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Reportagem: Trivium, Heaven shall Burn, Obituary e Malevolence @ Sala Tejo, Lisboa – 04.02.2023



Cada vez mais estas digressões querem-se lucrativas. Deixou de ser apenas uma questão de simples rentabilidade para que elas continuem a existir (e a visitar o nosso país), torna-se imperioso que exista retorno financeiro. Esse é medido pela assistência e quem montou este cartaz tinha plena consciência disso mesmo. Senão vejamos: Malevolence, a banda inglesa de metalcore que conta com três álbuns, todos eles muito aclamados; Obituary, pioneiros do death metal, autênticas lendas vivas dentro do género; Heaven Shall Burn (H.S.B.), com o seu metalcore de cariz mais melódico, conhecidos também pelas suas memoráveis prestações ao vivo e por fim, os Trivium, que com a sua versatilidade entre o heavy e o thrash metal, alcançaram uma sonoridade capaz de conquistar cada vez mais fãs.

Foram os Malevolence a darem início à festa. Sala muito bem composta logo pelas 18h30, sinal claro da expetativa em volta do concerto destes britânicos. Eles não desiludiram ninguém, fazendo incidir a sua atuação no mais recente álbum, Malicious Intent. Foi mesmo o tema que dá nome a este trabalho a abrir o concerto e a colocar os presentes em movimento. “Apenas peço a vossa energia”, gritou Alex Taylor, como se fosse necessário fazê-lo. “Self Supremacy” foi o único tema desse mesmo trabalho a ser tocado, mas deu para tudo, deu para uma Wall of death e até para que o vocalista fizesse stage diving. “Higher Place” acalmou temporariamente a sala, mas foi a calma antes da tempestade, pois a ponta final foi feita com “Keep Your Distance” e “On Broken Glass”.

Os fãs dos Obituary não passavam despercebidos na Sala Tejo. Estes eram maioritariamente mais velhos que o restante público presente. Estamos a falar de uma banda com 34 anos de existência, porta-estandarte do género death metal e que se encontra ainda “para as curvas”. Sinal claro disso mesmo é o mais recente trabalho dos Obituary, Dying of Everything, lançado já no decorrer deste ano. A sua atuação não se focou, no entanto, nesse álbum. Eles sabem o que o público pretende dos seus espetáculos e assim, fizeram um set que percorreu algumas das “malhas” que foram acumulando na sua longa carreira. “Redneck Stomp” foi a primeira delas, mas não faltaram também “Don´t Care” e “I´m in Pain”, que encerraria a atuação. Pelo meio houve até tempo para “Circle of the Tyrants”, cover dos Celtic Frost.

"Of Thruth and Sacrifice" foi o mote para a atuação dos germânicos H.S.B.. Este mais recente trabalho ficou como que “congelado” devido à pandemia e a energia extra que a banda usa na interpretação desses temas é notória. Mas os clássicos estiveram presentes também, sendo servidos de forma intercalada, com mestria, para que o ritmo nunca se perdesse. “My Heart and the Ocean” mostrou desde logo que os H.S.B. continuam fiéis aos seus princípios. Metalcore, sim, violento, mas com a dose certa de melodia. “Behind a Wall of Silence” foi uma autêntica viagem no tempo. A própria banda guarda recordações sobre a sua primeira passagem pelo nosso país, 23 anos atrás, conforme referiu o guitarrista Alexander Dietz. A atuação de uma hora e quinze minutos foi uma autêntica descarga de energia. Apesar das recomendações da organização, era difícil, senão impossível, manter sossegado o publico no interior da sala que não dava descanso ao mosh-pit. Um dos momentos altos da noite deu-se com o tema “Black Tears”, um original dos Edge of Sanity, mas que pelos H.S.B. atinge outro nível. “Tirpitz” foi o culminar de um concerto brilhante (mais um) no nosso país.

Eram 21h50 quando as luzes da Sala Tejo se apagaram e se começou a ouvir “Run to the Hills”, o hino ao heavy metal dos Iron Maiden que tem servido de intro à atuação dos Trivium nesta tour.  O resultado não poderia ser outro. Após cantar o tema a plenos pulmões, o público fica no estado de ansiedade pretendido pelos Trivium, o indicado para que eles surjam em palco. Estes souberam aproveitar a embalagem, começando logo com “Rain” e “Amongst the Shadows and the Stones”. A aposta destes norte americanos para esta tournée tem sido a de percorrer a sua já longa carreira, tentando alterar as setlists dos seus espetáculos por forma a não se repetirem. Foi o que aconteceu nesta noite, onde vimos também um palco colorido, onde não faltavam microfones. Esta foi a forma encontrada para conferir a Matt Heafy (que envergava uma camisola da seleção nacional de futebol), a liberdade suficiente para que pudesse percorrer esse mesmo palco de uma ponta a outra. Foi só quase a meio da atuação que ouvimos o primeiro tema extraído do mais recente álbum, in the Court of the Dragon. “Feast” encaixou bem no concerto desta noite, pois repete, com sucesso, a fórmula de composição dos Trivium, onde, com a dose certa de melodia e ritmo tudo pode soar bem. Até mesmo “Coração Não Tem Idade (Vou Beijar)”, tema original de Toy que se tornou obrigatório, pelo menos nos concertos dados no nosso país. “Until the World Goes Cold” provou novamente ser um belíssimo tema e um pouco mais à frente, foi com a ajuda de Alexander Dietz dos H.S.B. que a banda interpretou “In Waves”. O ponto final desta atuação de hora e meia foi dado com “Pull Harder on the Strings of Your Martyr”.

Como podemos definir o que é um bom concerto? Talvez sejam aqueles que quando terminam fazem o público pensar “quando eles voltarem, vou vê-los de novo”. Pois bem, qualquer uma das bandas deste evento cumpriu com esse objetivo. 


Texto por António Rodrigues
Fotografias por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists