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Entrevista aos Iron Savior


O Power Metal está vivo e cada vez mais forte. “Skycrest” foi lançado no dia 4 de dezembro, pela AFM Records, e desta vez, tivemos a oportunidade de conversar com Piet Sielck (guitarrista, vocalista e produtor).  Uma entrevista muito apaixonante, onde fala sobre a doença de um de seus melhores amigos, como isso afetou a banda, amizade, composição, Kai Hansen e muito mais. Vale a pena ler!

M.I. - Boa tarde, Piet. Posso dizer que me sinto honrada de falar contigo e fazer esta entrevista. Como estás e o resto da banda?

Eu e a minha família estamos bem, obrigado por perguntares. O resto da banda está fantástica. O Jan também está bem. Felizmente, ele teve um cancro que foi bastante fácil de tratar e fez quimioterapia. Por agora, está curado a 100% e livre de cancro. Por isso, está tudo bem. Claro que essa foi a maior e melhor notícia este ano, para nós. Em termos de Corona, acho que penso como toda a gente, o Corona não presta e não é divertido. Esperamos que acabe nalgum momento e possamos ir em tournée, dar concertos e conhecer os fãs.


M.I. - “Skycrest” é o novo álbum, que foi lançado quarta-feira (4 de dezembro), pela AFM Records, no dia de aniversário do Jan. Porquê este nome? Tinham mais ou foi uma escolha fácil?

Sim! Foi uma coincidência, de facto. O que não é uma coincidência é este álbum ser bastante rápido, no seguimento do álbum anterior. “Kill or Get Killed” foi lançado o ano passado, em março. Teria demorado mais algum tempo a espera para o próximo álbum. Talvez, digamos, março do próximo ano ou o outono do ano que vem. Mas o álbum estava pronto e detesto ter de o reter. Mas o que está feito, está feito e precisa de vir cá para fora. A outra principal razão, é que todos nós queríamos, por razões psicológicas, que este álbum acontecesse no mesmo ano em que o Jan foi diagnosticado com este cancro e ganhou a sua luta. E por isso, com as notícias más e boas do álbum sair e acontecer no mesmo ano, foi uma coisa boa para nós. A terceira razão foi o Corona. Nós pensamos que, já que o Corona não tinha acabado, estava claro para nós, há uns meses (risos), que seria bom, durante todos aqueles humores depressivos e com altos e baixos, ter algo estimulante, como um álbum dos Iron Savior, em dezembro.
Não há uma razão específica. Acho que é um nome fixe. Acho que soa bem (risos). Se escutares o nome “Skycrest”, soa majestoso, épico. É bastante adequado para toda a “coisa” dos Iron Savior, para a história, e também pela combinação com ópera, acho que “Skycrest” é um excelente título.
Durante algumas semanas, pensei em atribuir ao álbum o nome de outra música: “Hellbreaker”. Também era uma grande escolha. Pode não ser super característico para este álbum, mas é uma faixa muito forte e especial que mostra, sem dúvida, a grandeza que são os Iron Savior. Por isso, “Hellbreaker” era um bom título para mim também. Mas agora, já que começamos com “Hellbreaker”, era muito complicado, porque a história seria bastante complexa numa capa. Achamos que seria realmente muito complicado. Por isso, mudamos para “Skycrest”, o que eu acho uma ótima ideia, porque “Skycrest” funciona melhor como título do álbum e também com a arte gráfica. No entanto, a arte gráfica original, que partiu da ideia original: “Hellbreaker”, resultou no folheto do CD. 


M.I. - Foi difícil escrever estas canções? Que tipo de lutas tiveste de enfrentar?

