente baseado em riffs e contém um sentimento mais rock e old school. Temos recebido críticas boas, excelentes e decentes de cada álbum. Os nossos fãs mantêm-se leais e apoiam-nos desde que lançamos “Fallen Angel’s Dominion” e isso é o mais importante de tudo.


M.I. – O terceiro álbum costuma decidir o futuro da banda… tendes expectativas? Ainda consideras os Thulcandra como uma banda tributo aos Dissection?

Em termos de escrita, acredito que definimos o nosso som no segundo álbum. Ainda nos considero como tributo, mas mudamos a perspectiva e o modo de escrever música em geral. Eu não negligencio as minhas raízes, e as raízes são todas as bandas que tocam este género musical. Para além dos grandes Dissection, também devo salientar bandas que escreveram riffs espectaculares e temas mas que nunca andaram em tournée, como The Moaning, Dawn, Carnial Sin, Unanimated ou Sacramentum.


M.I. - “Ascension Lost” foi o primeiro álbum gravado e produzido no teu estúdio Klangfabrik Landshut. Como foi trabalhar no teu próprio espaço, ao teu ritmo?

Foi a primeira produção nas minhas instalações e considero-o um passo determinante. Estou ansioso com as gravações e produções de outras bandas. Finalmente tive a liberdade de poder gravar as vezes que achei por bem até estar tudo conforme eu pretendia, sem ter de pensar no tempo que tínhamos planeado em estúdio. Para a mistura e masterização fomos ao Woodshed Studio do Victor Bullok (Obscura, Triptykon, Dark Fortress) para termos uma ponte de ligação com o som dos álbuns anteriores. O resultado é como eu tinha imaginado, quer em termos de dinâmica e de sentimento, está tudo exactamente onde deveria estar.


M.I. – A capa do álbum foi feita novamente por Kristian Wåhlin, que desenhou capas para Dissection, Emperor, Dark Funeral, At the Gates e Sacramentum. As vossas capas serão sempre nesta linha ou os três primeiros álbuns são uma espécie de trilogia?

Tem mais a ver com o modo como o Kristian Wahlin aborda os temas já que ele desenha e pinta a óleo, ou seja da maneira clássica que encaixa melhor na nossa música old school do que qualquer cena feita com o Photoshop. Eu adoro o trabalho que ele fez para os Dissection e os At The Gates e também o que fez para os Dark Tranquility e Ablaze My Sorrow, apesar de esses serem mais facilmente/frequentemente esquecidos. Não há trilogia nas capas mas, para mantermos o conceito visual numa base constante, eu trabalho com os mesmos artistas em todas as bandas. Isso ajuda a criar a identidade da banda, para além da música.


M.I. – A capa é o único elo de ligação entre os álbuns ou há temas recorrentes em todos eles? 

Nós enviamos ao Kristian toda a pré-produção e letras, referindo o que tínhamos em mente para a capa. No final, o Kristian é que une tudo e desenha de acordo com a sua própria interpretação. É a influência dele e a sua decisão pessoal como artista e ele deve ter a sua marca pessoal em todos os álbuns.


M.I. – O trabalho vocal do Steffen Kummerer neste álbum tem sido muito elogiado. Que tipo de treino vocal fazes? Tens cuidados diários ou só durante as gravações?

Basicamente só ensaio regularmente e toco ao vivo o máximo possível. Com o passar dos anos, desenvolvi a minha voz sem pensar muito no assunto. No estúdio sei como conseguir o melhor da minha garganta mas ao vivo depende das circunstâncias. Se fico doente, que acontece ocasionalmente quando ando em tournée, a voz pode soar terrível. Mas se estou bem preparado para fazer as gravações de um álbum como em “Ascension Lost”, a voz simplesmente me naturalmente.


M.I. – Há algumas edições limitadas do novo álbum que incluem uns pequenos presentes como posters exclusivos, a demo de 2005, patches. Porque decidiram incluir estas ofertas? Para atrair mais fãs? É decisão vossa ou da Napalm?

Estas ideias são pensadas em conjunto. Eles acharam que seria bom ter algo especial no terceiro álbum e optaram pelo digipak. Mas a decisão quanto ao desenho e o material extra a ser incluído é totalmente nossa. Quanto à demo, é algo que tínhamos vindo a pensar ao longo dos anos, em como a lançar devidamente. Infelizmente a demo só tem 4 faixas, portanto não era viável lançá-la em separado. O facto de terem passado 10 anos e de termos a edição em vinil fizeram-nos escolher estes temas especiais. Também já há muito que os fãs me perguntavam por este material.


M.I. – Thulcandra estão na Napalm Record desde o primeiro álbum. Estais completamente satisfeitos?

