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Entrevista a Lake of Tears

“Ominous”, o novo álbum dos Lake Of Tears, foi editado no dia 19 de fevereiro, pela AFM Records. Daniel Brennare revela-nos que este lançamento é diferente de todos os anteriores e conta-nos o porquê deste ter, para si, um significado ainda mais especial. Queres saber porque é que este álbum é diferente? Lê a entrevista.

M.I. -  Olá, Daniel. Muito obrigada por dedicares algum tempo, para responder a estas perguntas. Como estás?

Sim, estou bem, obrigado! E obrigado por fazeres esta entrevista!


M.I. -  O prazer é todo meu! “Ominous” é o nome do álbum, que foi lançado em fevereiro, no dia 19. Podes-nos contar porque é que escolheste este nome e o significado por trás dele?

É uma longa história. “Ominous” é um nome adequado ao modo como me sentia, para este álbum. Se for mais aprofundar mais, este álbum, para mim, é baseado na minha doença.


M.I. -  Entre o “Illwill” e este álbum passaram-se dez anos. O que se passou? Também sei que tiveste problemas de saúde.

Sim! Uma grande parte do que aconteceu foi porque não me estava a sentir muito bem. Acho que a parte mais importante de ter demorado tanto tempo, é porque, quando tive a ideia, mesmo que seja difícil ser inspirado para escrever música, isso advém de grandes sentimentos. Algumas vezes são alegres, muito difíceis, profundos e sinceros. Quando comecei este, há uns anos atrás, decidi não o apressar. Decidi deixar tudo demorar o tempo que fosse preciso. Ambos a minha doença, o álbum e tudo. Não apressei nada.


M.I. -  Já que és o único membro que está na banda, desde a sua formação, foi difícil escrever as letras? Foi terapêutico para ti?

Bem, devo dizer que não foi difícil, porque estava sozinho na banda e sempre escrevi tudo, desde o início. Escrevê-lo, não foi um problema. Claro que levou algum tempo. Esse processo não foi diferente de anteriormente. O que foi diferente foi que, como já não tinha uma banda, foi um choque bastante grande. Não sabia como fazer isto, como faço para ir mais longe, mas arranjei uma maneira agradável de o fazer. Devo dizer que gostei. Dentro de toda esta escuridão, gostei muito de fazer isto. E achei terapêutico fazê-lo. Ter sido inspirado por esta ideia, foi como uma luz na escuridão, para mim. Porque em vez de ter estes pensamentos depressivos constantemente, tinha algo em que me focar. Se não fosse a minha doença, teria sido uma experiência magnífica, por assim dizer. 


M.I. -  Podemos ouvir alguma influência do David Bowie, como da era Ziggy Stardust com gothic rock e músicas post-punk, especialmente os Sisters Of Mercy e Pink Floyd são uma grande influência aqui. Como é que criaste a música? Que tipo de instrumentos usaste aqui, especialmente os teclados?

Como sempre fiz. As ideias podem vir de muitas coisas. O básico, é claro, a minha doença e depressão, esse tipo de emoção. Tento colocá-las em notas e palavras. Fora isso, como mencionaste, há muitas influências na minha vida, para fazer música. Mas como diria, é um processo natural. Ouço algo, talvez na minha cabeça e depois espero que volte. Nunca gravo as coisas a primeira vez que as ouço, porque espero que voltem, porque, para mim, isso significa que deve ter sido algo importante. Não sei... podes dizer que é tipo uma mensagem, ou algo.
É no computador. Não é muito feito com instrumentos. Devo dizer, as cordas, é algo que comecei, há dois anos. De alguma maneira, entrei na parte orquestral. Achei o violino fascinante. E, é claro, na verdade existem seis cordas solo e cordas orquestrais. Existem aqui muitas cordas e, claro, diferentes tipos de sons sintéticos e também o piano e órgão. Algum som cinemático, como hoje em dia, ouves nos filmes. 


M.I. -  Este álbum conta uma história e é espetacular. Podes contar-nos mais, por favor?

Obrigado! Significa muito ouvir as pessoas dizer isso. Significa muito! Como referi anteriormente, para mim, é um escape da depressão, ou deixa-me dizer, vem de dentro. Quando penso neste álbum, vejo-me dentro de uma bolha ou doença ou depressão e queria contar uma história de dentro. Foi bastante desafiador fazê-lo, porque este tipo de emoções, durante muitos anos, não aparecem ao mesmo tempo, aparecem aqui, ali e em todo o lado. É difícil escrever isto, de uma maneira linear, com música, este tipo de sentimentos, porque seria como um som muito alto ou trinta minutos de simplesmente nada. 
Para além desta história, criei uma história do cosmonauta, que vai para o fim do mundo, onde encontra os irmãos Ominous e tenta equilibrar estas duas histórias juntas. Podes dizer que há uma camada, que é como o cosmonauta e também está relacionada com as imagens no booklet. Não sei se já as viste. Mas é para fazer este tipo de emoções, de uma forma mais linear, direta e mais compreensível. E claro, há outras pequenas histórias aqui, mas esta é a história principal.