Inicialmente, não foi difícil escrever as músicas. Após “Kill or Get Killed” estar acabado, senti uma forte energia contínua, como forte atração principal. Por isso, voltei a compor bastante rápido e antes do outono de 2019 já tinha 4 canções, todas elas escritas e durante o inverno tive mais ideias. Então, em janeiro e fevereiro, queria juntar tudo, escrever mais canções e acabar o álbum, mas claro, as coisas aconteceram de forma diferente. Falamos sobre o cancro e as boas notícias chegaram de que o Jan ficaria bem, e depois veio o Corona. Em janeiro, fevereiro, março, abril, não trabalhei nada no álbum, porque não estava de muito bom humor e para fazer um álbum como este, um álbum típico, clássico dos Iron Savior, que no meu ponto de vista é positivo, tens de ser positivo. Eu não estava muito positivo. Depois de me habituar ao Corona, e do primeiro medo e choque ter desaparecido e coisas estarem a voltar ao normal mais lentamente, recebemos notícias magníficas: o Jan estava 100% curado. Claro, isso levantou bastante o meu ânimo. Acabei a composição rapidamente, devo dizer. Comecei com a produção. Não enfrentei problemas, porque tudo correu de forma calma. A produção de som foi bastante fácil. Não houve problemas nem coisas inesperadas a acontecer. Tudo correu realmente bem. Por isso é que o álbum está pronto tão rápido, tão rápido no mercado (risos). Apesar de ter sido rápido, acho que é um dos melhores álbuns que fizemos com os Iron Savior.


M.I. - Desculpa fazer esta pergunta, mas achas que a doença do Jan (Eckert – baixista), tornou a vossa amizade e fraternidade mais forte e ajudou neste álbum?

Oh, sim! Claro! O álbum está, definitivamente, ligado a todas as coisas más que experienciamos este ano, mas também a coisas boas, sabes? Claro, quando algo sério como isto acontece, aproxima-nos. Somos amigos há 25 anos e o Jan é um dos meus melhores amigos. Eu fiquei realmente chocado com isto. A nossa amizade estava lá antes, mas subiu para outro nível. Foi fixe, tê-lo de volta no estúdio, a tocar o seu baixo, neste álbum. 
Muitas coisas emocionais aconteceram neste álbum que, provavelmente, não te apercebes de imediato, quando ouves pela primeira vez. Se estiveres ciente da história e ouvires o álbum com boas colunas de som, poderás sentir isso. 


M.I. - Estas canções são uma metáfora para o que estamos a viver? É uma forma de atenuar a dor do que experienciaste, como a doença do Jan?

É um álbum muito, muito pessoal no seu todo, não só “Ease Your Pain”. “Ease Your Pain” é muito claro e emocional sobre o que o Jan tem, mas se olhares para as letras, há pequenos pormenores que são pessoais. 


M.I. - Solos de guitarra firmes, refrões cativantes e vocais excecionais. Como é que escreveste as partes instrumentais?

Nunca me vi como um guitarrista a solo talentoso. Sou um bom guitarrista rítmico e sou muito bom a arranjar coisas assim. Não sou o tipo de guitarrista, que soa instantaneamente como o Eddie Van Halen, que toca algo que vem à cabeça e soa incrível. Isso não acontece comigo. Eu gosto de me chamar de “BB King Do Heavy Metal”. Consigo tocar algumas coisas, que soam realmente bem. Se me sentar a trabalhar num solo, compô-lo, depois algo decente aparece e consigo reproduzir e soa bastante bem no palco, portanto é missão cumprida.
É a forma como eu gosto de trabalhar nos meus solos. Por isso, não estou a improvisar. Claro, faço isso no início. Toco alguma coisa, ouço o solo, mas gostaria de tocar o que está na minha mente e tenho de o trazer para os dedos, o que é um problema às vezes (risos).
Mas geralmente encontro uma maneira de consegui-lo, de alguma forma. É assim que planeio os solos e realmente adoro aqueles double beats. Aquelas guitarras realmente complicadas. É uma marca dos Iron Savior. Adoro isso. Aquelas pequenas melodias, dentro da música, quando surge uma nova parte… não é muito sobre essas melodias, mas elas trazem um brilho ou pequeno nascer do sol, sabes? É algo com que gosto de trabalhar, de alguma forma.


M.I. - Tiveste alguma ajuda na mistura, gravação e masterização no álbum ou foram vocês que fizeram? Foi muito difícil? E podes dizer-nos onde é que a magia aconteceu, por favor?

