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Reportagem: Helloween e Beast in Black @ Sagres Campo Pequeno - 13.11.2025


Os fãs portugueses dos Helloween tiveram de aguardar longos sete anos para voltar a assistir a um concerto desta lendária banda de power metal que marcou a história do género. Em 2018 apresentaram-se na Sala Tejo para um grande espetáculo que marcou o regresso de Kai Hansen e Michael Kiske ao grupo germânico, e podemos dizer desde já que o presente concerto, motivado pela comemoração dos 40 anos da banda, conseguiu superar o impacto do anterior.

A abertura deste importante espetáculo ficou a cargo dos Beast in Black, banda cujo vocalista, Yannis Papadopoulos, revelou estar igualmente em período de celebração devido aos seus 10 anos de carreira, sendo que, na noite deste concerto no Campo Pequeno, fazia precisamente uma década desde que o grupo dera o seu primeiro espetáculo em Helsínquia. Esta banda finlandesa, com vocalista grego, já não era estreante em solo português, pois em 2023 passaram por cá em nome próprio, concerto que tivemos oportunidade de assistir.

A grande maioria do público presente via os Beast in Black pela primeira vez. Conforme Papadopoulos pôde constatar, havia alguns fãs, mas o grupo certamente conquistou mais seguidores graças à ótima impressão deixada em palco. A oportunidade foi excelente para se darem a conhecer e até tiveram direito a tocar uma dúzia de músicas, mais do que habitualmente as bandas de abertura conseguem apresentar. Destacaram-se temas como “Sweet Little Lies”, “One Night in Tokyo” e “Blind and Frozen”. O vocalista prometeu que o quarto álbum da banda será lançado em 2025 e que os Beast in Black irão voltar a Portugal.

Com Michael Kiske e Kai Hansen de regresso desde 2017, os concertos de 2018 na Sala Tejo e este no Campo Pequeno atraíram renovado interesse para os fãs de longa data dos Helloween, com este último a registar casa praticamente cheia, também pela celebração das suas impressionantes quatro décadas de carreira. A qualidade instrumental da banda foi tremenda, servindo de base para uma atuação inesquecível, na qual Kiske e Andy Deris brilharam ao assumir de forma inteligente as despesas vocais, alternando entre si em grande parte dos temas e interpretando outros a solo. Claro que o carismático Kai Hansen também participou, e de forma exemplar, em dois clássicos de Walls of Jericho, mas já lá vamos.

“March of Time” e “The King for a 1000 Years” abriram o espetáculo com nota artística, mas o primeiro grande êxtase ocorreu logo no terceiro tema, “Future World”, quando o público fez estremecer a sala com a força com que cantava o clássico emblemático. “This Is Tokyo” foi a primeira amostra do último álbum apresentada em Portugal, evidenciando novamente a ótima química em palco entre Deris e Kiske e demonstrando que a banda continua a criar música de grande nível. “We Burn”, um tema marcante da fase Andy Deris, contou com pirotecnia no refrão e com o vocalista a empunhar um lança-chamas no prolongamento do palco.

Os temas velozes continuaram com os clássicos “Twilight of the Gods” e “Ride the Sky”, com Michael Kiske e Kai Hansen a assumirem as vozes dos respetivos temas com grande mestria, proporcionando momentos de enorme satisfação para os seguidores do grupo. Com o público totalmente conquistado perante a enorme prestação desta banda em formato de septeto e pela magnificência dos temas anteriores, os Helloween tocaram um misto de músicas do último álbum e da fase intermédia do seu percurso, como “Into the Sun”, “Hey Lord!”, “Universe (Gravity for Hearts)” e “Hell Was Made in Heaven”, sem que houvesse qualquer quebra de entusiasmo por parte da audiência.

Um momento de pausa surgiu com o solo de bateria de um irrepreensível Dani Löble, mas uma euforia indescritível tomou conta do público imediatamente a seguir durante “I Want Out”. Seguiram-se instantes mais intimistas, com Kiske a brincar ao cantar um excerto de “Suspicious Minds”, de Elvis Presley. Depois iniciou-se a versão acústica da balada “In the Middle of a Heartbeat”, com Michael Kiske na guitarra e Deris a cantar.

Kiske cantou e tocou “Pink Bubbles Go Ape” e, em seguida, a banda interpretou “A Tale That Wasn’t Right”, inicialmente apenas com Deris a tocar guitarra e Kiske a cantar juntamente com milhares de pessoas, recebendo depois a intervenção do resto do grupo na segunda parte do tema. Um momento memorável.

De regresso ao formato elétrico, o grupo germânico apresentou “A Little Is a Little Too Much”, um tema mais hard rock do seu álbum mais recente, que a banda tocou com o mesmo entusiasmo que reserva para os seus temas emblemáticos, algo que sempre envolve o público. Esta foi a última música do novo trabalho a ser apresentada no Sagres Campo Pequeno e, a partir daqui, seguiu-se um desfile de clássicos do metal.

“Heavy Metal (Is the Law)” resulta sempre de forma fenomenal ao vivo e esta não foi exceção, enquanto a épica “Halloween” destacou a magnífica prestação dos sete músicos que compõem o coletivo atual deste nome histórico do metal mundial.

Para o encore, adivinhava-se que a banda iria apresentar “Eagle Fly Free”, perfeita para todos os presentes cantarem em uníssono com Michael Kiske. Andy Deris também teve oportunidade de assumir o protagonismo em “Power”, que contou com um público ainda disposto a cantar após mais de duas horas de concerto. Um espetáculo de Helloween não podia terminar sem “Dr. Stein”. Pela energia que banda e público ainda demonstravam, o concerto poderia ter-se prolongado por mais uma hora.

Mas tudo o que é bom chega ao fim e restou apenas escutar o refrão final de “Keeper of the Seven Keys”, encerrando de forma apoteótica uma atuação de cerca de duas horas e vinte minutos, que beirou a perfeição. Se há concertos que se podem considerar nota 10 em 10, este foi, sem dúvida, um desses raros casos.


Texto por Mário Rodrigues
Fotografia por Paulo Pereira Tavares
Agradecimentos: Prime Artists