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Entrevista aos Wooden Veins



A 4 de junho de 2021, a banda chilena Wooden Veins lançou o seu aguardado álbum de estreia, intitulado "In Finitude", pela editora The Vinyl Division.

Apresentando ex-membros de bandas conhecidas de doom metal como Mourning Sun e Mar de Grises, os músicos não são estranhos à cena. Com a ideia de criar um tipo diferente de música, incluindo subgéneros e traços de outros elementos, os Wooden Veins criam verdadeiramente o seu próprio universo sonoro de outro mundo. Com uma ampla gama de ingredientes, embalados num conceito artístico e estética definidos, a estreia da banda é uma peça musical profundamente poderosa, explorando a fronteira dos territórios do metal extremo. A Metal Imperium teve o prazer de entrevistar todos os membros da banda e saber mais sobre este novo projeto. Continuem a ler...

AA: Alberto Atalah
JC: Javier Cerda
EP: Eduardo Poblete
JE: Juan Escobar


M.I. - Por que sentiram a necessidade de criar este projeto? Os Wooden Veins foram formados em 2020... é um projeto que nasceu do tédio por causa da pandemia ou já estavam a pensar nisso antes?

JE: Olá Sónia, aqui é o Juan Escobar. Bem, a banda foi criada pelo Eduardo e ele recrutou-nos para o trabalho. Com o Eduardo, estávamos a compor música um ano antes de começar os Wooden Veins com outros músicos, mas decidimos terminar esse projeto e começar do zero. Portanto, podemos dizer que é uma segunda tentativa para nós os dois. Há alguns anos (2018), o Eduardo recrutou-me como músico de tournée para para alguns concertos com a sua ex-banda Mourning Sun, e, depois disso, continuamos sempre a tentar fazer algo juntos na música.

EP: Os Wooden Veins foram formados devido à necessidade de criar coisas novas. Desde o início, os músicos encaixaram muito bem na banda. Acho que todos nós tínhamos a mesma necessidade de aprofundar as nossas ideias. Foi um sucesso e avançamos rapidamente sem forçar nada. Agora, depois de um ano, sinto-me feliz por trabalhar com estas pessoas incríveis e músicos talentosos. Estamos mais do que satisfeitos com o resultado de “In Finitude”, faz parte de nós, da nossa vida e dos nossos sentimentos. Isso motiva-nos a continuar a criar música.


M.I. - A banda conta com ex-membros de conhecidas bandas de doom metal como Mourning Sun e Mar de Grises e queria criar algo completamente diferente do que tinham feito anteriormente.

JE: Estou sempre a tentar ir mais longe com a música. Estou envolvido com várias bandas hoje e a tentar o melhor que posso fazer com todas elas. Às vezes é difícil e, às vezes, é ainda mais difícil. Mas há sempre a preocupação de fazer algo.
EP: Ter liberdade criativa, manter o respeito uns pelos outros, mesmo que tenham ideias que não percebemos. Isso faz a diferença, o respeito. Acho que estamos no bom caminho.


M.I. - De onde veio esse sentimento? Que “mensagem” querem transmitir desta vez?

EP: Vem das profundezas do nosso eu para expressar as emoções e sentimentos verdadeiros, representando ações e experiências. A mensagem: “Se participares na nossa viagem, vais perceber que não estás só. Bem-vindo!".


M.I. - A banda chama-se WOODEN VEINS, mas usa (WDN: VNS). Por quê? De onde vem o nome? Qual é o seu significado?

EP: O nome nasceu da ligação com as nossas raízes, espirituais e carnais, criando um elo do “eu” com o universo e a terra. As veias representam as raízes e a madeira a ligação com a terra, este conjunto de coisas é o nexo para inquirir o nosso eu interior e materializá-lo na música. WDN: VNS é apenas uma abreviatura.


M.I. – A vossa música inclui subgéneros e vários elementos que a diferenciam dos sons extremos típicos. Como criaram esta forma única de expressão? Como é que as pessoas estão a reagir?

JE: No início, queríamos criar uma banda sem fronteiras, e se queremos adicionar um pouco de black metal, por que não?! Viemos da essência do doom, black e death metal, mas não queremos ser "apenas" uma banda doom ou death metal. Conversamos um pouco sobre isso e concordamos em concentrar-nos em algo de que gostamos. Algumas pessoas odeiam e outras amam. Não há meio termo.
AA: Tudo veio de uma forma muito natural, já que não queríamos colocar nenhuma fronteira musical, apenas fizemos o que achamos certo para a música. Viemos todos de diferentes lugares musicalmente falando e temos experiência em diferentes áreas, isso é sempre uma mais-valia para um projeto como este.


M.I. - “In Finitude” é o vosso primeiro álbum e foi lançado no dia 4 de junho. Estais entusiasmados?

