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Reportagem: Lisbon Tattoo Rock Fest 2019 @ Altice Arena, Lisboa


A Sala Tejo da Altice Arena voltou a ser o epicentro da comunidade underground portuguesa, recebendo durante os dias 29 e 30 de novembro e 1 de dezembro, a nova edição do Lisbon Tattoo Rock Fest. Este ano, o cartaz musical apresentava nomes de inegável qualidade, como Madball ou o regresso dos "velhinhos" Ugly Kid Joe, inicialmente com atuação prevista para a Altice Arena mas posteriormente alterada para a Sala Tejo. Se a edição deste ano mostrou muito maior adesão do público a todo o evento (e não apenas aos concertos), infelizmente o primeiro dia acabou por ser mais fraco que os demais. Batiam as 21 horas quando os GoBabyGo subiram ao palco, para iniciarem a vertente musical do certame. A promover o segundo disco "Dizzizz, o quarteto do Porto conseguiu desviar alguns curiosos das bancas de tatuagens e dançar ao som da sua amálgama de sonoridades, que tão depressa entra pela dance music como interrompe para vozes guturais, speedcore e loucura em barda. "Mémé" e o seu sample "eu sou uma ovelha" deve ter ficado no ouvido de todos nessa noite... O barreirense Fast Eddie Nelson foi o senhor que se seguiu. Em versão quarteto, Fast Eddie fez ecoar o seu garage rock pela Sala Tejo, divulgando o novo "High on Reality", para algumas dezenas de resistentes.


O segundo dia do Lisbon Tattoo Rock Fest prometia encher a Sala Tejo, face à qualidade das duas bandas escaladas para o evento. Pelas 21 horas subiram ao palco os Carnivore AD, a banda de Brooklyn que continua o legado de Pete Steele pós Type O Negative, com o guitarrista original Marc Piovanetti e o imponente Baron Misuraca no baixo e voz ao melhor estilo de Steele. Oscilando entre os dois discos da banda, "Carnivore" de 1985 e "Retaliation" de 1987, a plateia vibrou com clássicos como "God is Dead", "Ground Zero Brooklyn" ou o excelente "Sex and Violence", a terminar uns rápidos 45 minutos em palco, para a estreia em Portugal dos Carnivore AD. Mas a sala estava cheia que nem um ovo para o que se seguiria...


Às 22h30 surgem os primeiros acordes de "Set it Off" e a Sala Tejo entra em erupção. Era a vez do regresso a Lisboa dos favoritos da comunidade punk hardcore, Madball. Menos de uma semana depois da passagem dos Agnostic Front, pelo RCA, era a vez de a banda liderada pelo irmão mais novo de Roger Miret, Freddy Cricien, explodir com Lisboa e arredores.


Durante pouco mais de uma hora, a banda nova-iorquina passou em revista a sua discografia, com a plateia a reagir de imediato e até ao final, com mosh pits e algum crowd surfing a músicas como "Rev Up", "For My Enemies", "Doc Martens Stomp" ou "Nuestra Familia". Cricien também não se fez rogado em saltar para junto dos fãs nacionais. No final, tempo ainda de confessarem que estiveram em Lisboa, a gravarem um videoclip com os Devil In Me, e de chamarem Poli Correia para com eles encerrarem em beleza a noite, com "Pride (Times Are Changing)". Excelente!


Já refeitos de terramoto que passou pelo Parque das Nações, na noite anterior, o terceiro e último dia do Lisbon Tattoo Rock Fest arrancou no palco principal, às 18 horas, com os Pink Pussycats From Hell, e que apresentava “Hell-P”, o seu disco de estreia lançado em Janeiro de 2017. O duo entrou em palco mascarado, como habitualmente, com Danger Rabbit na bateria a envergar um fato de coelho branco bastante espesso, e Mighty Hunter na guitarra e voz com a habitual máscara de ski, perante uma plateia ainda muito despedida mas que aos poucos se foi juntando em frente ao palco, para assistir ao seu garage rock.


O palco principal seria ocupado por música apenas pelas 21h, pelo que o público repartiu-se entre as tendas de tatuagens, o Palco 2, que contou com nova performance das fabulosas Fuel Girls, e a exibição e atribuição de prémios do concurso. A essa hora, e enquanto os The Quartet Of Woah! se preparavam para começarem a sua prestação, já a plateia mostrava números favoráveis a um final de evento com a qualidade merecida. Gonçalo Kotowicz, Rui Guerra, Miguel Costa e André Gonçalves não deram tréguas e brindaram os presentes com 40 minutos de rock, focados na sua maioria no excelente "Ultrabomb", o disco de estreia de 2012, se bem que “Days Of Wrath”, do auto-intitulado disco de 2017, tenha encerrado com chave de ouro a prestação dos lisboetas.


A nostalgia invadiu depois a Sala Tejo, com a entrada em palco dos Ugly Kid Joe, eles que marcaram a década de 90, com discos clássicos como America's Least Wanted de 1992 e Menace to Sobriety de 1995. Pais e filhos na plateia, algo que não passou despercebido a um Whitfield Crane, já sem a longa cabeleira loira tão característica mas que incrivelmente mantém a sua capacidade vocal inconfundível. A intro do segundo disco, antecedeu o primeiro momento de explosão de satisfação na plateia, com “Neighbour” a ser entoada pela banda e público em união e a plenos pulmões. Ainda era a primeira música de 90 minutos intensos, com que a banda californiana brindou Lisboa, neste seu regresso à capital, depois de em 1993 ter tocado na primeira parte dos Def Leppard, em Cascais, e em 1995 no velho Estádio José de Alvalade, antes dos Van Halen e Bon Jovi.


Com Whitfield Crane sempre muito comunicativo e a enaltecer o público lisboeta, de quem se lembrava dos concertos anteriores, mostrou uma enorme segurança nos temas seguintes: “Madman”, “Panhandlin’ Prince”, “Cat’s In The Cradle” (nova explosão de regozijo na plateia), “GodDamn Devil” e “So Damn Cool”. Com a banda bastante divertida, foi bem visível o elo de ligação que passa da banda para gerações mais novas, com um jovem de 8 anos da plateia, que nunca mais vai esquecer o dia, em que os Ugly Kid Joe e uma bem composta Sala Tejo lhe cantaram os parabéns. A mesma ligação com o público que levou à surpresa da noite, uma versão de “Ace Of Spades”, anunciada por Whitfield Crane, ao constatar a quantidade de espectadores com t-shirts de Motörhead no público. Verdade ou encenação, caiu muito bem ali. Já com a meia noite a aproximar-se no relógio, palco para uma versão longa de “Funky Fresh Country Club”, ligada a “V.I.P.”, esta nada mais que uma introdução para “Everything About You”, hit máximo dos californianos, a fechar em grande o concerto e o evento de 2019.

Texto e fotos por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Hellxis e organização do Lisbon Tattoo Rock Fest