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Pestilence - "Doctrine" Review


Temos assistido nos últimos anos a um retorno de diversas bandas que nos cativaram a atenção quando eramos mais novos. Casos como os Atheist, os Gorefest (que entretanto terminaram novamente, e ao que parece, definitivamente) e os Pestilence. Estes holandeses, praticantes de um death metal técnico, tiveram os seus “15 minutos de fama” durante os anos 90, durante os quais lançaram discos que ajudaram a definir um estilo que na altura andava um pouco perdido e sem ideias. Discos como “Testimony of the Ancientes”, onde o death metal mais técnico é explorado até ao limite e que lhes valeu o estatuto de uma das grandes bandas europeias do seu tempo e o controverso “Spheres”, trabalho pouco compreendido pela critica e fãs, pela sua mistura de música brutal e influências jazz (um pouco como os Cynic fizeram na mesma altura), que, apesar de ser bastante ambicioso e original, era estranho para um público pouco habituado a este tipo de fusões e sonoridades. Daí que a banda tenha decidido terminar pouco depois da edição deste disco.

Os anos foram passando e o nome Pestilence nunca foi esquecido pelo publico. Um pouco à semelhança dos Cynic, sempre existiu um certo hype à volta da banda e a vontade para o regresso ao activo sempre foi muito solicitada, algo que o seu mentor Patrick Mameli sempre adiou, pois considerava que não iria trazer nada de novo ao panorama metálico. O certo é que Mamelli reconsiderou e em 2009 lançaram “Resurrection Macabre”, um bom disco de death metal Made in Netherlands, mas que ficou um pouco aquém do que se esperava, para um público que esperou mais de 15 anos pelo seu regresso. No entanto não era um mau disco, o que demonstrava que os Pestilence ainda poderiam mostrar que poderiam fazer muito melhor e eis que surgem em 2011 com este “Doctrine”, um disco muito mais sólido, coeso e interessante que o seu antecessor. Logo à partida, uma banda onde os quatro integrantes são holandeses, falam a mesma língua e podem trabalhar as ideias juntos é muito melhor do que se existia no passado, onde a banda, apesar de ter executantes de primeira linha, era logisticamente complexo escrever um disco quando o baixista Tony Choy vivia na Florida e o baterista Peter Wildoer na Suécia. Apesar da internet facilitar muito a partilha de música e ideias, não é a mesma coisa que quatro músicos enfiados numa sala de ensaios, em composição. Daí que Mameli tenha decidido recrutar para a banda os préstimos do baixista-virtuoso Jeroen Paul Thesseling (antigo integrante a banda e ex-Obscura) e o desconhecido Yuma van Eekelen para a posição de baterista, mantendo o núcleo duro de guitarras com Mameli e Patrick Uterwijk.

Para nos situarmos (e para quem conhece a carreira da banda), podemos considerar este “Doctrine” como uma mistura dos “Testimony of the Ancientes” com “Consuming Impulse” e um pouco do “Spheres”. Death metal pesado e intenso, influências jazz e muita técnica. Para este sexto trabalho, a banda utilizou guitarras de oito cordas, o que indica que o som é pesado, muito pesado. Se aliarmos a isso uma técnica de escrita muito própria dos Pestilence, estamos perante um disco que valerá (muito) a pena escutar.

Após um interlúdio, a entrada com “Amgod” é um início certeiro. Ritmos fortes, desconexos, a voz insana de Mameli e aquele baixo de Thesseling a saltar por todos os lados. As seguintes “Doctrine” e “Salvation” elevam ainda mais os padrões de intensidade do disco, mesmo com a inclusão de alguns momentos space music mostra uns Pestilence que pretenderam escrever um disco que seja como um marco na história do death metal moderno.

É inegável a qualidade deste álbum, onde a continuidade dos temas não aborrece. Temos aqui temas que são puro Pestilence, outros que nos levam para campos mais próximos de uns Meshuggah (“Dissolve” e “Divinity”) ou mesmo de uns Death (“Deception”). No entanto, são estas apenas algumas bandas que podemos associar o som global dos Pestilence de 2011, banda que deverá ser sempre vista como inovadora e não seguidora.

Doctrine” é um dos bons lançamentos de 2011, voltando a colocar os Pestilence na rota o sucesso. Um notável progresso relativamente a “Resurrection Macabre”, muito mais definido musicalmente.
Ficamos curiosos para saber onde a banda nos levará no futuro.

Nota: 8.5 / 10

Review por João Nascimento