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Entrevista aos Harakiri For The Sky

Com o seu último álbum "Mӕre" finalmente lançado no mês passado, os pioneiros austríacos Harakiri For The Sky capturam perfeitamente a beleza da paralisia e do desespero e lançam este quinto álbum de estúdio a tempo de celebrar o décimo aniversário da banda. Este álbum é um lançamento obrigatório para 2021, pois é tão cativante!
A Metal Imperium conversou com M.S., alguns dias antes do lançamento do álbum, e ele contou-nos todos os planos da banda para este ano louco de 2021.

M.I. - Olá! Como estás? Parabéns pelo novo álbum, está incrível!

Excelente! Obrigado!


M.I. - Quão feliz estás com o resultado?

Bem, estou muito feliz porque trabalhamos nele durante muito tempo. Já estava pronto há um ano e tivemos que atrasar o lançamento por causa da pandemia. Primeiro, queríamos lançá-lo em setembro, depois em janeiro e, agora, mudamos novamente para fevereiro. Portanto, é um grande alívio podermos finalmente apresentá-lo.


M.I. - O álbum será lançado na próxima sexta-feira… estás nervoso?

Agora que tivemos tempo suficiente para nos prepararmos, não estou nervoso, apenas aliviado.


M.I. – Neste tempo, provavelmente já o ouviste muitas vezes. Encontraste algo que farias de forma diferente agora?

Não, para ser honesto, não. Estou muito feliz com o resultado, tivemos tempo suficiente e mudamos algumas coisas antes, mas agora estamos muito felizes.


M.I. - Harakiri é um ritual de suicídio japonês por estripação. Deve ser extremamente doloroso. Por que decidiram usar isso como nome para a banda? O nome soa bem, mas refere-se a algo horrível!

Sim, não é algo que eu gostaria de experimentar. Foi ideia do nosso vocalista, foi algo a ver com um sonho dele. O suicídio é um assunto muito importante para ele e ele teve um sonho em que estava a cair de um penhasco, enquanto se esfaqueava e depois começava a voar. Isto é, se entendi direito a maneira como ele me explicou e foi assim que ele teve a ideia do nome. Eu pensei que era uma boa metáfora para muitas coisas que ele usa nas suas letras também.


M.I. - A banda toca uma mistura única de black metal e post rock. Foi sempre esta a vossa intenção ou acabou por ser assim?

Bem, é claro que ouvíamos algumas bandas de black metal atmosféricas quando começamos a banda e queríamos fazer algo semelhante. É um clima meio melancólico, mas com música áspera e, tudo o que gostavamos na música ou ouvíamos, tinha algum tipo de influência, e escrevíamos o que nos vinha à cabeça. Esse é o som geral, mas não havia bandas específicas a quem quiséssemos soar, nenhuma influência específica, acho que é uma mistura de todas as coisas que nos rodeiam e de que gostamos.


M.I. - Desde a formação em 2011, a banda atraiu cada vez mais fãs e críticos para as profundezas da melancolia, do ódio contra si mesmo e da raiva. Dirias que são misantropos? Estes dias parecem ser ótimos para os misantropos devido ao distanciamento social...

Não sei se somos misantropos, porque não temos uma atitude geral negativa contra todos os humanos. Fazemos muitas experiências e isso é algo que é importante trabalhar na música, porque quando estás desconfortável e tens experiências más, não podes simplesmente engolir, precisas de deitar tudo cá para fora. A música é um ótimo filtro e é uma catarse pessoal lidarmos com essas coisas, mas não odiamos a humanidade em geral. Quero dizer, claro, com tudo o que está a acontecer, é difícil encontrar coisas positivas, mas é mais sobre saber lidar com as coisas más pessoais que já aconteceram.


M.I. - “Maere” foi gravado durante a quarentena da primavera de 2020... é por isso que há um sentimento de abandono que permeia as dez canções?

Têm-me feito esta pergunta com bastante frequência, mas o álbum já estava concluído antes do início da pandemia, antes do início do primeiro bloqueio, portanto não houve influência direta deste distanciamento das pessoas. A música e as letras já estavam escritas antes de tudo começar, mas isto definitivamente também teve um impacto em nós e tenho certeza que o poderás ouvir no próximo álbum, mas não teve nenhuma influência neste.


