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Alcest - "Les Voyages De L'Âme" Review

"Les Voyages De L'Âme" é o mais recente trabalho de Alcest, banda de culto do talentoso músico francês Neige (Amesoeurs, Les Discrets, Forgotten Woods...) que desde 2005 tem vindo a desbravar terreno em termos de sonoridade graças à uma mistura única de Black Metal com Shoegaze. Este projecto, tendo um pé em cada mundo, lançou inúmeros debates entre fãs mais adeptos do "trve" Black Metal e outros de praticamente todos os quadrantes musicais, mesmo fora do Metal em geral. Heresia para uns, genialidade destilada e uma inegável lufada de ar fresco para muitos outros, a verdade é que Neige continua a desafiar rótulos.

Dois anos depois, Alcest voltam ao activo com "Les Voyages De L'Âme". Este álbum encontra-se algures entre o primeiro álbum "Souvenirs D'un Autre Monde" (mais limpo e atmosférico) e o segundo "Écailles de Lune" (mais abrasivo e melancólico). O álbum abre com o single "Autre Temps", onde guitarras acústicas e um crescendo de vozes etéreas culminam num refrão fantástico; atmosfericamente perfeito, harmonioso e emocional, com uma beleza inegável apesar da sua natureza algo catchy e cíclica. Não há um único growl à vista em toda a faixa e, no entanto, não conseguimos impedir a nossa mente de vaguear pelo vazio infindável, enquanto sorrimos a olhar para nada em particular e fazemos loop à faixa.

Terminada a faixa, somos chamados de volta à realidade com a entrada feroz de "Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles". Ao longo da faixa - a melhor do álbum - Neige vai preparando terreno para uma sucessão de climaxes apoteóticos, numa fusão absolutamente fantástica de estilos onde vocals limpos e tranquilizantes coabitam com a fúria cega de growls misantrópicos e, muito possivelmente, os blast-beats mais amigáveis de sempre. É ódio, tristeza e saudade todos juntos numa viagem hipnotizante de 9 curtos minutos, onde é reunido o melhor de dois mundos e o resultado é maior do que a soma das suas partes. Após este arranque prometedor, segue-se outra bomba: "Les Voyages De L'Âme", a faixa homónima do álbum. Visivelmente post-rock/shoegaze, é uma autêntica canção de embalar que exala serenidade de todos os poros, mesmo nos momentos mais intensos após longos minutos de build-up onde, à semelhança da faixa anterior, vocals limpos e tranquilos surgem acompanhados de blast-beats e de guitarras prog-rock, rebentando finalmente de forma apoteótica.

Depois, vem "Nous Sommes L'Emeraude" e, com ela, a primeira crítica. Embora a faixa em si seja razoável e até tenha os seus momentos, após as três faixas anteriores sabe a pouco. O mesmo pode ser dito de "Beings of Light", a faixa seguinte. É muito bonita (esteticamente falando), mas cansa; é simplesmente demasiado longa, estática e devia ter metade da duração. Olhando para trás, o álbum anterior - "Écailles de Lune" - também sofria do mesmo problema: depois de um início fenomenal o álbum perdia-se, mas felizmente, Neige aprendeu com os erros. Presenteia-nos primeiro com "Faiseurs de Mondes", outra bomba e, depois de mais um breve interlúdio dispensável (uma faixa mais agressiva semelhante à "Percées de Lumière" do álbum anterior teria ficado aqui a matar), surge "Summer's Glory" a corrigir a situação e a fechar o disco com chave de ouro.

Em tom de conclusão, "Les Voyages De L'Âme" é um álbum maduro, bem trabalhado e envolvente. É simultaneamente delicado, sonhador, intenso e abrasivo sem nunca chegar à melancolia de "Écailles de Lune" (antes pelo contrário, é bastante optimista à semelhança do primeiro álbum). É um Vianetta de Shoegaze e Post-rock com camadas envolventes de Black Metal que confirma tudo aquilo que a banda tem vindo a prometer ao longo dos anos; não é fácil evitar cair no vazio atmosférico do Shoegaze mas Neige fá-lo de forma soberba, pecando apenas pontualmente. Que uma óptima maneira de começar o ano...

Resta saber o que reservará o futuro, já que não será fácil evitar soar repetitivo depois disto.

Nota: 9.0/10

Review por João Pereira