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Paradise Lost – "Tragic Idol" Review

Quando olhamos para os 24 anos de carreira dos Paradise Lost, e analisamos cada álbum ao pormenor, de entre muitas coisas, aquilo que mais salta à evidência é que o trilho que este quinteto tem vindo a seguir, é uma autêntica montanha russa de estilos. Senão vejamos, a um início de doom/death primitivo, seguiu-se uma caminhada trilhada por uma suavização gradual em que a banda não só foi experimentando, como foi ditando as regras e bases para um cem número de bandas a cada álbum que lançavam. Esta primeira fase culminou com Host, um disco electrónico, desprovido de qualquer elemento mais “metal”, e uma bomba que afastou quase metade da sua base de fãs. Felizmente não quiseram ficar por aqui, pois o seguinte Believe in Nothing trouxe de volta as guitarras, e Symbol of Life o peso, mas apenas com o álbum homónimo voltaram a incorrer na aura metaleira que caracterizou os trabalhos de primeira metade da década de 90, o que muito contribuiu o regresso dos solos e leads memoráveis de Greg Makintosh, perdidos algures em Draconian Times. In Requiem cobriu-os de novo de uma aura fúnebre e trouxe de volta não só a voz ríspida de Nick Holmes, como o reconhecimento dos fans.

Tragic Idol, o novo disco dos ingleses, antes de tudo diz-nos que o anterior Faith Divides Us – Death Unites Us, se calhar não foi só um refinamento mais pesado de In Requiem. Porventura, poderá ter começado nesse disco uma nova fase na vida dos Paradise Lost, que escreve um novo capítulo em Tragic Idol. Como tal, este disco não é o novo Icon, nem o novo Draconian Times, é algo diferente, quanto muito poderá capturar um pouco o espírito mais death/thrash de Shades of God, mas só isso. Existe sem dúvida um som mais pesado e pungente nas dez músicas deste disco, por vezes quase a roçar a sujidade do sludge, e uma atitude muito old school, a começar pela produção crua, numa de mostrarem o dedo do meio às produções mais plásticas e glamorosas, em que por vezes não se sabe onde acaba o papel dos músicos e onde começa o dos produtores.

Portanto, Tragic Idol retoma o caminho do disco anterior, e em vez de lhe juntar mais pormenores, simplifica-o. Vozes femininas não são mais do que uma miragem e os teclados e a voz mais cantada de Nick Holmes pouco ou nada se dá por eles, com a melodia a emanar praticamente das guitarras de Greg Mackintosh e de Aaron Aedy (desde Icon que não o ouvíamos tão bem). Não será portanto de estranhar que os temas não entrem à primeira devido à falta de linhas melódicas mais óbvias, mas elas estão lá acreditem, apenas mascaradas pelo mastodonte sonoro que é Tragic Idol. Convém no entanto lembrar que ainda nem há um ano, esse mesmo Greg Mackintosh, que por acaso até é o principal compositor, lançou o seu projecto paralelo Vallenfyre, muito inspirado na cena Death Metal de Estocolmo. Como tal não admira que muito desse material tenha inspirado um pouco a atmosfera deste disco.

E como álbum de Paradise Lost que é, contem certamente a sua parcela de clássicos que irão confundir ainda mais a banda na altura de fazer as setlists de futuros concertos. Destaques para Honesty in Death, e para a faixa titulo, dois temas a meio tempo, e sem dúvida os mais orelhudos de Tragic Idol, com o primeiro a ser escolhido como single de avanço. Realce também para This Glorious End, a seguir a velha tradição dos discos da banda, em ter um tema mais peculiar a fechar o álbum, neste caso uma composição que tem tanto de complexa como de agoniante.

Decididamente, custa acreditar que entre o seminal Lost Paradise, e este 13º disco já houve um Host ou um Believe in Nothing, mas Paradise Lost é isto, uma banda que nunca teve medo de experimentar, e de abrir os seus horizontes, mesmo que isso lhes valha menos euros ao fim do mês. Tragic Idol, mesmo sendo um dos discos mais pesados que a banda alguma vez lançou, é quase um manifesto de um espírito muito rock and roll, de um colectivo que já não tem que provar nada a ninguém, e que toca de uma maneira tão descomprometida, como nunca antes o fez. Desde já um dos grandes discos de 2012 para ouvir alto e bom som, de preferência num stereo.

Nota: De facto, as falhas são mesmo poucas, mas a gritante falta de originalidade do booklet (fãs de Alcest compreenderão) é deveras entristecedor numa banda que sempre se soube rodear bem nesse âmbito.


Nota: 9/10


Review por António Salazar Antunes