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The Order - "1986" Review


Por vezes acontecem coisas assim. Quando se fala de revivalismo, na maior parte dos fãs da música pesada existem dois tipos de reacções, ou revira-se os olhos ou bate-se palmas. Quando se fala revivalismo de hard rock glam, a maioria dos fãs da música pesada revira os olhos, exceptuando aqueles que verdadeiramente gostavam do estilo. A capa de "1986" não engana, o lettering também não - o estilo é mesmo hard rock e parece que é da data que dá o título ao disco.

*Revira-se os olhos*

O ser humano sofre por antecipação e sofre mesmo, sentindo na pele os sintomas da doença que pensa sentir e é inevitável o cheiro a mofo que salta da capa. No entanto, como essa capacidade de sofrer por antecipação não é das nossas características mais brilhantes, ela prova-se ser profundamente inútil quando "The Power Of Love" explode nas colunas e explodir é mesmo o termo correcto. Não, não é death metal, não, não é thrash metal, nem sequer chega a ser heavy metal (embora ficando lá perto) no entanto o hard rock energético que debita é impossível de ficar indiferente.

*Olhos voltam ao sítio*

Algo estranho acontece porque as músicas parecem familiares, mas não se consegue situar exactamente de onde. Até se chegar à "Fire It Up" que é uma piscadela de olho aos Van Halen, onde a primeira quadra da música é repetida por inteiro e onde a música soa mesmo a Van Halen. Fora esta excepção, a sensação é a mesma, sensação de familiaridade, consegue-se identificar algumas bandas nas influências (Tesla, Kiss, Ratt, AC-DC, os já citados Van Halen entre outros nomes) mas nada ao ponto do plágio. E é viciante. Completamente viciante. Quando uma balada que nos seus ingredientes tem 10 litros de azeite soa bem - "Under The Rain", algo estranho e incompreensível se passa.

*Olhos reviram-se no sentido oposto*

A sensação que se tem é que este disco é mesmo de 1986, que foi gravado na altura e que teve fechado num qualquer baú todo este tipo. A capa foi feita para ser reproduzida no tamanho de um vinil, com os detalhes para apreciar - como tentar identificar as bandas e as capas dos discos na cama da menina e até o pormenor do "envelhecimento da capa" nas pontas, dando ideia que este disco já faz parte da colecção do ouvinte há quase três décadas.

Sendo este o quarto disco, é brilhante a forma como a banda suíça arrisca num estilo morto e enterrado, consegue ao mesmo tempo, lançar um álbum que tem um som poderoso e moderno e ser uma homenagem a um género musical que mal sobreviveu aos anos 90 - não na sua essência. É o que se tem aqui, a essência de um hard rock musculado, com grandes solos de guitarra, uma voz melódica e ácida ao mesmo tempo, refrões cativantes, tal como se fazia nos velhos tempos - um refrão e um solo como o de "Dreaming Hollywood" deveria ganhar um prémio qualquer. A sério.

Por vezes acontecem coisas assim, álbuns que parece que são uma coisa e agarra o ouvinte pelos ouvidos e lhes mostra que é melhor mesmo abri-los sem preconceitos, porque de vez em quando aparece um álbum como "1986", que desafia toda a lógica e cativa verdadeiramente como não se julgaria possível acontecer.
 

Nota: 8.7/10

Review por Fernando Ferreira