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Entrevista a Ellereve



De vez em quando, há um artista que desperta a nossa curiosidade com a sua criatividade e originalidade... Ellereve encaixa nesta categoria. Este projeto a solo da Elisa Giulia Teschner está a causar furor por toda a Europa e o seu álbum de estreia “Reminiscence” também. Com várias datas marcadas para este verão e com a promessa de vir tocar a terras lusitanas este ano, a Elisa abriu o seu coração à Metal Imperium nesta entrevista e acabou de ser confirmada a sua participação no Amplifest 2023. Excelente notícia! Fiquem a conhecer melhor esta artista! 

M.I. – Fala-nos sobre Ellereve. Elisa Giulia Teschner é quem idealizou o projeto, mas quem são os músicos que te acompanham ao vivo? Como surgiu a ideia de formar os Ellereve? Que mensagem queres transmitir?

Ellereve é um projeto a solo que surgiu num momento em que eu ansiava por independência, principalmente criativa. Em bandas anteriores, experimentei várias deceções que me atrasaram e os meus colegas músicos não eram tão ambiciosos quanto eu.

Demorei algum tempo a descobrir como queria posicionar Ellereve dentro do processo de criação e composição - de forma reduzida ou com uma banda ao vivo. A princípio, queria simplificar devido às minhas experiências anteriores com músicos não confiáveis, mas dessa forma não seria capaz de expressar todo o alcance da minha visão musical. É por isso que estou absolutamente feliz por ter encontrado grandes músicos ao vivo como o Darwin, o Patrick e o Lucci, que são parte integrante de Ellereve e também se tornaram amigos importantes ao longo do tempo. Não é fácil encontrar músicos que entendam a linguagem musical que falas e ao mesmo tempo se harmonizem a nível interpessoal.
Não pretendo transmitir nenhuma mensagem em particular através da minha música. É mais sobre expressar a minha experiência emocional e dar voz aos meus pensamentos que, às vezes, ficam muito barulhentos. Por trás de tudo isto existe uma ligação especial com as pessoas e os seus próprios sentimentos e interpretações. É mais sobre a magia de criar um espaço partilhado dentro das vidas musicais, no meio de todas as complexidades do mundo.


M.I. – O nome “Ellereve” é muito parecido com o francês “Elle rêve” que significa “Ela sonha”. Esse é o real significado: partilhar os teus “sonhos” com os ouvintes ou é apenas uma mera coincidência? Concordarias se eu dissesse que o mundo mágico de Ellereve é a banda sonora perfeita para uma noite de sonhos?

Bem, depende de que tipo de sonho. Trata-se de equilibrar luz e escuridão, e também deves estar preparado para alguns pesadelos. O nome „Ellereve“ é inspirado no significado francês, mas também inspirado na palavra inglesa „reveal“ - é por isso que a pronúncia também é baseada mais no inglês do que no francês.


M.I. – Como descreverias o som de Ellereve para alguém que nunca ouviu falar da banda?

Música melancólica sombria e atmosférica com uma pitada de shoegaze e vibrações de dark folk.


M.I. - Que bandas/músicos te fizeram perceber que querias ser música? Quantos anos tinhas quando percebeste que a música era algo sem a qual não poderias viver?

Nas primeiras lembranças que tenho da minha infância já era fascinada por música e artistas. Eu devia ter uns 3 anos quando o amor pela música começou. Na minha adolescência, tornei-me mais consciente do facto de que não poderia viver sem música - houve fases e momentos em que a música parecia uma salvação ou um espaço seguro para mim e ainda é hoje em dia. Muitos músicos contribuíram e inspiraram-me a decidir que quero compor música, atuar em palcos, mas também a expressar música de forma visual. A minha mãe sempre me levou a concertos com ela. O Peter Gabriel por exemplo – foi a minha primeira experiência de concerto quando tinha 8 anos e fiquei totalmente impressionada com a energia do público na sala, o modo como o som liga as pessoas, o que a música e os músicos me fizeram sentir, sem esquecer o impressionante conceito visual do espetáculo.
Além disso - a determinação de querer ser música surgiu principalmente quando eu era muito jovem - artistas como o Michael Jackson, o Freddie Mercury mas também a Amy Lee e a Alanis Morissette são uma grande parte disso.


M.I. – Qual é o teu género musical favorito? Podes enumerar os 5 álbuns que mais aprecias?

Realmente não posso limitar esta resposta e o meu gosto musical a apenas um género musical. Acho que é mais sobre a vibração. Eu diria que sou atraída por músicas melancólicas e atmosféricas que são principalmente focadas em guitarras. Algures entre o postrock, o black metal e o indie-rock/folk.