M.I. -  Esta história está relacionada com sons, palavras e visões. O que representam? Por exemplo, o mundo criado para a personagem. Onde ocorre e qual o significado por detrás disso?

A peça central da história, nesta história dos irmãos Ominous, que está na capa, foi uma ideia muito inicial, para este disco. Por isso, sabia que estavam no centro. Ominous One, o primeiro irmão, é o símbolo para a leucemia, a doença. Por isso tentei fazer essa canção um pouco mais agressiva, mas mais da minha perspetiva e o segundo irmão, Ominous Two, é o símbolo para a depressão. Por isso tentei fazê-lo mais manhoso, sabes? Manhoso dentro da mente, e quando fico cada vez mais fraco, ele fica cada vez mais forte. É a base da minha história.
As outras canções, antes dessa, são principalmente sobre ir para um lugar... a primeira canção, na verdade, é para te dar um certo ritmo no corpo e também, levar-te a este lugar, para fora do universo, porque pensei: “Talvez possa escrever sobre como me sinto, quando estou na minha sala!”. Mas não me parecia tão interessante. Mas queria levar a história para outro lugar. Mas essa é a primeira canção. Depois as outras canções, podes dizer que são pequenos momentos desta década, que tenho experienciado e tentei torná-los em coisas compreensíveis.


M.I. -  Este álbum é tão espetacular e único, tanto que Christian Silver fizeram magia contigo, nos Studiomega, na Suécia, desde um doomy a um som mais futurista. Como é que te sentes com isso e este álbum era um projeto de longa duração, que tinhas?

Sim! Já se passaram quase oito a dez anos, acho eu, na produção do álbum. Há matemática avançada e outras coisas aqui, porque acho tudo isso fascinante. Mas passei tanto tempo, tantas noites, a discutir com amigos e comigo. Agora que acabou, é um bocado, vazio, mas estou satisfeito por me sentir um pouco vazio, porque quanto mais vazio te sentes, mais te podes “encher” com coisas importantes. 



M.I. -  Há grandes diversidade, lírica e musicalmente falando. Quais foram as tuas principais influências, enquanto escrevias este material?

Se forem influências físicas, ou de bandas e tal, gostaria de pensar que na verdade não houve tantas novas influências de bandas. Acho, que quando comecei a tocar guitarra até agora, claro bandas que escutei, estão automaticamente entrar na minha música, como mencionaste antes, Pink Floyd, Sisters Of Mercy, Metallica. O que posso dizer? Muitas bandas, claro, mas para este, não tenho tocado muita guitarra. Já não toco muito em casa. Para este, tentei ser aberto a novas influências. Devo dizer, Schopenhauer. Ele é um dos meus favoritos. Um filósofo favorito. Os seus pensamentos têm sido uma grande influência e talvez pessoas dúbias, tipo Nikola Tesla. Tento aprender com pessoas sábias, como Sócrates, Platão, Pitágoras, essas pessoas. Essas são mais minhas influências, do que outras bandas. Acho que as outras bandas são, claro, influentes, mas não penso nelas, porque já os conheço. Já ouvi as suas músicas muitas vezes. Tento expandir-me, para obter novas influências.


M.I. -  Vladimir Chebakov é o responsável pela capa. E disseste na tua página do Facebook que, para aprofundarmos mais a arte do Vladimir, devíamos adquirir o grande booklet. Porquê?

É a mesma coisa. O CD e o Vinil têm o mesmo booklet, mas o CD é demasiado pequeno. Se comprares o Vinil, tens o grande booklet. Acho que ele fez um trabalho excelente, com as imagens. Por isso é que eu disse isso, porque quero que as pessoas vejam quão bons são os desenhos que ele fez. E acho que é melhor, porque, quando olho para o booklet do CD, é muito pequeno e é bom ter as fotos grandes.


M.I. -  “In Gloom” é uma música bónus e muito diferente das anteriores. Porque é que escreveste esta música e decidiste incluí-la? Qual é o seu significado?

Em primeiro lugar, devo dizer que é uma música bónus, porque não faz parte da história. A história termina com a música número 8: “Cosmic Sailor”. Por isso é que há uma música bónus. Não sei porque é que a escrevi. Um dia tive uma ideia, para um violino e coloquei um baixo, toquei bateria e quase imediatamente senti que essa era uma boa música. Achei que era algo muito simples, mas ao mesmo tempo profundo de alguma forma, pelo menos para mim. E não tive coragem de excluí-la do álbum. Além disso, os rapazes do estúdio, logo na primeira vez que a ouviram, disseram: “Isso tem de estar no disco!”. E eu decidi: “Sim, ok! Pode estar, mas vou pô-la como música bónus!”.


M.I. -  Entre “At The Destination” e “In Wait And In Worries”, qual foi o vídeo mais difícil de produzir? Haverá outro? 

