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Entrevista aos Code

O super grupo Code está de volta para cimentar o seu lugar na história do metal. “Augur Nox” é o terceiro álbum destes britânicos que continuam a fazer as delícias de muitos fãs. A Metal Imperium teve a oportunidade de conversar com Aort e Wacian…



M.I. – Qual era o código que tinham em mente quando escolheram o nome da banda?

Wacian - O facto do termo ser aberto é muito bom para os novos ouvintes porque proporciona uma abordagem mais abrangente à música, já que o foco está em decifrar o cerne da banda e não em discutir a efemeridade da música e do estilo musical. Antes de Code éramos o projecto Seasonal Code do Aort. Tendo isso em mente, poderia ser o significado de uma realidade sujeita a mudança.


M.I. – O vosso álbum “Resplendent Grotesque” foi nomeado para o prémio Spellemann. Considerando as críticas a “Augur Nox” pode-se prever que o mesmo acontecerá com este… como reagis a este tipo de nomeações?

Aort - Tal não acontecerá com certeza já que o prémio Spellemann é um prémio da indústria musical norueguesa e nós já não temos membros noruegueses na banda. Não existe prémio no Reino Unido que valorize o metal e, mesmo que existisse, seria um bocadinho exagerado acharmos que iríamos ganhar o voto do público já que não tocamos propriamente música popular.


M.I. – Na tua opinião, “Augur Nox” conseguirá superar as expectativas? Quanta pressão é posta nos vossos ombros? Receais falhar?

Aort – Ser bem sucedido ou falhado neste mundo é um conceito muito subjectivo e os nossos objectivos não se alteraram desde que os Code se formaram. Nós simplesmente tentamos fazer o nosso melhor com a música que nos atrai. Pretender superar o álbum anterior é um objectivo fútil e iria contra a honestidade e integridade que tanto valorizamos na criação da nossa música.


M.I. – Apesar da banda se ter formado em 1998, ainda só lançaram 3 álbuns o que contrasta profundamente com as bandas que lançam praticamente um álbum por ano. Porquê a longa pausa entre álbuns? Falta de tempo ou de line-up constante?

Aort – A verdade está mais relacionada com o facto do line-up não ter sido muito consistente. O álbum “Resplendent Grotesque” já estava escrito há algum tempo antes de ser lançado e o mesmo aconteceu com este último. É impossível ter datas fixas quando a banda enfrenta problemas importantes de constituição. Esperamos agora ter um alinhamento equilibrado que nos permita criar um novo álbum mais rápido.


M.I. - Os Code são basicamente um super grupo cheio de músicos talentosos e conhecidos. Este é o primeiro álbum com Aort, Wacian, Syhr, LORDt e Andras. Como tem corrido?

Aort – Nós não formamos a banda com a intenção de termos músicos muito conhecidos envolvidos no projecto, mas foi assim que as coisas se desenrolaram. O problema com esta situação é que é inevitável o foco incidir sobre tudo o que nos rodeia, o que pode prejudicar a progressão da banda. Penso que, pela primeira vez, temos 5 membros que têm a mesma visão do mundo e pretendem obter as mesmas coisas com a banda. É um ambiente muito mais produtivo e relaxado. 


M.I. – O Khvost saiu da banda e alguns fãs expressaram o seu descontentamento e tristeza mas o novo vocalista Wacian encaixa na perfeição. Esta mudança foi muito significativa para vocês?

Aort – Claro que perder um dos membros fundadores é sempre uma alteração significativa em qualquer banda. Não foi fácil porque eu e o Khvost tínhamos enfrentado tanto juntos desde que formamos a banda mas, simplesmente, tivemos que seguir os nossos corações. Por mais complicado que seja, estou satisfeito que todos tenhamos encontrado um caminho mais feliz e produtivo. O Wacian é um fabuloso vocalista e letrista e ajudou a banda a atingir um patamar mais elevado. 


M.I. – Segundo a vossa editora, Agonia Records, “Augur Nox” é o vosso material mais progressivo e dinâmico. Esta frase é meramente promocional ou é mesmo verdade?

Aort – Sem sombra de dúvidas que nenhum dos primeiros álbuns apresenta tanta variedade e ambição. Se tal apela a todos é debatível mas fico contente por termos feito um álbum livre de todo o tipo de restrições. Fomos nós mesmos que escrevemos essa frase portanto concordamos com ela a cem porcento.


M.I. – Este é o vosso 3º álbum, o álbum considerado como um teste… o que ditará se a banda resisitirá ao tempo ou não… qual o tema principal do álbum?

Wacian – Como membro novo, já era admirador dos outros álbuns da banda e, para os seguidores, o excelente “Resplendent Gortesque” já passou esse teste e garantiu a permanência dos Code mas será interessante tentar expandir e alargar ainda mais as nossas ideias. A ambição do novo álbum é impressionante porque o espírito está exactamente onde deveria estar. O conceito que guia este álbum, é como uma galeria de pinturas, que vê a Noite e a Natureza como portas para o poder negado. Esta ideia fornece uma qualidade claustrofóbica e dura.