Fink - Perfect Darkness
Dornenreich - Her von welken Nächten 
O’Brother - The death of day
Bon Iver - Bon Iver
Emma Ruth Rundle - Marked for death 


M.I. - O álbum de estreia “Reminiscence” inclui 9 faixas. O que nos podes dizer sobre elas? Quais são as questões/tópicos abordados nas letras?

Cada música descreve diferentes fases da minha vida e sentimentos pelos quais passei. São sobre amor, perda, saudade, depressão, ansiedade, trauma, esperança, confiança, autorreflexão e sonhos.


M.I. – Na tua página no Facebook tem um post sobre o novo álbum no qual escreveste “Aqui está a minha honestidade, fragilidade, vulnerabilidade, força, determinação e devoção. Morte, nascimento, começos e fins, o som da rendição, todo o amor e esperança tecidos na cura, nas histórias e em cada faixa de “Reminiscence”. Um álbum altamente pessoal. Eu derramei muitas partes da minha alma aqui.” Mas o que especificamente te inspira a escrever as letras? Este é o melhor tipo de terapia para ti?

Exatamente o que mencionei na pergunta anterior também é o que me inspira. As minhas experiências, pessoas, relacionamentos. Os meus sentimentos - sim, a música é definitivamente uma terapia para mim, a minha válvula de escape para lidar com tudo isto.


M.I. – Na tua biografia refere que escreves músicas principalmente à noite, na tua sala de estar... esse é o cenário perfeito para escrever todas as músicas? Precisas de silêncio absoluto ou gostas de algum “ruído” de fundo?

Sou uma pessoa altamente sensível e luto para me concentrar e sentir confortável num ambiente barulhento e inquieto. Portanto, sou definitivamente mais criativa num ambiente tranquilo. Os sons de fundo que vêm da natureza num ambiente tranquilo são muito bem-vindos. Adoro ouvir a água, as ondas, o vento rodopiante, o chilrear dos pássaros, as folhas que caem ou se movem nas árvores - é na natureza que escrevo as minhas letras. Na minha mente, crio sempre o cenário do meu estúdio de sonho / cabana de composição num lugar nas montanhas ou à beira-mar.


M.I. - A voz emotiva da Elisa é o ponto focal ao longo do álbum. Quem tem sido a tua inspiração vocal? Tiveste aulas de canto para aprender a explorar as tuas habilidades vocais?

Nunca tive aulas de canto. Explorei o meu alcance vocal simplesmente ouvindo muita música e cantando as minhas músicas favoritas desde muito jovem. Além das vozes femininas, também me inspiro em vozes masculinas que estão absolutamente distantes da minha própria voz.
O sentimento que me transporta é o que me compreende. Por exemplo, o Peter Gabriel e  Fink fazem isso comigo. Em relação às harmonias, estou a adorar o Thom Yorke. A Elena Tonra dos Daughter, a Lorena McKennitt e a Emma Ruth Rundle são vocalistas femininas que são muito inspiradoras para mim.


M.I. - Em alguns refrões, existem várias camadas vocais que cobrem várias oitavas para criar um efeito de elevação. Quão complicado foi alcançar o resultado que querias?

Tudo acontece de forma subconsciente e livre improvisada...- cantar harmonias é uma das minhas coisas favoritas e é sempre super divertido!


M.I. - Qual é o significado por trás da capa do novo álbum? És a modelo? A nudez é um símbolo do facto de “expores” o teu interior no álbum?

Revelar o meu eu interior é definitivamente uma grande parte disso, e sim, é um disco pessoal com uma capa pessoal. Escolhi deliberadamente a foto da capa a partir de elementos da natureza em fusão com o corpo humano, porque para mim é a que melhor descreve o processo de escrever música em ligação com o processamento das emoções. A magia da mudança. A natureza sempre foi um aspeto importante na minha vida, ela inspira-me e tem algo de fundamental e curador para mim. É cru, duro, terno, honesto, efémero e mostra sempre como o desapego pode ser lindo. O peso ou a escuridão das pedras na capa podem parecer opressores, mas podes decidir por ti mesmo se permites que as pedras que carregas na vida te fazem sentir cercado ou esmagado por elas.


M.I. - O álbum foi lançado pela Eisenwald Records. Como surgiu o acordo com esta editora? O que esperas dele?

É importante para mim trabalhar com uma editora que me parece coerente, e cujos artistas eu gosto. Ouço Agalloch há muitos anos, para ser mais precisa, descobri-os quando tinha 13 anos. Por outro lado, também é importante estar ciente de onde está o meu público-alvo. O meu público gosta mais de músicas mais pesadas e sombrias. Portanto, faz sentido que eu esteja com uma editora como a Eisenwald, e não com uma que se concentre apenas em música pop e indie.
É a minha primeira colaboração com uma editora. Trabalhar com profissionais da indústria da música significa, na melhor das hipóteses, obter apoio e conselhos, isso é o que eu esperava e é isso que estou a receber agora e estou muito grata.


