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Reportagem: Accept @ LAV - Lisboa ao Vivo - 14/06/2025


A menos de um mês do regresso dos Iron Maiden a Portugal e a duas semanas da chegada dos Judas Priest — cabeças de cartaz do primeiro dia do Evil Live Festival —, passou pelo nosso país outro nome incontornável do heavy metal: os Accept. Apesar de não serem presença tão habitual como as duas bandas acima mencionadas, não deixam por isso de ser uma referência lendária no género. É verdade que não têm uma base de fãs capaz de esgotar um MEO Arena ou de liderar os grandes festivais, mas construíram uma carreira longa e meritória, que merece respeito, admiração e uma sala cheia de seguidores dedicados — como foi o caso nesta noite de sábado, na sala principal do Lisboa ao Vivo. Pelo que pudemos testemunhar, continua a haver um público fiel aos Accept, e a formação atual da banda alemã mantém intacta a capacidade de honrar o legado com atuações à altura. Foi, sem dúvida, uma aposta certeira da Free Music Events, promotora que se distingue pelo ecletismo e pela qualidade dos nomes que traz a Portugal. Como fãs, só podemos estar gratos por continuar a haver oportunidades de ver bandas deste calibre ao vivo.

Já por volta das 20:00 era visível uma longa fila à entrada do recinto, um claro prenúncio do sucesso do evento em termos de adesão do público — o que se viria a confirmar. Sem necessidade de bandas de abertura, o aquecimento fez-se ao som de “The Reckoning” e “Humanoid”, temas do mais recente álbum, recebidos com entusiasmo notório pelos presentes. Seguiu-se um trio de clássicos — “Restless and Wild”, “London Leatherboys” e “Living for Tonite” —, ficando desde logo evidente que o alinhamento iria equilibrar habilmente os temas old school com as propostas mais recentes. A banda mostrava-se descontraída e entrosada em palco, claramente a divertir-se tanto com os temas históricos como com os novos. Mark Tornillo, por sua vez, revelou-se impecável nos temas mais recentes e interpretou os clássicos da era de Udo Dirkschneider com convicção e entrega, como se fossem parte do seu próprio repertório.

Após este primeiro segmento, que alternou entre o peso do metal tradicional e o som mais atual, os Accept — em palco como sexteto — apresentaram “Straight Up Jack”, um tema com veia hard rock ao estilo de AC/DC, retirado de Humanoid. Logo depois, o público foi ao rubro com a energia melódica e cativante de “Midnight Mover”. Foi então altura de revisitar Blood of the Nations, álbum que assinala o renascimento da banda nesta segunda vida, com a dinâmica “The Abyss” — uma faixa que oscila entre momentos intensos, secções suaves e até um registo quase baladesco. Com uma discografia tão vasta, seria impossível contemplar todos os temas desejados num só concerto. Daí a escolha inteligente de um medley que incluiu excertos de “Demon’s Night”, “Starlight”, “Losers and Winners” e “Flash Rockin’ Man”, mergulhando de novo no período clássico da banda — para deleite da velha guarda presente em força. “Frankenstein” encerrou a visita ao álbum de 2024, com o público ainda bem participativo.

Num momento de humor, Mark Tornillo anunciou com ironia uma “canção de amor”, introduzindo a irreverente “Son of a Bitch”, cujo refrão foi entoado com entusiasmo por muitos dos presentes. Já “Dying Breed” reforçou a perfeita simbiose entre os dois tempos da banda, mostrando que esta encarnação dos Accept continua firme e que o renascimento de 2009 não foi em vão — seis álbuns depois, o grupo permanece vital.

Após a intensa “Breaker” e a emotiva balada “The Best Is Yet to Come”, chegou o último terço da atuação. Até então já valera bem a pena estar ali, mas o que se seguiu elevou o concerto a um patamar memorável. “Shadow Soldiers” contou com o público a bater palmas e a acompanhar em uníssono, num momento de ligação genuína entre banda e audiência. “Princess of the Dawn” foi interpretada com mestria por músicos que não demonstravam sinais de fadiga, enquanto o público parecia guardar energia para este clímax, vibrando como nunca.

Wolf Hoffmann estava visivelmente divertido e grato pela entrega da plateia. “Metal Heart”, um dos temas mais emblemáticos do grupo, foi recebida com aplausos estrondosos. Não podia faltar o grande êxito dos Accept no século XXI — “Teutonic Terror”, cujo vídeo soma mais de 22 milhões de visualizações no YouTube — que agitou cabeças e corações. “Pandemic” manteve a fasquia elevada, com a banda a dar tudo em palco.

Após uma curta pausa, regressaram com o excerto de “Heidi, heido, heida”, a abrir caminho para o furioso speed metal de “Fast as a Shark”. E se “Teutonic Terror” é o hino moderno, o maior clássico de toda a carreira dos Accept continua a ser, sem dúvida, “Balls to the Wall”. Com 50 milhões de visualizações no YouTube, é impossível medir quantas vezes foi ouvida em vinil, cassete ou CD por fãs de metal que cresceram com a banda nos anos 80. Foi a penúltima da noite e deixou o público em êxtase.

A despedida deu-se com todos a cantar o refrão de “I’m a Rebel”, encerrando em grande duas horas de concerto memorável. Resta-nos agradecer por os Accept continuarem ativos, tantos anos depois, a fazer boa música e a proporcionar noites como esta.


Texto por Mário Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge Tavares
Agradecimentos: Free Music Events