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Efémero - "Movimento Efémero do Cosmos" Review


Integrante dos albicastrenses Forgotten Winter, Certã lança agora em 2020 um álbum a solo sob o nome Efémero.

É natural que em casos do género haja a tendência para procurar pontos comuns entre a sonoridade da banda original e aquilo que se faz em “nome próprio”, porém, se é verdade que estes naturalmente existem, também se percebe a pertinência deste projeto.

Em "Movimento Efémero do Cosmos", tal como no último disco de Forgotten Winter, temos uma sonoridade bastante compassada, melódica e com grande foco nos sintetizadores. Porém ao invés de tentar criar uma atmosfera medieval, desta vez o objetivo acaba por ser um desbravar de ambiências mais melancólicas e taciturnas.

Existe em "Movimento Efémero do Cosmos" uma certa simplicidade na forma como os temas se vão desenvolvendo, sempre de forma bastante lenta e cadenciada, usando e abusando da repetição, quase como se o objetivo fosse infligir um estado hipnótico ao ouvinte. Algo que, diga-se, acaba por resultar bastante bem. Certã, que convém referir é o único responsável por todos os instrumentos e programações deste disco, utiliza na maior parte do tempo a sua voz mais arranhada, conferindo um contraste também ele interessante com a instrumentalização mais delicada que a acompanha. 

Líricamente, existe uma espécie de simbiose quase que metafórica entre morte e natureza, naquilo que é claramente um trabalho de índole mais pessoal.  

É complicado ressaltar um dos quatro temas aqui apresentados, visto que todos eles vivem de momentos, porém, "Desvanecer", o tema de abertura, pela sua natureza quase demonstrativa do conteúdo de "Movimento Efémero do Cosmos", acaba por ser talvez o melhor cartão-de-visita para quem ainda não ouviu Efémero.

Um bom disco, que peca essencialmente pela falta de presença das guitarras, num estilo que poderá não ser do agrado de todos. Demasiado melódico para os amantes das viagens mais hipnóticas, ao mesmo tempo que a excessiva repetição poderá afastar muito boa gente. Vale no entanto arriscar perder algumas horas a ouvir "Movimento Efémero do Cosmos".

Nota: 8/10

Review por António Salazar Antunes