About Me

Jesu - "Everyday I Get Closer To The Light From Which I Came" Review


"Mas que raio de feitiçaria pós-rock é esta?"

Para quem apenas conhece os Jesu dos primórdios, ao ouvir a primeira faixa, "Homesick" do mais recente e quinto álbum dos Jesu, é o que vai provavelmente pensar. Justin Broderick, músico lendário que ficou conhecido por ter sido um dos fundadores dos Napalm Death e por ter criado os Godflesh (duas das mais influentes propostas sónicas criadas no espectro da música extrema, os Napalm Death praticamente como pais do grindcore e os Godflesh como a mistura mais negra e intensa entre metal e industrial) criou os Jesu após a dissolução de Godflesh e os seus primeiros trabalhos eram basicamente doom/drone, arrastado, negro. Com o avançar da carreira, foram sendo incorporados vários outros elementos, sendo o mais relevante o pós-rock, e foi evoluído para um ambiente mais light, mais positivo, embora a melancolia esteja sempre presente.

O último álbum, "Ascension", marcou bem fundo este passo, uma mudança que não agradou a grande parte dos fãs, assim como a crítica também não o recebeu de forma muito favorável. Isso não impediu que este "Everyday I Get Closer To The Light From Which I Came" seguisse esses passos anteriormente dados e prosseguisse ainda um pouco mais além. O título positivo e de conotações espirituais reflecte isso mesmo. Será que isso faz com que o álbum seja mau? Para todos os amantes do som primordial da banda, definitivamente sim. Será que isso faz com que o álbum seja um tiro em cheio no público que gosta de pós-rock? Tal não é certo. Para já, há uma certa inconstância neste trabalho que faz que por vezes o mesmo surja mais como uma manta de retalhos do que propriamente como álbum consistente e consiso. A começar, a já mencionada "Homesick" tem um som de bateria programada para lá de irritante e bem acima do que seria desejável na mistura. Depois a faixa seguinte "Comforter" é de tal forma tão Sigur Rós que parece uma cover (e se calhar até é cover, apenas tem o nome em inglês para despistar). "The Great  Leveller" tem dezassete minutos (17!) mas há claramente uma divisão entre os seus vários momentos o que deixa no ar a pergunta...

"Porque raio meter tudo isto na mesma faixa se poderíamos ter umas três ou quatro de boa qualidade, em vez de uma longa e aborrecida?"

Ok, ok, liberdade artística, e o homem é definitivamente um artista, mas esta coisa da excentricidade dos artistas faz com que nem sempre se tenha paciência para apreciar o seu trabalho. Paciência ou capacidade. De qualquer forma, no lado postivo, esta "The Great Leveller" tem dos momentos mais pesados dos últimos tempos, o que também é positivo. Também é positiva a forma como o álbum, apesar de todas estas contrariedades, mesmo assim, consegue cativar. Talvez de uma forma que o anterior não conseguiu. Intriga primeiro, mas vai soltando um encanto difícil de resistir a cada audição, isto para aqueles que gostam de pós-rock, claro. Um álbum prejudicado pela sua produção mas beneficiado pelo ambiente que consegue proporcionar, prejudicado pela sua inconstância mas benefeciado por pequenos momentos que apaixonam. Não é, contudo, um álbum forte, em que ou se ama ou se odeia. De qualquer forma, não sai do caminho traçado por Justin para a banda nos últimos anos. Aliás, aprofunda-o até.

 
Nota: 7.8/10

Review por Fernando Ferreira