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Living Tales - “Persephone” Review

Mais uma perolazinha nacional que saiu ainda durante o passado ano. Persephone não precisou de quase uma década para ser lançado, tal como aconteceu com o seu antecessor e assim, os Living Tales conseguiram ainda acrescentar o seu nome à lista dos melhores lançamentos nacionais de 2022.

Parece que foi ontem que tive o enorme prazer de fazer a review ao anterior trabalho desta banda do Porto. Mirrors surpreendeu-me imenso na altura. A banda era novidade para mim e a qualidade das composições conquistou o meu respeito. Não é por isso de admirar que este novo Persephone tenha merecido, assim que saiu, um lugar de destaque na lista de música em MP3 que habita no meu telemóvel. O mesmo é dizer que por esta altura já conheço o álbum de trás para a frente, sentindo-me perfeitamente à vontade para escrever sobre ele.

A bitola tinha ficado alta. Mirrors é um álbum marcante, tal como referi em 2020 e merecia ter sido alvo de melhor divulgação, algo que a pandemia não permitiu. De lá para cá muito aconteceu e por motivos pessoais a vocalista Silvia Bellora teve de abandonar os Living Tales. Calculo que encontrar uma substituta à sua altura não tenha sido tarefa fácil, o certo é que a voz de Ana Isola nada fica a dever à sua antecessora. 

Peresphone vem reforçar a ideia de que Mirrors não tinha sido um tiro no escuro, um golpe de sorte. A capacidade de composição da banda é muito boa e o terreno que pisa (metal sinfónico/progressivo) é vasto, permitindo caminhar em várias direções. Um pouco de gaita-de-foles no tema “Reckoning”, logo seguido de uns 10 segundos de jazz, tudo é permitido quando a imaginação abunda. Existem muitos pormenores que parecem revelar-se a cada nova audição e que nos fazem gostar ainda mais do álbum. No capítulo da interpretação é tudo mais fácil quando existem músicos à altura, o que acontece novamente neste trabalho. Instrumentalmente mantêm-se os membros do álbum anterior e a versatilidade da voz de Ana assenta nos temas de Persephone como uma luva. Oiçam o tema “Poem”, por exemplo, para entenderem melhor aquilo a que me refiro.

A qualidade de um álbum pode ser medida pela quantidade de singles que dele brotam naturalmente e em Persephone eles saltam que nem pipocas. Depois de “Reign” e “Immortal”, surgiu mais recentemente “Prodigal” e talvez não fiquemos por aqui. Perante tantos sinais positivos em torno dos Living Tales, não foi de estranhar a aproximação da editora Ethereal Sound Works, formando uma parceria que tem tudo para dar frutos. A banda tem andado na estrada a promover este novo disco e tem encontro marcado com o público lisboeta no próximo dia 14 de janeiro no RCA Club.

Correndo o risco de me repetir, tenho de dizer que Persephone é todo ele muito bom, desde o tema inicial “Reign”, até o final “Odyssey” que é uma verdadeira odisseia de 15 minutos, devidamente dividida em 3 partes. E porque a música progressiva não tem obrigatoriamente de ser aborrecida como um jogo de xadrez, encontramos entre elas uma mão cheia de outros temas capazes de porem um sorriso no rosto da Greta Thunberg, o que não é fácil, acreditem, a miúda parece estar sempre chateada. Tanta porcaria que nos chega do estrangeiro que por vezes não merece sequer a energia que é gasta para a reproduzir e nós com bandas nacionais tão boas. Haja curiosidade em descobri-las, vontade de divulgá-las e coragem para apostar nelas e lhes dar palco.  Se o anterior Mirrors teve direito a 8,7/10, Persephone não poderia de forma alguma receber menos de 9/10, pois houve uma clara evolução e ela deve ser recompensada. 

Nota: 9.2/10

Review por António Rodrigues