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Reportagem: Festival Bardoada e Ajcoi 2019 @ Pinhal Novo - 05/10/19


O dia 5 de Outubro, feriado nacional que celebra a Implantação da República, foi este ano escolhido para a realização de mais um Festival Bardoada. Em dia de reflexão antes das eleições legislativas, a tribo da música pesada rumou ao Pinhal Novo, para testemunhar mais um grande evento dedicado ao underground, nascido da carolice do Igor Azougado e da sua equipa da Bardoada e AJCOI.


O evento de 2019, em relação ao ano anterior, teve apenas um dia de duração, mas a adesão mostra que o público gosta do festival e marca presença. Mantendo a tradição do evento, a banda local Honey Bones estreou o palco, perante um punhado de presentes. O trio dá os seus primeiros passos nos trilhos do rock e os cinco temas apresentados parecem indicar um caminho interessante. Já os Rivertied, apesar de muito jovens de idade, levam alguns anos nisto, tendo evoluído das covers para os originais. "Game Over", "Chainsaw Juliet" e a versão de "Killing in the Name" dos RATM ficaram no ouvido.


De Odemira chegaram os Suspeitos do Costume, que tinham na plateia bastantes amigos ansiosos de ouvir ao vivo o novo CD “Salve-se Quem Puder”. Lançado poucos dias antes, foi com "Razão" que a nova formação dos alentejanos - com a inclusão do guitarrista Adriano Almeida, a libertar Rui Manilha somente para funções de frontman - deram início a um concerto que tocou na íntegra os temas do novo lançamento, intercalados pelos clássicos do disco de estreia "Remar Contra a Maré", do já distante ano de 2015. Faltaram, obviamente, os convidados do disco, o brasileiro Lucas Guerra no excelente "Ninguém os quer Ouvir" e o Capitão Solidão dos Boca Doce na excelente versão de "Lisboa Menina e Moça" de Carlos do Carmo. O novo disco soa muito bem ao vivo e a plateia reagiu a temas ainda desconhecidos por muitos, mas no final, depois do grande "Remar Contra a Maré" foram vários que se dirigiram à banca para adquirir a rodela.


Os My Master The Sun vieram mostrar o sludge doom ao Pinhal Novo, com um alinhamento que incluia sete temas, um deles "Fraco", o avanço para novo lançamento. Já com uma plateia a começar a mostrar números interessantes, os temas longos e hipnóticos dos lisboetas, mostraram uma banda com  talento e que agarrou todos junto ao palco.


Já os barreirenses New Mecanica deram um dos melhores concertos do dia, com "Vehement", o disco do ano passado a ser magistralmente tocado no Bardoada. Dinho é um excelente frontman e não deu tréguas, revisitando apenas dois temas mais antigos da vida da banda. "Two Worlds", com a presença em palco do grupo de percussão Karma Drums, antecedeu o final com a dupla "Never Fade" e "Lost Paradise", ficando demonstrada grande energia e adaptabilidade por parte da banda.


Mudança de chip para um projecto completamente diferente, no espectro musical nacional: os Empty V. Máscaras de gás protegiam a identidade do trio de executantes, enquanto as faixas do seu único disco, "Mus-Pi", eram tocadas com o auxílio de vozes pré-gravadas. No meio de fumo e luzes estrategicamente colocadas, a música de pendor industrial dos Empty V ganhou mais fãs.


O caos seguiu-se em palco, com a presença de Igor Azougado e João Arroja, a dupla que dá pelo nome de Shivers. Envergando um delicado tu-tu vermelho, Igor iniciou o bailado a partir ao meio a sua guitarra, enquanto a plateia delirava com os temas de “Azeite Com Distorção”. “Isto não é uma discoteca, é um festival underground!”, grita Azougado sobre a trilha tecno e envia um barco insuflável para meio do público. Salve-se quem puder desta loucura catártica, que incluiu o palco cheio de gente, fogo de artifício e muito (e bom) rock'n'roll.


Apesar de ter sido reduzido para um dia, o Festival Bardoada deste ano contou com três bandas que facilmente podiam ser cabeças de cartaz do evento. Coube aos Viralata iniciar essa sequência, dando sem sombra de dúvida o melhor concerto do festival. Hinos punk rock de fio a pavio foram a receita do sucesso da banda lisboeta, com o recinto a explodir de testosterona. Com um alinhamento mais reduzido face aos 50 minutos de concerto, "Assalto" antecedeu uma "FAMEL" cantada em uníssono pela família do punk presente. A banda quase nem precisava cantar, tal a participação da plateia, e quando chegou a altura de receber o “Lúcio Fernando” (que contou com a ajuda de Zorb dos Dalai Lume na voz), a sala explodiu num mosh pit que não parou até final. E que final! "Carocho", "Vai um Copo" e "Estamos Juntos" a arrasar!! O público queria mais mas horários são para cumprir. Ficou também o aviso que vai haver disco novo dos Viralata para o ano!


A segunda banda que bem poderia fechar o Bardoada 2019 é uma instituição do punk rock nacional. Os Mata Ratos levam muito tempo nisto e mal ecoa “Napalm Na Rua Sésamo” o alvoroço é geral. As novas faixas “Tsunami de Cerveja” e “Canibais do M’aara” estão na ponta da língua da plateia mas são os clássicos “Xu-Pa-Ki”, “C.C.M.” ou “Dança Com A Merda” que mexem mais com todos, num concerto necessariamente curto e onde ficaram de fora dezenas de excelentes hinos dos Ratos.


Das três bandas que poderiam encerrar o Bardoada deste ano, foram os RAMP os eleitos, e a quantidade de metaleiros em frente ao palco, rapidamente mostrou que a banda da margem sul estava em casa. Apesar de não ter novidades discográficas desde "Visions", a banda de Rui Duarte mostrou "Catatonic", que segundo a banda poderá fazer parte do que será "o último disco dos RAMP". “How?” e “Hallelujah” mostraram uma banda coesa e excelente em palco, e a sequência final com “Anjo da Guarda” (versão de António Variações), “All Men Taste Hell”, “Black Tie” e “Try Again”, a mítica cover dos Spermbirds, fechou mais uma edição do Bardoada, que irá continuar em 2020. E ainda bem!!

Texto e fotos: Vasco Rodrigues
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Agradecimentos: Festival Bardoada e AJCOI