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Entrevista a Sarah Jezebel Deva


Sarah Jezebel Deva foi uma das primeiras mulheres a fazer parte da cena metal underground… contribuiu com a sua bela voz para grandes projectos como Cradle Of Filth, The Kovenant, Therion e Mortiis, antes de se aventurar em projectos a solo… começou como vocalista principal nos Angtoria e agora em Sarah Jezebel Deva. Esta grande artista e mulher esteve a conversar e a partilhar com a Metal Imperium os seus sentimentos mais profundos.


Metal Imperium – Trabalhaste muitos anos como vocalista em bandas de metal (Cradle of Filth, Therion, Mortiis, The Kovenant). Dirias que estes projetos te ajudaram a crescer como cantora? Acreditas que te afectaram e transformaram em quem és hoje? Foi assustador tomar a decisão de te lançares a solo?
Sarah Jezebel Deva – Aprendi muito ao trabalhar com essas bandas. Muitas pessoas dizem que sou uma sortuda mas ninguém sabe o que se passa dentro das bandas. Aprendi que já deveria ter feito algo por mim há muitos anos, não deveria ter esperado tanto. Eu acho que foi o medo de falhar que me deteve e me fez começar do zero, mas não me importei porque gosto de desafios e estou a trabalhar muito arduamente para chegar onde já devia ter chegado há cinco anos atrás. Deixei os COF em 2008 para me mudar para a Austrália e foi assustador mas precisava de o fazer. Precisava de tempo para mim e ver a cena de outra perspectiva, ganhar a minha independência. Posso dizer-te que aprendi muito mesmo!


Metal Imperium – Já lançaste dois álbuns com o teu nome mas parece que não ficaste muito satisfeita com o primeiro. Por isso, na tua opinião, qual é a maior diferença entre “The Corruption of Mercy” e “A Sign of Sublime”?


Sarah Jezebel Deva – Em “A Sign of Sublime” as faixas de metal correram muito mal e a culpada sou só eu por ter confiado num homem que conhecia há muitos anos e que controlou a minha música e a arruinou ao ponto de não ser possível fazer nada com ela. Não me arrependo da música orquestral. As músicas de metal deveriam ter sido maiores e melhores, mas são o que são e agora não posso fazer nada. Deixei a editora e tive a sorte de conhecer o Dan Abela que foi contratado para tentar limpar a confusão que era “A Sign of Sublime”. Demo-nos muito bem e como o Dan é dono de um estúdio de gravação, o Legacy London, todas as letras e 90% das gravações foram feitas nesse edifício… não se perderam ficheiros, não se editou demais mas trabalhou-se muitas e longas horas. Eu desejei que o álbum “Corruption” fosse o meu primeiro álbum a solo e com ele apareceu uma nova editora… uma que não mente, que não ignora emails, que não te trata mal e senti-me honrada por ter sido escolhida pela Listenable Records. Acredita que foi o melhor que me aconteceu. É uma editora para a qual eu realmente me quero esforçar e estou a tentar.


Metal Imperium – Como é que foi escrever com o Dan Abela e Pzy Clone? Que temas/tópicos/sentimentos são abordados no álbum? Qual é a ligação entre o título “The Corruption of Mercy” e as músicas do álbum?
Sarah Jezebel Deva – Há alguns temas como violência doméstica ou violência de qualquer tipo, em qualquer tipo de relação, lidar com o facto de pensares que conheces alguém mas depois essa pessoa torna-se violenta e tu já não a conheces, só a sentes. A cover é sobre a Guerra e sobre as coisas não mudarem. Se formos honestos, enquanto houver homens e religião, haverá sempre Guerra. Os animais deveriam governar o planeta, tal como em “Planet of the apes”, porque talvez tudo fosse mais calmo. Há algumas faixas que são baseadas em mentiras e mentirosos, pessoas que te enganam para ganho pessoal e que te arruinam. “No Paragon Of Virtue” é sobre ditadores, sobre o tipo de pessoa que te dirá que Sal é Pimenta e Pimenta é Sal, e nem podes discordar ou ter a tua opinião, o melhor mesmo é concordar e estar calado! Escrevo sempre sobre cenas que me afectam. O tema título do álbum é o mais forte em significado. O processo correu todo muito, muito bem apesar de calmamente e foi bem ponderado. Pzy demorou alguns meses a fazer toda a sua música na Noruega mas funcionou bem assim.