Não! Eu mesmo o fiz! Eu trabalho como engenheiro de som há mais de 25 anos, por isso, penso que sei bastante bem o que estou a fazer, mas não tenho a certeza (risos). Mas se eu comparar o meu trabalho com as outras coisas que andam por aí, está OK. Não tenho de me esconder. Acho que sou bastante competente e sei o que estou a fazer, em termos de gravar música e masterização.
Não! Como eu tinha dito anteriormente, outras coisas realmente aconteceram. Quando gravas bem, não tens problemas nas bases, como aconteceu neste álbum. Tento trabalhar assim, sabes? Porque detesto esta coisa de “Vamos consertar a mistura”. Não funciona comigo. Tens de consertar imediatamente, porque se consertares tudo na mistura, então paras de consertar tudo o que precisa de ser consertado na mistura e tudo o que fazes é consertar coisas que foram feitas corretamente. Acho que é muito importante ter gravações decentes com som bom, boa qualidade e não terás problemas com a mistura. Se fizeres a mistura corretamente, não terás problema com a masterização. Pelo menos, é a minha experiência, depois de 25 anos de gravação de estúdio. Tudo começa com a primeira meta que estabeleces.
A magia não está a acontecer, sabes? Não podes forçar a magia a acontecer. Simplesmente acontece (risos). E não há receita para fazer magia. O que deves fazer é estar preparado para, se a magia acontecer, a apanhares de alguma forma. É a maneira como eu trabalho, porque tenho o meu próprio estúdio, onde posso sentar-me durante o tempo que quiser, onde tenho de sair e pagar por estúdios de gravação e o relógio corre e tens de terminar, porque caso contrário, tu podes “crashá-lo” (risos). Não há outra maneira. É um luxo que eu tenho aqui, com o meu próprio estúdio. Para te dar um exemplo do que te estou a dizer, há sempre algumas bandas que fazem pré-produções, demos e depois vão para estúdios verdadeiros e fazem tudo. E às vezes, não o tempo todo, mas eu já tive isso na minha carreira algumas vezes, em que: “Oh” A demo era melhor que o álbum!”. Porque se gravares alguma coisa e depois gravares uma segunda vez, talvez não consigas obter essa magia que acabaste de mencionar, de novo. É por isso que eu paro de gravar, quando escrevo músicas imediatamente. E com o estúdio, eu tenho esta habilidade, a fim de captar essa magia da maneira certa, porque, quando estás a trabalhar, numa música, todo esse lado de como ela é ótima e soa incrível, o riff… então tens esta magia. Não necessariamente o tempo todo, mas quando regressas algumas semanas ou meses depois, podes não ter esta energia que tinhas anteriormente. Podes tocar o mesmo riff tecnicamente correto, talvez ainda melhor com melhor som, mas simplesmente não acontece, como aconteceu quando o tocaste a primeira vez. Isto é o que eu tento sempre fazer para atrair esse primeiro momento de grandiosidade, quando componho algo (risos).


M.I. - Como é que a AFM Records reagiu ao novo material? Eles deram-vos aprovação? 

Sim! Claro que me deram a sua aprovação e estão habituados às coisas dos Iron Savior serem boas (risos). Eles não esperam mais nada de mim (risos). Estou a brincar. Não tenho problemas com a AFM Records, quando aceitam as minhas cassetes originais. 
Eu simplesmente enviei o original, eles ouviram e disseram: “Sim! Excelente! Vamos fazer isso!”. Eu trabalho com a AFM há muito tempo, e já nos conhecemos muito bem. Eles sabem como é que eu trabalho. Eles também sabem que entrego sempre qualidade, e não precisam de controlar o que faço. Eles confiam em mim, que o que faço, faço bem. Se olhares para a minha carreira, orgulho-me que os Iron Savior nunca tenham entregue um mau álbum, nunca. Entregamos Metal de alta classe. Alguns álbuns, talvez melhores. Mas nunca houve um lançamento mau dos Iron Savior. E a AFM sabe disso. Eles confiam em mim e no que faço.


M.I. - Vocês até têm uma balada, e quem melhor para a cantar do que o próprio Jan? Achas que, devido ao que lhe aconteceu, “Ease Your Pain” poderia fazê-lo cantar de forma apaixonante?