M.I. - Uma crítica mencionou que ""Reminiscence" é essencialmente um álbum de cantor e compositor, baseado em melodias vocais, ao invés de um trabalho baseado em riffs com vocais adicionados no topo." Consideras isso correto?

Acho que não há classificação do que exatamente constitui o álbum de um compositor ou como ele é criado. Sobre „Reminiscence“, posso pelo menos dizer que, na verdade, começo sempre a escrever as músicas com uma melodia instrumental, depois vêm as vozes. Mas é claro que dentro da produção o foco recai sobre as vozes. De qualquer forma, acho que cada ouvinte definirá por si mesmo.


M.I. - O álbum já recebeu ótimas críticas. Qual a importância das críticas? Achas que podem realmente influenciar as pessoas a comprar o álbum?

Na verdade, nunca descubri música por causa de críticas, a música em si convence-me se eu gosto de algo ou não. No entanto, acredito que as críticas são importantes de alguma forma - elas garantem a atenção, seja ela boa ou má.


M.I. – És a personagem principal em todos os videoclipes de Ellereve. Quem cria o conceito para os vídeos? Quem decide como um vídeo deve ser?

Eu desenvolvo todos os conceitos de vídeo. A equipa ou os artistas com quem depois trabalho na implementação ajudam-me a visualizar as minhas ideias, porque nem sempre tudo é tão implementável como eu gostaria e por isso, às vezes, tenho de criar e improvisar algo à volta da minha própria visão. Neste caso, sou muito grata pela contribuição profissional e pelo apoio dos diretores com quem tenho trabalhado.


M.I. - “Reminiscence” acabou de ser lançado... vocês iniciaram uma tournée pela Alemanha e Áustria. Como foram os primeiros concertos? Quão recetivo tem sido o público?

Foi uma sensação indescritível voltar aos locais onde havia tocado no ano anterior e agora ver rostos familiares novamente e, principalmente, ver as pessoas na plateia a cantar comigo as minhas músicas. Um momento de arrepio absoluto que nunca esquecerei. Comparado ao ano passado, decidimos ser 4 músicos no palco agora. Antes o baixo vinha como backing track (porque eu queria simplificar) mas agora o Lucci está ao nosso lado, ele toca baixo e também sintetizadores. Estou muito feliz com esta decisão e não quero sentir a falta dele outra vez. A interação com ele dá uma experiência de palco muito mais intensa ao público, assim como a nós.

 
M.I. – Vocês tocaram ao lado dos Downfall of Gaia e Implore há uns dias. O que é que essas bandas e Ellereve têm em comum? Como surgiu a ideia de tocarem juntos?

Eu amo a música dos Downfall of Gaia, e apenas lhes perguntei se poderia acompanhá-los no concerto em Estugarda. Poder ir a concertos de músicos que eu gosto e também fazer o mesmo concerto com os artistas, conhecer as pessoas por trás da música é super fixe!


M.I. - Vocês têm muitos concertos e festivais agendados para esta primavera e verão?

Estou ansiosa pelo festival WGT em Leipzig em junho. Também vou fazer o meu primeiro concerto em Portugal - os detalhes são ultrassecretos neste momento, mas o anúncio será feito em breve. Aqui e ali, há slots de suporte a artistas incríveis como Shy, Low e Lucy Kruger & The Lost Boys. Mal posso esperar!


M.I. - Se pudesses escolher uma banda/artista para apoiar em tournée, quem seria e por quê?

Os Radiohead. Não são necessárias mais palavras. (risos).


M.I. - Existe um local específico (não importa onde), onde sonhas tocar?

Royal Albert Hall em Londres.


M.I. - Qual é o principal objetivo de Ellereve? O que esperas conseguir?

Poder experimentar uma certa liberdade artística em relação ao meu centro de vida, para poder me concentrar totalmente na música; escrever música, desenvolver conceitos visuais, fazer tournées... tudo lhe pertence, é uma parte essencial dele. É claro que algo assim precisa ser construído e precisa do suporte certo, mas acho que estou em boas mãos e estou animada para ver como as coisas se vão desenvolver.


M.I. - Por favor, deixa uma mensagem aos leitores da Metal Imperium. Tudo de bom!

Se estão curiosos para saber como soa a minha música - ouçam o meu álbum de estreia "Reminiscence" e mantenham-se em contacto comigo, porque vou tocar em Portugal este ano!

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Entrevista por Sónia Fonseca