Metal Imperium – O álbum é muito variado sonoramente, há canções calmas, tais como “Pretty with effects”, e canções mais pesadas, no entanto, é fácil de perceber que é Sarah Jezebel Deva. Foi uma decisão consciente a de ter uma sonoridade tão variada no álbum?
Sarah Jezebel Deva – Nós escrevemos como nos apetece, pois temos de nos sentir felizes com o que escrevemos, caso contrário as pessoas pressentirão isso. Podemos não ser músicos perfeitos mas temos paixão, mensagens, algo a dizer, e quando escrevemos só queremos ficar felizes com o produto final e dar às pessoas algo para pensar. Não queremos fazer parte das listas dos melhores, só fazemos o que nos faz feliz. Não somos góticos nem black metal mas eu penso que somos metal! Espero que as pessoas vejam que somos músicos genuínos que tentam tocar música e que apenas queremos uma oportunidade. Tendo dito isto, somos todos fãs de música extrema.


Metal Imperium – Há algum tema que tenha um significado especial para ti? Qual e porquê?
Sarah Jezebel Deva – Para ser sincera, essa talvez seja a pergunta mais difícil de responder. Por causa de todo o drama que enfrentei com o último álbum, posso sinceramente dizer que, do fundo do meu coração, me sinto 99% satisfeita com este. Não mudaria nada! Só nós sabemos o esforço que pusemos no álbum e sentimo-nos orgulhosos. Posso dizer que “No Paragon Of Virtue” e “The World Won't Hold Your Hand” são músicas que têm um significado especial.


Metal Imperium – Porque é que decidiste fazer uma cover de “Zombie” dos The Cranberries? São uma influência? Há outras músicas ou bandas que gostavas de tocar?
Sarah Jezebel Deva – Esta música não é para ser bonita, cheia de orquestração e pontos altos, esta canção é sobre a Guerra. É sobre a luta irlandesa pela independência e como as coisas não mudaram desde 1916. A letra foi inspirada pelo bombardeamento do IRA que provocou a morte de duas crianças em 1993 em Warrington, Cheshire, Reino Unido. Por acaso não sou fã dos The Cranberries mas sou fã de músicas com significado, que têm uma mensagem que leva as pessoas a pensar e eu sempre escrevi sobre temas que me afectaram a mim e aos que me rodeiam. Tornámos a música mais pesada e a mensagem, infelizmente, reflecte a vida de hoje e, enquanto houver religião, estas letras serão verdadeiras. Há montes de músicas que eu gostaria de tocar mas a imprensa costuma torcer o nariz às covers. Quando faço uma, não a quero mudar, só a quero cantar porque a adoro! Talvez algo da Bjork?!!!


Metal Imperium – O álbum recebeu excelentes críticas… considera-as importantes? Achas que as criticas podem influenciar na compra do álbum?
Sarah Jezebel Deva – Nós queremos fazer o que adoramos, todos os músicos te dirão o mesmo… todos os artistas, escritores, modelos, todos querem que os fãs adorem o que fazem, que vejam a dedicação que se põe no trabalho mas não se consegue agradar a todos… mas nós vamos morrer a tentar! O que pensas do meu álbum interessa mas alguém pode ter uma opinião completamente diferente da tua. É a opinião de uma pessoa e o mundo está cheio de opiniões! As pessoas precisam de pensar por si próprias… Não ouçam os vídeos do youtube a partir do telemóvel, vão a concertos, ouçam vários temas da mesma banda, dêem-lhe mais do que uma oportunidade porque podem estar a perder uma boa banda que requer um pouco mais de atenção antes de vos cativar.