JE: Extremamente animados. Sinto uma ótima vibração neste álbum também.
AA: É muito bom ver essa parte do processo concluída, começamos no ano passado e agora o álbum finalmente foi lançado, agora vem a próxima etapa, a promoção e, com sorte, uma tournée.
EP: Emoção, satisfação e gratidão.
JC: Muito animado! Tenho sorte de fazer parte disto.


M.I. – Se pudessem descrever o álbum de estreia em poucas palavras, o que diriam?

JE: Uma jornada interior. Cheio de amor.
EP: Expressão de sentimentos ligados à alma.


M.I. - O livro “Poética de Arturo H. Lobos” de Javier Cerda é o alicerce da temática do álbum, que incide sobre a vida e a morte, o impulso de ser, as ilusões e as reflexões existenciais. Por que te sentes atraído por tópicos como este? A idade e a maturidade tornaram-te uma pessoa mais filosófica / preocupada?

JC: Oi! É o Javier aqui. Eu acho que uma das razões pelas quais o Eduardo quis trabalhar connosco é por causa da nossa formação em comum relativamente a influências musicais, como bandas de Doom e Black Metal principalmente. Acredito que esses subgéneros sejam profundamente introspetivos, realmente comoventes, pois podem levá-lo a um território desconhecido, tanto na música quanto nos pensamentos, tudo nesse clima sombrio, ensurdecedor e sensível em torno da morte e da tristeza, mas também da beleza e do assombro. Em algumas das primeiras reuniões que tivemos, conversamos aproximadamente sobre os tópicos envolvidos e os elementos que surgiram espontaneamente foram o existencialismo, a introspeção e a natureza, tópicos que, por acaso, estão em alguns dos poemas do livro, e a ligação foi feita.


M.I. - O livro estará disponível juntamente com o álbum?

JC: Estou a trabalhar nisso. A preparar uma segunda edição que pode sair juntamente com o álbum num futuro próximo.
 

M.I. - Quem é o personagem Arturo H. Lobos?

JC: Ele vai desenvolver-se nos próximos anos, porque, honestamente, eu também ainda estou a descobrir este tipo!


M.I. - Quanto tempo é que o Javier demorou a escrever o livro? Foi escrito com o propósito de ser transformado em letras de álbum? Se não, quando surgiu a ideia de usar os poemas para o álbum?

JC: Na verdade, o álbum e o livro são bastante separados, mas próximos em alguns pontos. Demorei dois anos e meio para escrever e publicar “Poética…”, e foi logo após a sua publicação que o Eduardo me ligou. Pouco depois, começamos o processo criativo e foi quando decidi usar alguns dos poemas e ideias do livro que foram então desenvolvidos como um tema existencialista geral. Poderíamos dizer que foi um momento muito bom.


M.I. - Cada poema foi transformado numa música ou foi adaptado? Restam poemas para serem usados num lançamento futuro?

JC: Foram usados muito poucos deles, sendo “Herradura (by the sea)” a adaptação mais fiel do livro. “Thin shades” e “Empty arcs” também têm laços fortes. Outras canções, como “In Finitude” ou “Beyond Words”, têm textos exclusivos, mas giram em torno dos mesmos tópicos. Quanto a qualquer outro poema do livro a ser usado, nunca digo nunca, mas agora estou concentrado em escrever coisas novas os para WDN: VNS e projetos pessoais.


M.I. - Quem é o responsável pela tradução dos poemas para inglês? Por que não usaram os poemas na língua original?

JC: Fui o responsável pelas traduções e adaptações. Foi um verdadeiro desafio no qual tive a ajuda de Juanita Ozamiz (JT Blackie), uma escritora e música que mora na mesma região que eu. A sua sensibilidade para escrever ajudou-me muito a descobrir como expor algumas ideias ou como adaptar algumas já existentes, mas não “encaixadas” na música. Quanto ao uso da língua original, a maioria das músicas com as quais crescemos não é hispânica, o que adiciona um pouco do mistério e da beleza em torno da música; não ser capaz de entender o que os cantores estão a cantar, torna muito mais fácil a concentração na música do que no que eles estão realmente a dizer. Digamos que, lá no fundo, as vozes também são para quem não fala inglês.


M.I. - “The Veiled Curse” foi lançado cerca de 9 meses antes do lançamento do álbum (foi basicamente lançado na época do lançamento do livro, certo?), recebeu uma grande reação e mostrou brilhantemente a atmosfera de “In Finitude”. Por que é que essa faixa foi lançada com tanta antecedência? Por que é que essa foi a melhor opção para se apresentarem ao mundo?

JE: Nós nascemos com essa música, de facto. O plano era mostrar a banda ao mundo antes de lançar o álbum para pudermos lidar com o anonimato como banda.