M.I. – O vosso lançamento anterior "Arson" alcançou a posição # 29 na Alemanha e # 62 nas tabelas austríacas. Como se sentem com isso? Esperavam alcançar esta “fama”? Isto colocou uma pressão extra sobre vocês para este álbum?

Nem por isso! São só números, pode ser sorte, sabes? Talvez tenha sido uma semana com poucos lançamentos! Não me aprofundo muito neste assunto, acho que não devemos ser pressionados pelo números de vendas e devemos apenas fazer a música que desejamos. Se começarmos a ser influenciados por isso e apenas tentar escrever músicas que talvez vendam melhor, então estamos a fazer algo errado. Nada disso teve impacto em nós. Claro que há sempre um pouco de pressão porque queremos criar um ótimo álbum e não é fácil depois de já termos lançado quatro álbuns anteriores, porque não queremos que soem igual ou se repitam, mas não tem nada a ver com vendas ou posições nas tabelas.


M.I. - “Maere” é uma entidade folk maliciosa que se insinua no peito das pessoas adormecidas durante a noite causando-lhes falta de ar e ansiedade. Fala-nos mais sobre esta entidade. Por que a escolheram?

Procuramos uma palavra ou sinónimo que descrevesse o clima geral do álbum e das letras. Sim, muitas das situações com as quais as nossas letras lidam têm uma abordagem de pesadelo e todos nós conhecemos essa sensação de acordar com um aperto no peito. Achamos que seria um bom título para o álbum porque descreve um sentimento que bem conhecemos.


M.I. – O J.J. disse que vocês evoluíram como músicos e compositores... como assim? 

Acho que se amadurece naturalmente! Quer dizer, quando começamos, tínhamos 21 e 23 anos, praticamente éramos crianças e agora estamos perto dos 30. Acho que é natural que estejamos maduros e que também fiques mais elaborado, quando fazes algo durante algum tempo, como escrever letras e músicas. Por exemplo, as letras não são tão diretas na abordagem e também contêm mais metáforas, o que é um pouco poético! O mesmo com a música, a composição ficou um pouco mais madura e não temos vergonha de deixar outras influências de géneros não metal acontecerem também. Além disso, a maneira como trabalhamos juntos... já nos conhecemos há muito tempo, entendemo-nos como músicos e é mais fácil de combinar o trabalho dele com o meu. Acho que é o que ele quis dizer com isso.


M.I. - E de onde vem toda a criatividade? O que vos inspira?

Boa pergunta! Quase tudo à nossa volta! Como já disse, usamos muito a nossa música como catarse pessoal para escrever algo que nos está a incomodar ou que nos faz sentir raiva ou tristeza, é um bom filtro para nós, sabes? É um tipo de autoterapia, e tentamos pegar nas memórias más e canalizá-las para algo criativo como a música.


M.I. - Achas que é tão terapêutico quanto fazer sessões com um psicólogo ou um psiquiatra? É mais barato, mas ...

Sim e também é uma abordagem muito diferente, porque aprendes a lidar com isso sozinho e, se fores a um psiquiatra, tem alguém sentado lá que recebe à hora e faz algum tratamento, tem que ouvir os problemas das pessoas a cada hora. Isso também não é bom para todos e tenho a certeza de que nem todos os psiquiatras são bons. E se eles te podem ajudar, tu também podes lidar com os teus próprios problemas e podes escrevê-los ou tentar transformá-los em música. Acho que é uma boa maneira de aprender a ajudares-te a ti próprio e isso é uma coisa boa.


M.I. - Sempre que tens uma ideia para uma música ou riff, o que fazes? Tentas registá-la imediatamente? Tens um caderno especial para isso?

Bem, sei que o J.J. tem sempre o seu caderninho com ele e quando tem ideias para letras, ele geralmente escreve-as imediatamente ou fala-as para o seu telefone na função de gravação. Quando eu tenho uma ideia para uma melodia ou para um riff, por exemplo, às vezes acontece até durante a noite... se acordo e tenho alguma ideia na cabeça, vou para o meu computador e gravo, porque se adormecer de novo, posso me esquecer. Por isso, anoto as coisas, mesmo se forem apenas pequenas ideias, e tento revê-las mais tarde. Se for uma coisa boa ou se eu puder fazer uma música a partir da ideia, tento trabalhar nisso.