Metal Imperium – A capa desenhada pelo Matt Lombard para “The Corruption Of Mercy” é um pouco chocante. Qual é o significado por trás da criatura mutilada (meia mulher/meio bode)?
Sarah Jezebel Deva – Essa imagem representa a Mercy (Misericórdia) e é o resultado directo da corrupção que ela enfrentou na sua vida porque não recebeu a educação adequada. Ela tornou-se feia e não tem moral, foi criada pela TV, nas ruas, por revistas porque os seus pais foram demasiado preguiçosos para se preocuparem e lhe darem amor e a educação adequada. Ela tornou-se um parasita da sociedade e foi a sociedade que a levou a esse ponto. Não é para ser considerado pornográfico, tem um sentido mais profundo.


Metal Imperium – Tens planos para o primeiro vídeo do álbum? Qual é o tema escolhido? Pretendes usar amigos e família tal como tens feito noutros vídeos?
Sarah Jezebel Deva – Como esta entrevista se perdeu no ciberespaço, já fizemos um vídeo desde que colocaste a questão! O vídeo é do tema “The World Won't Hold Your Hand” em que o dinheiro é uma figura central. As pessoas pensam que és rico, que tens bons carros e que vives numa mansão só porque tocas numa banda… nós não temos dinheiro, por isso fizemos o que podíamos: filmamos nós a tocarmos. Tivemos sorte porque conseguimos um vídeo de 8000 euros. Desde o último álbum, temos estado a escrever um novo EP chamado “Malediction” e no tema "Lies Define Us" temos como convidado o Bjorn Strid dos Soilwork. Esperamos ter dinheiro para fazer um vídeo para esta música… por isso, fiquem atentos!


Metal Imperium – Tens um aspecto muito versátil pois estás constantemente a mudar de cor e tamanho de cabelo. Porque é que sentes necessidade de mudar tantas vezes de aspecto? É uma maneira de te reeinventares?
Sarah Jezebel Deva – Eu faço o que me apetece e me faz feliz e é assim que todos os humanos deveriam agir! Não me importo com tendências, a última saia, a última tendência de cabelos… eu tenho 35 anos e simplesmente vivo como me apetece. Não magoo ninguém, e isso inclui não vestir roupas ou produtos testados em animais, sou eu mesma! Se eu quisesse encaixar no que os média e a moda nos forçam através da tv e revistas, já teria perdido peso há muitos anos. Eu adoro-me e sinto-me orgulhosa de mim, e todos se deviam sentir assim! Tenho uma boa e forte mente, sei o que quero e moda não é uma prioridade… a prioridade número um é estar confortável comigo mesma!


Metal Imperium – Tratas sempre muito bem os teus fãs e gostas de lidar com eles. Os fãs são muito importantes para ti?
Sarah Jezebel Deva – Visita a página official da Sarah Jezebel Deva no Facebook e verás o quão importante cada fã é para mim e para a banda. Sem o apoio deles, onde é que eu estaria? Tal como em qualquer outra indústria, só crescemos por causa do apoio do público. Se não apoiarmos o que gostamos, essas cenas acabarão por morrer. Todos merecemos uma oportunidade, por isso adorem-me ou detestem-me mas dêem-me uma oportunidade.


Metal Imperium – Sarah Jezebel Deva vai andar em tournée para promover o álbum e os fãs portugueses gostariam de te voltar a ver cá. Tens palavras finais para partilhar connosco?
Sarah Jezebel Deva – A partir do dia 12 de Março não há concertos programados para Portugal. Quase que tocámos num festival aí mas devido a uma situação horrível em que nos encontrávamos na altura, tivemos de cancelar. Esperemos que um dia nos dêem uma nova oportunidade para voltar. Eu adoro Portugal e espero ir aí para que possam ouvir a nossa música. Dêem-nos tempo e iremos arranjar um promotor que nos queira contratar em breve!



Entrevista por Sónia Fonseca