M.I. - A produção também é um componente chave em “In Finitude” e foi feita por Juan Escobar nos Vultura Studio (República Checa) e masterizada por Magnus Lindberg (Suécia). Tornou as coisas mais fáceis ser um membro da banda a produzir o álbum? Como foi trabalhar com o Lindberg?

JE: Eu acho que ser membro e produtor é uma situação em que todos ganhamos. Nós pré-produzimos o álbum em 4-5 meses e, depois, entramos no estúdio para gravar. Demorou cerca de 4-5 meses para terminar antes do processo de masterização. Parecem 2 anos e não foi nem um, mais os tempos de pandemia e a distância. Nunca nos encontramos para pré-produzir ou gravar. Fizemos isso inteiramente à distância entre Berlim-Alemanha, Plzen-Rep. Checa, La Serena e Santiago do Chile. Hoje em dia, a videochamada é mais do que uma forma normal de trabalhar.
A nossa experiência com o Magnus no processo de masterização foi perfeita. Ele ajudou-nos a resolver alguns problemas técnicos que tínhamos no início e, depois disso, trabalhamos cerca de 2 ou 3 semanas no total. É um ótimo profissional!


M.I. - A arte da capa apresenta todos os membros da banda com corpos pintados, a constelação de Andrómeda e uma espécie de cruz. Qual é o seu significado?

EP: É uma foto promocional, a constelação representa o universo e os rostos pintados representam, como já expliquei, a ligação das raízes com o universo, unidas pelo “eu”. A capa do álbum representa a mesma coisa, a água e a terra separadas em níveis diferentes: no centro, uma esfera brilhante representa o universo e a silhueta representa o "eu". Este trabalho foi criado pelo artista Valnoir de Metastazis (Ulver, Amorphis, Paradise Lost entre outros).


M.I. - Por que é que a Constelação de Andrómeda aparece na capa? É porque o universo é infinito, daí a ligação com o título “In Finitude”? Ou existe um significado mais profundo?

EP: Tal como disse na resposta anterior, esta é uma foto promocional, não a capa do álbum. A constelação representa o universo.


M.I. - A arte é do Valnoir de Metastazis (Ulver, Amorphis, Paradise Lost). Correspondeu às vossas expectativas? Deram-lhe alguma orientação ou ele apenas seguiu o seu instinto?

JE: Nós partilhamos com o Valnoir tudo o que fizemos em “In Finitude”, tudo o que sentimos: ideias, letras, conceitos, etc. dando-lhe a liberdade de nos trazer as suas ideias sobre o assunto. Isso pode parecer um cliché, mas realmente, ficou melhor do que o esperado.


M.I. - Com a pandemia, a maior parte da promoção é feita online nas redes sociais. Quão complicado é promover um álbum contando apenas com a internet?

EP: Acho que agora é mais fácil do que antes, quando começamos a tocar música nos anos 90. A internet facilita tudo, claro, tens que ratificar todas as coisas boas com apresentações ao vivo.


M.I. - Aqui em Portugal, e creio que o mesmo aconteça na Europa, não temos muito conhecimento do impacto da pandemia no continente americano (além do Brasil e dos EUA). Como é que o Chile está a lidar com isso? Já veem a luz ao fim do túnel e têm mais “liberdade” agora do que nos últimos meses? Alguma ideia de quando tocarão ao vivo para promover “In Finitude”?

JE: É realmente uma situação difícil. Na verdade, no Chile, as fronteiras estão fechadas e as restrições mudam a cada semana ou a cada duas semanas. Infelizmente, não há luz no fim do túnel, mas a esperança ainda brilha.


M.I. - Sendo músicos que estão há tanto tempo envolvidos com a cena musical, o que esperam alcançar com este projeto?

JE: Partilhar a música dos Wooden Veins com muitas pessoas, e ter a liberdade de nos expressarmos sem medo.
EP: Que a banda continue a crescer com humildade. Ter o amor pela música a orientar-nos.
 

M.I. - Tudo de bom para os Wooden Veins! Deixem uma mensagem final aos vossos fãs e leitores da Metal Imperium.

JE: Obrigado Sónia pela oportunidade de partilhar, falar e espalhar a nossa palavra contigo e com todas as pessoas que leem a Metal Imperium Webzine e espero alcançar mais amigos que apreciem a nossa música e arte.
JC: Fiquem seguros, fortes e mantenham a música a tocar!
AA: Obrigado Sónia e Metal Imperium pelo apoio, espero que possamos visitar e tocar alguns concertos em Portugal num futuro próximo. 
EP: Obrigado Sónia e Metal Imperium pelo apoio, temos muitos amigos em Portugal, estive aí em duas digressões com a minha antiga banda, são mesmo espetaculares, para eles um grande abraço.

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Entrevista por Sónia Fonseca