Sim! Esta é uma canção sobre a doença do Jan. Ele compôs a canção e também canta nela. Eu não canto em “Ease Your Pain”. É completamente acústica. Ele fala sobre o seu relacionamento e como foi afetado. O tema geral da canção foi para ele. A coisa mais difícil para ele, não era ele próprio, mas sim ver a sua namorada a sofrer, de estar tão deprimida e em baixo, a chorar o tempo todo, por causa dele, sabes? Por isso, é que a canção se chama “Ease Your Pain” e claro, porque foi ele que a escreveu e é a sua história pessoal, que ele está a contar, por isso é que ele a canta.


M.I. - Ouvimos um toque de sintetizadores numa música: “Welcome To The New World”. Como é que o criaram?

Tenho aqui uma boa coleção de teclados. É um som que achava interessante e soava fixe. Eu pensei: “Talvez posso usar isto numa música!”. Porque “Welcome To The New World” é diferente das outras canções. Eu queria criar uma atmosfera diferente. Acho que é uma boa canção. Adoro-a, especialmente em termos de letra.


M.I. - “There Can Be Only One” parece tirar a sua inspiração lírica de um filme. Se alguém quisesse usar esta música para marketing e te pedisse permissão, aceitarias?

Sim, claro! As letras são baseadas no “Highlander”, o primeiro filme. O segundo filme, não tão fixe. A série é mais ou menos. Mas para mim, o filme original, é o primeiro com o Sean Connery. Esse é o “Highlander” que conheço, gosto e rio. Esse é o “Highlander” de que estamos a falar e só pode haver um.
Depende um bocado do produto, sabes? Se alguém usar a minha canção para um produto, que eu realmente detesto ou acho nojento ou não se adequa aos Iron Savior, então não vou permitir. É um bocado como não permitir que o Donald Trump use as minhas canções (risos). Por exemplo: se o Donald Trump me pedisse para usar uma canção minha. Eu diria: “Não, não podes!”.


M.I. - “Our Time Has Come” é sem dúvida, heróica e é o melhor single para apresentar o álbum, em termos de letra, riffs, solo, em tudo. Somo nós os heróis?

Esta é uma das poucas canções, que está relacionada com a linha de história dos Iron Savior. “Our Time Has Come” descreve os eventos, pouco antes da Atlantis ser destruída. Não é nada sobre o que está a acontecer no nosso mundo. Pode acontecer no nosso mundo também, mas as letras que eu tinha em mente são ficção, dentro do conceito de ficção científica da história dos Iron Savior. Neste álbum, acho que apenas 3 canções (“Our Time Has Come”, “Welcome To The New World” and “Hellbreaker”), estão ligadas a esta linha de história dos Iron Savior e o resto das canções são sobre tudo o que me veio à cabeça (risos).


M.I. - “Souleater” foi feito por vocês e dirigido e produzido por Gestaltungskommando Buntmetall. Conta-nos sobre a ideia, por favor.

Sim! O conceito foi bastante claro para nós. Como nunca fizemos isto antes, achei que desta vez seria uma boa ideia ter um vídeo de apresentação realmente simples, rápido e direto, onde apenas interpretássemos a música e nada mais (risos). Porque nunca fizemos isto antes, estávamos à procura de uma boa localização, onde isso poderia acontecer. Também já tínhamos em mente que seria a preto e branco. Estes tipos da Buntmetall fizeram muitos vídeos, dentro do mundo do Metal e fizeram realmente um trabalho decente. Filmamos tudo num dia. Acho que o resultado está muito fixe. É exatamente o que eu tinha em mente. Estou muito contente com o vídeo, ao contrário dos outros (risos). O vídeo de “Kill or Get Killed” estava bem, e o vídeo de “Titancraft”: “Way Of The Blade”, estava realmente muito mau. Detesto este vídeo. Acho que é ridículo. “Souleater” é realmente um bom vídeo. Reflete o que os Iron Savior são.


M.I. - O Japão é muito importante no mercado e os japoneses adoram Metal. Porque é que decidiram fazer uma versão japonesa de “Souleater”?