A Napalm Records está a fazer um trabalho estupendo a distribuir o álbum e partilham as suas ideias connosco. Já trabalhamos juntos há 3 álbuns e é um prazer trabalhar com uma editora que apoia o que fazemos. Neste álbum eles concretizaram o nosso desejo de ter uma edição em vinil e fico muito orgulhoso e grato.


M.I. – 2015 está a correr bem já que estais prestes a lançar o álbum “Ascension Lost” e o Steffen anunciou, na sua página oficial do facebook, que há mais projectos como livros, pedais e produções a surgir.  O que nos podes dizer mais? 

Estamos ansiosos que o álbum saia pois temos recebido muitas críticas positivas. Neste momento, estamos à procura da tournée certa para promover o álbum para além dos festivais que já estão confirmados. Para além dos Thulcandra, eu escrevo música e tablaturas para bandas que estão prestes a lançar álbuns. Também tenho estado a desenvolver, juntamente com um amigo, o nosso próprio pedal de efeitos para guitarra que será lançado em breve e está a ser um grande projecto para 2015. Os Obscura também lançarão um álbum em breve, que terá direito a tournée internacional… o ano estará cheio de concertos, gravações e trabalho no estúdio. Em Fevereiro e Março, farei parte da tournée “Symbolic” dos Death DTA como vocalista/guitarrista e tal será muito especial para mim.


M.I. – Os membros da banda estão envolvidos noutros projectos. Em que projectos tens trabalhado/colaborado? Qual é a tua prioridade?

As duas bandas que criei foram os Obscura e Thulcandra, fundei-as de raiz e absorvem toda a minha atenção. Para além dos concertos dos DEATH DTA, não estou integrado em mais nenhum projecto ou banda. Trabalhar como músico de sessão para outros ou trabalhar num só álbum com um grupo não é do meu agrado.


M.I. – O Steffen pediu para ser vocalista nos concertos de tributo dos DEAT DTA em 2012 mas não conseguiu por problemas na aquisição do visto. Qual a tua relação com os DEATH DTA hoje em dia?

Esse foi um momento doloroso na minha carreira. Era suposto eu sair da tournée japonesa com os Obscura e ir para Los Angeles, ensaiar dois dias e fazer a primeira tournée com os DEATH DTA, mas o processo de conseguir um visto de trabalho para os EUA é quase como uma lotaria para as bandas estrangeiras. Tentamos que se tornasse realidade e, durante 4 longos meses, esperamos uma resposta positiva por parte da Embaixada em Munique, tentando tornar tudo possível, mas tal não aconteceu. No final, acabei por ficar sozinho em Tóquio a ver os concertos esgotados em todo o lado. Entramos em contacto com o Matt Harvey dos Exhumed uma semana antes da tournée começar por acharmos que podia surgir algum problema na entrada do país. Ele entrou em cena e salvou a tournée no último minuto. Demorei 2 anos a aceitar esta situação já que fiquei frustrado de todas as maneiras possíveis e imaginárias. Em 2013, durante a tournée europeia dos Obscura e Death DTA, eles convidaram-me como músico para essa tournée, a tour sul americana, os festivais na Europa e a que decorrerá este ano. A banda e a equipa assim como o Eric Greiff tornaram este projecto possível e, na minha perspectiva, é muito bom.


M.I. – Durante a tournée sul americana dos Death DTA, um fã ofereceu-te uma guitarra personalizada dos Obscura. Como sentes/reages quando os fãs demonstram a sua dedicação à tua música/pessoa?

Foi algo inesperado e surpreendeu toda a gente. O fã fez mini cópias de guitarra em carbono para todos. Claro que fico honrado quando os fãs fazem coisas destas. A cópia da guitarra foi um exemplo, mas há fãs que escrevem teses completas sobre os nossos álbuns, fãs que fazem bolos com o nosso logo. Com o death metal não enriquecemos. Tocamos para os fãs e por eles é que vamos em tournée. Sem a nossa base de fãs dedicados e leais não tocaríamos para ninguém! 


M.I. – Muitas bandas mantêm-se em contacto via internet e enviam riffs e melodias para dessa forma pouparem trabalho. Como é que vós funcionais? 

Claro que usamos a internet para comunicar mas, como somos uma banda old school, juntamo-nos uma vez por semana para tocar os nossos temas.


M.I. – Os fãs Portugueses estão ansiosos que os Thulcandra venham cá. Partilha uma mensagem com eles.

Nós adoramos tocar em Portugal. Contactem-nos e nós vamos aí. Lembro-me de concertos no Porto e em Lisboa há uns anos e foram espectaculares. Fãs loucos e hospitalidade soberba! Esperamos ir a Portugal em breve.


Entrevista por Sónia Fonseca