M.I. - A maioria das capas dos vossos álbuns apresentam algum tipo de animal... por quê?

Não sei! Nós apenas mantivemos esse tipo de capa porque gostamos de usar a estética dos animais, mas com alguma relação com a música e as letras. Não há nenhuma razão particular para isso, é algo em que concordamos silenciosamente, porque apenas gostamos da aparência. É puramente estético.


M.I. - Sim, mas vocês são amantes dos animais, veganos ou vegetarianos?

Não, não somos nem veganos nem vegetarianos, mas ambos gostamos muito de animais.


M.I. - Esta capa revela uma “ovelha” a tirar a máscara e a transformar-se num lobo. É isso? Qual é a sua relação com o álbum?

Sim, essa é uma maneira de a interpretar. Pode ser como a própria esfola de um animal ou do lobo em pele de cordeiro, sabes? Cabe a cada um por si interpretar o que vê e acho que é um pouco da beleza disso, tu puderes tirar as tuas próprias conclusões. Mas, claro, também a podes interpretar assim. Nem sempre é fácil mostrar o teu verdadeiro eu, o que te incomoda e falar disso, se é que me entendes!


M.I. - A banda parece ter uma queda por palavras fortes e soltas, daí os títulos dos álbuns. Acham que um título com uma palavra pode ter um impacto maior do que um título com muitas? Como as escolhem?

O nosso nome já é longo, por isso tentamos ter palavras curtas e fortes no título do álbum. Sim, é uma coisa que fazemos de propósito e que, provavelmente, faremos para todos os álbuns, como tem acontecido até agora.


M.I. - “Maere” apresenta alguns amigos da banda, como o frontman dos Alcest, Neige, a voz anónima dos Gaerea, e, como baterista de sessão, Kerim “Krimh“ Lechner (Septicflesh, live-Behemoth). Como surgiu a ideia de convidar estes artistas?

O Krimh já tocou no último álbum, é um baterista fantástico! Como somos apenas uma banda de dois homens e ele é nosso amigo e faz um trabalho fantástico. Também tocou no último álbum e funcionou muito bem, então pedimos-lhe de novo e acho que o faremos no futuro também. Com Neige como vocalista convidado... Quer dizer, nós sempre fomos grandes fãs dos Alcest desde antes de começarmos a banda e, ao longo dos anos, tocamos em festivais juntos, e conhecemo-lo pessoalmente e tornamo-nos amigos. Era uma ideia antiga e ele concordou quando lhe pedimos. E estamos muito contentes por ter dado certo com os Gaerea, eles também são de Portugal, certo?


M.I. – Sim, sim!

Já conhecia os membros da banda há uns quatro anos porque a minha namorada estudava naquela altura em Portugal e, sempre que lá estava, encontrava-me com eles e mostravam-me o Porto, por exemplo. Quando o álbum deles saiu, gostei muito da voz e achei que iria acompanhar muito bem a voz do nosso vocalista. Ter os dois na mesma música! Estou muito feliz que tenha resultado, também é ótimo trabalhar com amigos.


M.I. - Como decidiram fazer a cover dos Placebo 'Song To Say Goodbye'? São fãs? Acreditam que lhe que fizeram justiça?

Sim, claro, caso contrário, não a teríamos feito. Sou fã de longa data dos Placebo! Eu tinha três músicas diferentes de que queria fazer uma cover, mas esta música em especial também tem muito significado para o nosso vocalista, e tornou-se bastante óbvio que era esta que tínhamos de fazer. Acho que os Placebo, em geral, fazem música que é bastante comparável, no que diz respeito à atmosfera, à nossa música, e as melodias encaixam muito bem, interpretámo-las da nossa maneira e as letras encaixam bem, e espero que lhe tenhamos feito justiça. Nós apenas a tentamos interpretar à nossa maneira, tentamos tirar o melhor proveito disso e espero que tenha funcionado.


M.I. - A banda tem uma política de só fazer covers de bandas que não tocam black metal. Porquê? Acham que tocar uma música no mesmo estilo musical não faz sentido? 