O mercado japonês está constantemente em declínio, para ser honesto. A importância do Japão, está-se a tornar cada vez menor, porque as vendas são muito más no Japão, não só para os Iron Savior, mas para todos. Todas as vendas estão a cair.  Para o meu gosto, é caseiro, porque eles estão a fazer algo muito errado no Japão. Quero dizer, o preço dos CDs é o dobro da Europa. Depois eles questionam-se porque é que as pessoas não compram CDs? A resposta é simples: são demasiado caros. Atualmente, podes ir ao Spotify e ouvir este álbum, sem comprares o CD. O Japão, honestamente, para mim, já não é um mercado importante. Faço isto, porque tenho um contrato lá, com uma discográfica japonesa e no contrato diz que tenho de apresentar uma música bónus. Por isso é o que estou a fazê-lo, e não por o Japão ser um mercado muito especial.
O mercado mais importante para mim é a Europa e, talvez depois, em segundo, a América e não o Japão. O Japão é OK. Nós vendemos alguns álbuns lá também, mas não tanto quanto costumávamos. O mercado japonês, como tinha dito, está bastante em baixo. Vamos ver onde vai chegar nos próximos anos.


M.I. - O Felipe Franco é responsável pela capa do álbum. Como é que o conheceste e do que estavas à procura, quando ele mostrou o seu trabalho?

Eu conheci o Felipe, pela primeira vez, quando estava a fazer a arte para a minha banda. Eu costumava estar nos Savage Circus. Ele fez a segunda capa para o álbum dos Savage Circus: “Of Doom and Death”, porque, embora ele diga que a capa do primeiro álbum dos Savage Circus é clássica, eu nunca gostei, é mais ou menos. Não é a pior capa do mundo, mas sempre tive algo diferente em mente... essa é outra história (risos). Mas fiquei muito feliz com a capa do segundo álbum: “Of Doom and Death” e foi, na verdade, a primeira vez que tive contacto com o Felipe. 
Criar esta arte gráfica juntamente com ele, foi super-rápido. Ele entendeu muito bem o que eu tinha em mente. Por isso, estou a trabalhar com ele como artista gráfico e artesão desde então, porque a comunicação com ele é muito simples. Não tenho de explicar as coisas centenas de vezes. Quando tenho uma visão, ele é capaz de pegar nela e visualizá-la. Isso torna as coisas muito fáceis para mim, porque tenho muitas lacunas gráficas antigas, e o maior problema sempre foi descrever o que tinha em mente e a maioria das pessoas realmente não entendia o que eu queria. 
O Felipe tem esta habilidade (risos). Às vezes acho que ele me lê os pensamentos. Acho que continuaria a trabalhar com ele para sempre (risos).


M.I. - Achas que, com a partida do Kai Hansen, o futuro da banda estava comprometido? Houve algum arrependimento de ambas as partes?

