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Red Eleven - "Idiot Factory" Review


A primeira coisa que as bandas que tentam recriar o grunge de início dos 90 têm que ter em mente é, a definição desse termo não se cingia apenas a um sub-género do rock, mas sim de todo um movimento e ideologia assentes principalmente numa certa melancolia, bem como na irreverência do espírito punk. Musicalmente falando, os Nirvana por exemplo não usavam as mesmas estruturas rítmicas de Soundgarden, tal como Alice in Chains e Mother Love Bone estavam quase nos antípodas no que ao peso diz respeito. Daí que dentro do movimento, a diversidade sonora era mais do que muita, mas sempre com aquele fio condutor que as fazia identificar ao tal grupo de pertença, através de pormenores.

Com isso em mente, e ouvindo Idiot Factory, a estreia dos Red Eleven escutamos a pura celebração do início dos anos 90, graças a um conjunto de músicos, oriundos de colectivos como Sons of Aeon, Dark Days Ahead, Dead Cult Diaries, Turta e Code For Silence, decididos em dar uma masterclass de como fazer grunge, 20 anos depois. O mais curioso aqui é que se fala de uma banda oriunda não de Washington, ou de qualquer outro estado americano, mas sim das gélidas paisagens da Finlândia, daí que o entrave geográfico para se fazer bom grunge cai invariavelmente por terra.

Instrumentalmente vão buscar a inspiração dos grandes nomes da cena, não há como negar, mas sem que isso os faça comprometer a sua própria personalidade, que se manifesta em alguns pormenores como a utilização de sintetizadores, a maneira como se misturam rock e metal, e de certa forma a própria “sui generis” voz do vocalista (já lá vamos). Em "Idiot Factory" ouvimos muita coisa, desde belíssimos temas atmosféricos como "W.M.F.F" e "Allies", passando pela rifalhada de "Streets of Forgotten", o sludge de "Stuck On This Feeling Of Feeling Nothing", a força de "Nest" e até mesmo um tema relaxante como "Floating".   

No campo vocal é que encontramos o caso mais caricato do disco, pois as parecenças vocais de Tony Kaikkonen a Phil Anselmo e Mike Patton (personagens que sempre se mantiveram à parte desse estilo) chegam a ser arrepiantes, especialmente o nasalar do último das alturas de "The Real Thing" e do primeiro de Mr Bungle. Longe de ser um entrave a escuta do disco, não deixa de ser um factor a que muitos poderão franzir o sobrolho.

O mais importante é que a atitude da banda está toda lá, e o talento idem. Não é a emular um ou dois ícones de um movimento que se consegue recriar o seu espírito, é preciso muito mais. E neste caso, a sentimento tão Made in Seattle, juntamente com a personalidade da banda, faz com que as emoções emanadas pelos Red Eleven não se transformem em lamechice para miúdas a entrar na puberdade, como alguns colectivos do chamado post-punk acabaram por fazer.

O disco não é perfeito, mas também quantas bandas o conseguem à primeira? Um "Ten" não aparece todos os dias, não é verdade? No entanto urge conhecer Red Eleven.  

Nota: 8.8/10

Review por António Salazar Antunes