Na verdade, a AFM contactou-me para fazer os vídeos, mas eu dei-lhes as ideias, de como os fazer. Acho que foi um tipo, que conhece estas coisas, por isso, não demorou muito tempo. Demorou uma ou duas semanas a fazer. Por isso, acho que não foi muito difícil para ele. Ele enviou-me alguma coisa e eu modifiquei outras. Estou contente que ele o tenha feito, mas se o tivesse feito à minha maneira, preferia que não houvesse um vídeo, porque este não é um álbum que eu quisesse dividir em vídeos. Mas eu percebo totalmente que, nos dias de hoje, neste mundo de marketing, tenhas de fazer algo assim, porque dá atenção ao álbum e à banda.
Não haverá mais vídeos, já que o álbum já foi lançado. Infelizmente, porque é bastante divertido ver estes vídeos. Posso imaginar, se estivesse a ouvir outra banda, a fazer estes vídeos, seria quase como uma série de TV. Queres assistir ao próximo episódio.


M.I. -  Do teu ponto de vista pessoal, qual é a música que tem mais significado para ti?

Não posso dizer. Todas eles significam muito para mim. Isso! Acho que talvez chore quando o álbum for lançado, porque são muito pessoais para mim. Cada parte e cada frase, significa muito, muito para mim, porque pensei nisso por muitos anos, do começo ao fim.


M.I. -  Apesar de “Ominous” ter um significado pessoal para ti, achas que este álbum pode ajudar e chegar a pessoas com o mesmo problema de saúde ou semelhante ao teu?

Realmente acho que sim! Porque é que acho isso? É baseado nos meus álbuns anteriores e também em e-mails antigos e coisas, que recebo de pessoas. Porque desde o começo, mesmo que os meus discos anteriores não significassem nada assim. Apercebi-me desde muito cedo, que havia algo na música que fiz, que estava a ajudar, não posso dizer, muitas pessoas, porque os Lake Of Tears não são uma banda grande. Mas algumas pessoas, pelo menos eu espero, este álbum é mais para isto. É mais para ajudar pessoas, claro. Mas eu acho, e já ouvi de algumas pessoas que as ajudaram. Tive notícias de um russo, que agora posso chamar de amigo, porque ele é muito sincero. Ele e a mãe apanharam Covid e ficaram doentes várias semanas. Na verdade, ele e a mãe cantavam estas canções juntos, porque ele conseguiu uma versão mais cedo. Então, eu sei que já foi útil para algumas pessoas. E realmente espero que possa ajudar mais, porque ajudou-me a mim.


M.I. -  Tens 30 anos de carreira. Conseguiste tudo, musicalmente falando? Tens alguns planos, que possas partilhar connosco, por favor?

Sim! Nesta tristeza toda, descobri algumas coisas novas. E acho que agora estou mais inspirado do que nunca, para escrever música. Porque aprendi que há muito mais coisas para fazer. Talvez não dentro do género Metal ou Rock. Acho que sempre escreverei algo Metal ou Rock, também mas, como disse, na música orquestral, especialmente agora para mim, acho que há um mundo totalmente novo aí. E sinto-me muito inspirado. Agora, sinto-me bem por estar vivo. Há muitos anos, eu pensava que a vida não era um lugar engraçado para se estar. Mas agora, sinto: “Oh! Tenho que viver até aos 90 anos para poder fazer todas as coisas que podem ser feitas!”.
Sim! Vou fazer mais algum trabalho orquestral. Já comecei e acho que o primeiro será baseado em músicas antigas dos Lake Of Tears, porque foi onde comecei e é familiar para mim. E depois vou escrever mais algumas outras coisas depois disso. Também tenho um projeto com o meu amigo, Vesa (Kenttäkumpu), que tocou baixo em “Ominous” e o Christian (Silver) na bateria. Eu tenho um projeto com ele. Temos algumas músicas, já estão no YouTube. 3-4 canções. Acho que faremos algumas músicas, agora este ano, antes mesmo do verão. 3-4 canções. Eventualmente, transformaremos isso num álbum, com sorte. É isso. E tenho outras ideias, mas ainda não estão muito claras na minha cabeça. Quando penso sobre isso, a última música do “Ominous”, este tipo “Cosmic Sailor”, que anda pelo universo, acho que mais coisas lhe podem acontecer. Acho que gostava de saber para onde ele está a ir.


M.I. -  Muita obrigada mais uma vez por tirares algum tempo para conversar connosco. Algumas palavras finais para a Metal Imperium, por favor?

Muito obrigado. É muito mais inspirador discutir isto do que eu pensei que seria. O que eu gostaria de partilhar? É claro. Gostaria de agradecer a todos que me apoiaram de alguma forma, durante todo este tempo, que tenho tocado música. Acho que essa é a maior recompensa que uma pessoa pode ter. Escrever algo ou fazer algum tipo de arte e depois conseguir pessoas que gostem. Portanto, essas são as minhas palavras finais. UM MUITO OBRIGADO!!!

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Entrevista Por Raquel Miranda