Acho isso chato porque não podes mudar assim tanto o seu estilo. Acho que é muito mais interessante se as melodias funcionarem e as letras se encaixarem no tópico geral. Há tantas músicas interessantes fora do black metal, que talvez outras pessoas que ouvem black metal não tenham ouvido ainda, e também é ótimo se puderem fazer outras pessoas conhecer músicas que normalmente não ouviriam. Acho que é uma abordagem muito mais interessante e é por isso que decidimos fazer assim.


M.I. - Qual é a tua música favorita deste álbum? Porquê?

É uma pergunta difícil! Na verdade, muda muito. De momento é “Us Against December Skies”, porque estamos a ensaiar e é muito divertido tocá-la ao vivo.


M.I. - Este é o quinto álbum da banda e é lançado no ano em que comemoram o 10º aniversário. A fim de celebrar ambos os marcos, os Harakiri for the Sky deveriam fazer uma extensa tour europeia como cabeças de cartaz. Quais são os planos agora?

Bom, planeamos fazê-lo no próximo ano, no início do ano que vem... mas ninguém sabe de nada, como será nessa altura. Pensamos que já poderíamos fazer concertos, mas tudo ainda está completamente fechado em todo o mundo. Não posso fazer previsões, mas espero que, no início do próximo ano, possamos tocar de novo, mas é difícil dizer já que ninguém sabe quando será possível, quando tudo voltará ao normal.


M.I. - Vocês deveriam tocar no Vagos Metal Fest aqui em Portugal também este ano. A banda também já tem uma tour planeada com Gaerea e Schammasch que foi adiada para 2022. Quais são as expectativas?

É difícil dizer porque tudo muda a cada semana. Só sei que, em Portugal, a situação piorou muito e há muitas mortes por semana e ninguém sabe se poderemos sequer visitar o país durante o verão ou se já temos que estar vacinados. Aqui está tudo muito lento com a vacinação, mas realmente espero que possa acontecer de alguma forma.


M.I. - A banda está com a AOP Records desde o primeiro lançamento... já foram “seduzidos” por outras editoras? Por que se mantêm com a AOP?

O dono da AOP tornou-se um grande amigo ao longo dos anos. Ele esforçou-se muito e podemos confiar nele para fazer tudo de forma prática. Ele faz um grande trabalho! Por exemplo, ele não atrapalha a nossa criatividade, nunca houve problemas e estamos muito felizes em trabalhar com ele. Claro que houve outras editoras que nos abordaram, mas nunca vimos razão para mudar porque estamos muito felizes com a nossa.


M.I. - A cena austríaca de Black Metal é incrível. Penso nos Summoning, Dornenreich que começaram como BM, Ellende... como é que as bandas se entendem? Ajudam-se mutuamente?

Existem muitas bandas jovens também e algumas como os Summoning, mas não estamos realmente envolvidos na cena. Os tipos dos Summoning são muito mais velhos do que nós e nem os conhecemos pessoalmente. Acho que eles também não são pessoas que vão a muitos concertos. Nunca estivemos muito envolvidos na cena, não vamos a bares nem clubes de metal, por isso não posso dizer nada sobre este assunto, exceto que existem algumas bandas jovens que são realmente promissoras como Ellende, por exemplo.


M.I. - Considerando o número de anos de atividade, a banda tem sido muito criativa: 5 álbuns em 10 anos. Dizem que pensam em música o tempo todo. A banda é o vosso trabalho a tempo inteiro?

Agora somos músicos a tempo inteiro. Claro, às vezes, quando há menos concertos, temos alguns pequenos trabalhos paralelos e fazemos algo para ter dinheiro. Mas o nosso foco principal é a banda, esse é o nosso trabalho principal. A pandemia também está a bater muito forte e é difícil ser músico a tempo inteiro, mas também não é possível ter um trabalho de 40 horas quando fazemos 80 concertos por ano... nenhum patrão toleraria isso!


M.I. – M.S., muito obrigada pelo teu tempo. Tudo de bom para ti e para a banda. Espero que em breve possam fazer digressões para que possam vir tocar a Portugal! Tens palavras finais que gostarias de partilhar connosco?

Quero agradecer-te a ti também pela entrevista! Foi muito bom conversar contigo. Sim, espero sinceramente que possamos regressar a Portugal simplesmente, porque adoro esse país e sempre gostei de estar aí, por isso estou ansioso por regressar!

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Entrevista por Sónia Fonseca