Não! De facto, foi uma coisa boa, que ele tenha deixado os Iron Savior. Claro que no começo não ajudou os Iron Savior a ganhar a atenção, sabes? Tornar-se popular. Mas, de certa forma, ele ajudou os Iron Savior a tornarem-se populares. Ele sempre foi um grande estorvo para os Iron Savior, para ser honesto, porque estava concentrado, não propriamente nos Iron Savior, mas maioritariamente na sua própria carreira, com os Gamma Ray, por dinheiro. Para muitas pessoas, nos primeiros anos, os Iron Savior eram apenas algo que o Kai Hansen estava a fazer paralelamente. Não tão importante, sabes? Com o Kai a deixar a banda, muitas pessoas pensaram, porque é natural, porque ele é o “Grande Kai Hansen”, que ele fazia todas as coisas com os Iron Savior, sabes? Que, claro, não era o caso. Fez um bocado com os Iron Savior. Tocou alguns solos e compôs uma ou duas canções e foi isso com que ele contribuiu para dois álbuns. Foi uma situação estranha, porque, no início, fui bastante ingénuo. Eu era do tipo: “Bem! Estou a fazer música com o meu compincha Kai!”. Havia muitos problemas, vindos dessa popularidade e das outras obrigações que ele tinha. Os Iron Savior sempre estiveram na sombra do Kai Hansen e dos Gamma Ray. Quando o Kai foi embora, tudo melhorou, mas não imediatamente. Demorou um pouco, alguns anos, para me livrar desse “Fantasma do Kai Hansen”, por assim dizer, dos Iron Savior. Acho que com o “The Landing”, finalmente conseguimos isso e, na verdade, já ninguém fala mais sobre o Kai Hnasen ou a era pré “The Landing” ou qualquer ligação com o Kai, porque é bastante claro que os Iron Savior são uma força totalmente independente, dentro do universo do Heavy Metal e já não estão ligados ao Kai Hansen. A presença dele na banda, limita-se aos primeiros álbuns e pronto! E, na verdade, as pessoas já sabem disso! Honestamente, estou feliz com isso (risos).
Não! Não, porque ambas as partes perceberam que tinham muitos problemas, vindo do facto dele estar em ambas as partes, ele estava nos Iron Savior e nos Gamma Ray. Claro, ele sempre quis fazer mais pelos Iron Savior, mas a sua prioridade sempre foram os Gamma Ray. Por exemplo: tivemos de sair em tournée duas vezes sem o Kai e coisas dessas, porque ele estava indisponível, estava ocupado com os Gamma Ray. Claro, isso é algo que os fãs começaram a não entender. Eu cheguei ao ponto em que decidi: “Bem! Realmente quero conseguir um pouco mais com os Iron Savior, do que o que tenho agora? Ou ainda quero ficar na sombra do Kai e dos Gamma Ray?”. Para mim, honestamente, decidi: “Não! Não quero isso!”. Decidimos que era melhor seguir caminhos diferentes, em termos de música e música profissional, mas continuamos amigos. Ainda somos amigos. Não nos afetou num nível pessoal, mas esta foi uma decisão de negócios e foi uma boa decisão.


M.I. - Já que o Facebook não permite que bandas toquem para os fãs, onde os fãs poderiam apoiá-los, as bandas têm outras estratégias. Uma delas é a transmissão ao vivo de concertos e os fãs têm de pagar, como se estivessem num concerto, mas em casa. Como músico e amante da música, gostaria de ouvir a tua opinião sobre isso.

Infelizmente, esta é a única maneira possível de fazer concertos, de momento. Mesmo que eu não seja um grande fã disso, nós iremos fazer um desses concertos também. Vamos tocar num evento de streaming online, ao vivo em janeiro. Acho que vamos fazer um segundo, também em janeiro, que ainda não está confirmado, mas é bastante seguro, a data não foi confirmada. Em tempos de Corona, esta é a única maneira de voltar a entrar em contacto com os fãs novamente. Vamos fazer isso, mas também esperamos ter um pouco de interação com os fãs. A nossa ideia é fazer um concerto e não fazer apenas com que as pessoas fiquem em casa e assistam na TV, mas também possam assistir nos smartphones, nas redes sociais, e de alguma forma interagir connosco e podemos dizer: “Façam um pequeno filme de vocês a cantar em uníssono o refrão de 'Atlantis Falling', postem no Facebook e, depois de tocarmos a música, podemos assistir e colocá-la no ecrã, ou sei lá!”. Existem algumas ideias de como tornar o evento um pouco mais interativo, sabes? Acho que esse é o maior problema para um artista. Se estás no palco e não tens público, apenas câmaras, é como se estivesses a atuar num estúdio de TV. Vamos ver! Para nós, é uma espécie de experiência também. Vamos ver se vai correr bem. Mas acho que vai ser um concerto muito bom dos Iron Savior (risos). Acho que as pessoas que realmente sentem a nossa falta, porque estivemos fora o ano todo, pelo menos podem pegar nas bonecas dos Iron Savior, um bocado assim, mesmo que estejam em casa. Em janeiro será permitido ter mais gente em casa, de diferentes famílias, para que possamos ter, pelo menos uma pequena festa, podemos encontrar alguns fãs, beber algumas cervejas, tocar e ver os Iron Savior.


