About Me

Xasthur - “Inevitably Dark” Review

Xasthur é o projeto predileto do californiano Scott Conner e é amplamente reconhecido por ter sido um dos grandes baluartes do nicho que é o Depressive Suicidal Black Metal. Ou seja, já não o é e isso já vem de algum tempo atrás, mais precisamente, 2009-2010 quando Scott afirmou que iria terminar com Xasthur e seguir com o seu projeto paralelo de Folk. E a história podia ter ficado por aqui e esta ser uma review de alguma compilação dos lançamentos da banda até 2010 ou uma coletânea de temas nunca antes lançados.Mas não é.

Algures em 2015, o Sr. Conner achou que era altura de ressuscitar Xasthur mas continuar o projecto com as suas novas influências e tendências musicais que quedavam mais para o neofolk/dark ambient e estavam bastante longe do Depressive Black Metal que o projeto praticava. E que fique desde já exposto que isso não tem mal nenhum e que, se já deram um olhinho na triste nota deste “Inevitably Dark”, a avaliação não teve nada a ver com o facto de Xasthur se ter afastado do Metal em geral ou não se manterem fieis às raízes black metal da coisa.

Curiosamente, Scott Conner afirmou que neste novo álbum iria existir um regresso às origens black metal de Xasthur e, para bem ou para mal, existe uma reaproximação ao estilo em 4 ou 5 temas do total de 23 temas (!) que correm por uma hora e quarenta e cinco minutos (!) neste álbum duplo.

E nisso também não há problema nenhum: pôr um bocadinho de “black metal” (sim, está entre aspas e já vão descobrir o porquê) num disco de neofolk experimental que tem uma atmosfera bastante negra até pode cair bem.

Mas não cai. Não cai mesmo de todo. Apesar dos primeiros minutos de “Affect/Infect” - o primeiro tema deste exército de faixas - começar de uma forma interessante com uns riffs sujos, mas até bastante catchy, e com a atmosfera assombrosa e desolada que a banda sempre soube executar, “Affect/Infect” consegue cumprir bem com a função de intro do disco. O mau é que quando estamos a ouvir o tema seguinte: “A Future to Fear II”, ficamos com saudades do muito medíocre tema de abertura; não por a segunda faixa ser um tema de Xasthur neofolk pós-2015, mas por ser um tema com pouca variedade, monocórdico e que não se intensifica à medida que vai evoluindo. E a pior parte disto tudo é que isto é que aguarda ouvinte pelo resto do disco fora.

Apesar de estarmos a falar de música atmosférica e este ser um estilo musical que não deve muito à variação dentro dos temas, mas sim à capacidade de absorver o ouvinte através de uma estructura simples, mas devidamente elaborada para manter a pessoa agarrada até ao fim, não é isso que acontece em “Inevitably Dark”. Longe disso, o experimentalismo dos temas faz com que o registo pareca uma colectânea de ideias não-trabalhadas que se prolongam por minutos a mais e que se acabaram por reproduzir que nem baratas.

Contudo, apesar de fraco, a parte de Neofolk/dark ambient do disco até é a parte onde Xasthur performa menos mal, pois se voltarmos às revisitações ao black metal original da banda, conseguimos ter uma surpresa ainda mais desagradável do que aquilo que já se falou até aqui. Temas como “Live Like a Broken Mirror” e “Another Gutter” são dos melhores exemplos do punhado de temas com elementos black metal adicionados, sendo eles guitarra distorcida, uma produção crua e minimalista que, felizmente, também acaba por estar presente por todo o disco e o uso de percussão típica do Black Metal, bem carregada com blast beats e com um tanto ou quanto de violência aplicada nos pratos, mas… através de uma drum machine. Não tendo nada contra o uso dessa ferramenta, os momentos do ábum em que ela é usada são, no mínimo, irritantes e fazem uma pessoa ansiar pelo momento em que Xasthur volta aos ambientais negros e aborrecidos.

Todo o disco soa a algo estéril e pouco trabalhado, onde as poucas ideias boas (temos o tema-título e “Projection of Inferiority II” como alguns dos menos maus do bando) são obfuscadas pela má composição, pela mediocridade dos temas e pelo excessivo experimentalismo. O facto do disco ser longo só piora a situação, tornando toda a experiência um teste de resistência.

Sem ser algum fã hardcore deste projeto de Scott Conner, este é um trabalho muito dificil de recomendar a alguém, sendo que a única coisa que relamente demonstra é que Xasthur deveria ter ficado a descansar em paz quando Scott inicialmente quis pôr um ponto final na banda e nunca ter ressuscitado para ser este zombie que deambula perdido na noite, sem rumo nem sentido.

Nota: 4.6/10

Review por Tiago Neves