M.I. – O álbum foi misturado e masterizado nos Orgone Studios em Londres (Ghost, Cathedral, Ulver). Quem foi o responsável por tal tarefa? É frequente alterarem faixas durante este processo?

Aort – Eu acompanhei o processo de mistura e masterização. Um álbum enfrenta muitas mudanças durante o processo de criação mas tem de haver um ponto em que tens de o deixar ser ele próprio. Não nos podemos dar ao luxo de trabalhar num álbum por tempo indeterminado e por isso o álbum é não só uma imagem da banda naquele preciso momento mas também o produto de muitas e variadas circunstâncias. É muito orgânico e eu nunca consegui prever como é que um álbum soaria no produto final.


M.I. – Vocês combinam black metal com outros elementos que resultam numa sonoridade intrigante… como é que os puristas de BM reagem aos vossos lançamentos?

Aort – Não faço ideia e nem me importa. As pessoas ou gostam ou não! Nós não estamos aqui para agradar aos fãs de BM ou aos de avantgarde. Escrevemos a melhor música que conseguimos, que nos agrada e já chega. A vida é demasiado curta para nos preocuparmos com o que as pessoas pensam sobre o nosso trabalho.


M.I. – A diferença entre o álbum de estreia “Nouveau Gloaming” e o seguinte “Resplendent Grotesque” é que o último não tinha “gorduras” extra e as letras eram mais substanciais e coesas. Qual é então a diferença entre “Resplendent Grotesque” e “Augur Nox”?

Wacian – Todos estes tipos de coisas são subjectivas. Se considerarmos a perspectiva lírica, este é um álbum conceptual mas não segue uma linha narrativa, por isso o objectivo é o todo e não o que se atinge no final. Liricamente eu tento fazer algo mais literal para fugir ao passado. Musicalmente é um álbum progressivo, com um pouco de blues, uma dinânima diferente e uma mistura sónica… dizer que isto são “gorduras” seria desviar as atenções do foco principal. Este álbum é apenas um animal diferente num habitat diferente!


M.I. – Este álbum incluí dois instrumentais “Rx” e “Dx”… como é que eles surgiram? São instrumentais por ser complicado escrever letras para eles?

Wacian – Estes instrumentais surgiram como forma de quebrar o álbum em três secções e adicionar atmosferas contemplativas. Escrevemos letras para um dos instrumentais mas achamos que eram desnecessárias. A função das letras é atribuir emoções a um tema e tal nem sempre é o melhor.


M.I. – Alguns críticos consideram que o álbum tem falta de momentos que prendam imediatamente a atenção do ouvinte e tal pode ser um ponto negativo… concordas?

Aort – Vou repetir novamente, nós fizemos o melhor álbum que conseguimos, um álbum em que acreditamos e no qual investimos muitas horas de trabalho, esforço e sangue. 


M.I. – Quantos temas ficaram de fora de “Augur Nox”? Porquê?

Aort – É difícil quantificar quantos temas começamos mas não foram completados porque o sentimento não estava presente. Há dois temas que foram escritos mas foram omitidos porque não funcionavam no contexto. O álbum já é longo, portanto não fazia sentido adicionar mais elementos só porque os temos.


M.I. – Quando não usais temas num álbum, costumais usá-los posteriormente?

Aort – Geralmente não. Os temas que não usamos são deixados permanentemente de fora porque o tempo deles já passou. As únicas excepções são os temas do período de “Resplendent Grotesque” que foram regravados num álbum retrospectivo dos Seasonal Code juntamente com algumas ideias a que foi dada nova vida através de Blutvial.


M.I. – Agora que o novo line-up é mais constante… já estais a pensar no próximo álbum?

Aort – Sim estamos. Eu já comecei a escrever um tema que decidirá o caminho que seguiremos no próximo álbum, apesar de ainda ser muito cedo para iniciar o processo de escrita de mais material. Eu tenho três outros projectos que também precisam de mim, portanto este processo de escrita não será imediato mas não demorará quatro anos como da última vez.


M.I. – A banda é geralmente comparada aos Arcturus… é um elogio ou um insulto?

Wacian – É deifinitvamente um elogio! Os Arcturus têm um catálogo excelente, pioneiro e ecléctico. Lembro-me de ouvir “My Angel” pela primeira vez e comecei a obrigar os meus amigos e conhecidos a ouvi-los também. As queixas de que eles não são suficientemente dogmáticos vêm de pessoas cuja ideia de arte é verdadeiramente restrita.


M.I. – O que serias se não fosses músico?

Aort – Convém frisar que os músicos que trabalham nesta linha musical não ganham a vida com a música, independentemente do nível de sucesso que atinjam. As únicas razões para fazer música têm a ver com a alegria que me provocam, já que me custam muito dinheiro. Portanto a resposta é simples… eu não sou músico profissional e trabalho no ramo de desenvolvimento de máquinas de radioterapia.


M.I. – Esperas que 2014 seja bom para a banda em termos de actividade ao vivo. Já tendes planos?

Aort – Espero mesmo que seja. Estamos a trabalhar no calendário do próximo ano. Esperamos tocar ao vivo o máximo possível. Falem junto dos promotores locais e peçam-lhes para nos contactarem.


Entrevista por Sónia Fonseca