M.I. - Dez álbuns de estúdio e um CD / DVD ao vivo. Qual deles foi mais difícil / fácil de gravar?

Nunca tivemos grandes problemas com a gravação. Portanto, na realidade, não sei dizer. Nunca tivemos grandes problemas técnicos, falhas, perda de dados ou algo assim. Até agora, com produções vastas, pequenas e enormes dos Savior, correram bem. Talvez porque eu sou alemão e sou um alemão organizado (risos).


M.I. - Qual é a sensação de ter um hino que consegue unir gerações, como "Heavy Metal Never Dies"?

Na verdade, sabe bem, porque eu adoro essa música. Embora já tenha dez anos e a tenhamos tocado inúmeras vezes no palco, acho que temos de a tocar para sempre (risos). Isso importa, porque é uma música incrível. Eu realmente adoro a música e todas as vezes que a tocamos ao vivo, é um dos destaques do concerto. Se vires as reações das pessoas, todas realmente adoram a música e estão entusiasmadas com ela. Não sei o que se passa com essa música, porque não é uma música muito complicada, é muito simples. É uma ótima maneira para os Metaleiros se ligarem, ficarem juntos e festejarem juntos. É disso que trata essa música (risos).


M.I. - Bandas / cantores favoritos?

É óbvio que sou um fã dos Judas Priest e um dos meus cantores favoritos é, claro, Rob Halford. Um cantor que sempre admiro e sempre me inspira é o Dio. Claro que também gosto do Bruce Dickinson. O Rob Halford e o Dio são mais roucos e o Bruce Dickinson e o Eric Singer, e esse tipo de cantores, são o outro lado da moeda, por assim dizer. Sempre estive do lado do Rob Halford e do Dio, nunca muito do lado do Dickinson e dos Kiss, embora sejam ótimos cantores. Nenhuma dúvida sobre isso! O meu gosto sempre foi um pouco diferente.


M.I. - Iriam tocar no Milagre Metaleiro Open Air este ano em Portugal mas, infelizmente, foi cancelado. Iremos ver-vos aqui em breve? Já decidiram alguma tournée?

Foi adiado para 2021, tocaremos aí no próximo ano.
A programação para o próximo ano é que teremos muitos concertos, o que significa que não poderemos tocar este ano. Foram adiados para o próximo ano. Realmente esperamos que, em março ou abril, seja possível dar concertos novamente. Temos alguns concertos em festivais. Para a nossa programação ao vivo, somos conhecidos por estarmos sempre na estrada. Por isso, para nós, é bom. 2021 é o 10º aniversário do álbum de muito sucesso: “The Landing”, também um álbum muito importante para nós e vamos fazer algo sobre este 10º aniversário, é claro. O projeto temático de 2021, a maior parte dele, é fazer mais um álbum do “Reforged - Riding on Fire”. Está definido que vamos fazer outro: “Reforged: Vol.II”. Serão as próximas 20 músicas, que vamos escolher do catálogo da Noise. Vamos regravá-las e colocá-las no “Reforged: Vol.II”. Tudo está a ser preparado para 2021.


M.I. - Muito obrigada por fazeres esta entrevista. Alguma palavra para os Metaleiros em Portugal e os fãs?

O que eu realmente gostaria de dizer é que, e falo por mim mesmo e pela banda, os Iron Savior estão sempre muito gratos aos fãs, pelo grande apoio que recebemos deles, porque sem os fãs, simplesmente não estaríamos onde estamos agora. Então, obrigado por isso! Mas, este ano, estamos muito gratos por todas estas palavras estimulantes, palavras acolhedoras, reações e comentários muito animadores nas redes sociais, que realmente nos ajudaram, especialmente a superar a crise. Obrigado por toda essa energia positiva, nem que tenha sido apenas um pequeno post a dizer “As Melhoras” ou algo assim, tudo ajuda. Foi ótimo, foi realmente comovente e por isso dizemos: OBRIGADO POR ISSO E ESPERO VER TODOS EM BREVE, NALGUM LUGAR, ALGUMA VEZ, POR AÍ!

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Entrevista por Raquel Miranda