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Entrevista a Immundus


Immundus é um projecto de música ambiente, cinemática e de horror que tem feito furor na Europa. Apesar de estar radicado na Noruega há cerca de uma década, o mentor de Immundus é português e, como apologista do produto nacional, a Metal Imperium conversou com o artista na esperança de que os fãs portugueses fiquem a conhecer melhor e comecem a valorizar os projectos tugas. 


M.I. - Antes de partires para a Noruega fazias parte dos Necrokult of Kronos e lançaste a demo “Apeiron: The Anaerobic Lifeforms”. Qual foi a reacção do underground? 

A reacção foi muito boa, mesmo antes e durante a gravação tivemos alguns shows e muitos pedidos para uma gravação. Nós sentimos uma boa reacção e NOK chegou mesmo a gravar um álbum depois de algum tempo que, infelizmente, nunca chegou a ser lançado. Enfim foram muito bons tempos a tocar com Necrokult of Kronos.


M.I. - És o dono do estúdio Wave Line Audio Mastering… era algo que desejavas fazer quando foste para a Noruega? A oportunidade apareceu facilmente ou tiveste de trabalhar muito para o conseguir? 

O estúdio aconteceu durante as gravações de Immundus, enquanto procurava estúdios para masterizar os meus álbuns mas, aos poucos, fui aprendendo algumas das técnicas e decidi fazer formação como técnico de masterização. O Wave-Line Audio começou a receber um bom feedback por parte dos artistas que utilizaram os meus serviços e, desde então, decidi tornar o estúdio oficial. Hoje em dia já não trabalho individualmente com artistas por causa de algumas prioridades que tive de tomar, mas continuo a fazer serviços de masterização para algumas companhias e editoras com as quais, felizmente, mantenho bons contratos. Estou sempre aberto a outras companhias que desejem usar Wave-Line Audio, dependendo do tipo de procura.


M.I. - É fácil seres tu a tocar todos os instrumentos… porque trabalhas assim? Não encontraste ninguém interessado em trabalhar contigo no projecto ou acreditas que mais vale só que mal acompanhado?

Quando decidi criar Immundus, foi uma cena que sempre desejei fazer sozinho, assim tenho controlo das minhas próprias composições e do que quero para a minha própria música. Recebi umas boas propostas de vários artistas para integrarem Immundus, mas este projecto é uma cena mesmo só minha. Às vezes faço colaborações com alguns artistas como Fredrik Klingwall, IncSissors, Melankolia entre outros grandes artistas na cena do Ambiente e Industrial… mas são apenas colaborações.


M.I. - O teu novo álbum será lançado em Abril deste ano… o álbum intitular-se-á “Insomnia”. Porquê?

Insomnia está programado para um lançamento em Abril , se tudo correr bem e não houver atrasos. O orçamento para o álbum ainda não está todo no lugar, mas estou a chegar lá e espero ter este álbum lançado não só digitalmente, mas também em formato físico. O álbum será menos experimental do que os últimos lançamentos e terá uma abordagem mais musical, com mais estrutura. Fui buscar inspiração a alguns dos lançamentos anteriores, mas também com alguns novos elementos. Talvez musicalmente seja uma agradável mistura de velho e novo... Neste momento, estou realmente inspirado e muito ansioso por expô-lo para os ouvintes. “Insomnia” é baseado num conceito diferente e com uma temática mais variada do que as versões anteriores e está focado uma abordagem mais introspectiva. O título do álbum em si podia ter sido diferente mas este título “Insomnia” reflecte muito melhor a essência do álbum e o que transmite.


M.I. - Em que linha conceptual será baseada a história?

Acho mais complicado falar da temática ou história do álbum porque acho que a música vai falar por si. Este álbum e composições foram pensados numa altura em que tinha dificuldades em dormir e ocupava esses minutos a criar diferentes histórias na minha mente, assim como a própria atmosfera… ainda o continuo a fazer tendo em conta que as composições ainda decorrem neste momento.  Enquanto componho estas histórias e melodias vou, ao mesmo tempo, criando linhagem entre as músicas para criar um álbum coeso. Podemos dizer que cada vez está mais interessante com uma abordagem temática do álbum completamente diferente dos lançamentos anteriores mas contendo os mesmos elementos conceptuais, como atmosferas, humores tensos e fantasmagóricos.


M.I. - Precisas de um determinado ambiente para conseguir compor novos temas?

Não, não posso realmente dizer que preciso. Normalmente quando tenho alguma melodia a correr pela cabeça posso compor sem ter nenhum determinado ambiente em redor. Dá-me mais gosto compor quando estou completamente sozinho e com silêncio absoluto em meu redor, mas não é uma necessidade. É tudo uma questão de adaptação.


M.I. - Como é que acontece o processo de composição e gravação do material… decorre muito tempo entre ambos?  É habitual fazeres alterações durante a gravação? 

O processo de composição e gravação em si não é muito complicado. Eu não sou uma pessoa que usa muitas cenas analógicas para compor. Não sou muito adepto de cabos e fichas eléctricas, e só isso já me poupa muito tempo, especialmente nas gravações. Normalmente faço as composições e gravo ao mesmo tempo. Não é sempre que faço ajustes, porque sinto que, quando o faco, as música em si perdem essência. A minha música foi feita naquele momento e com aquele feeling e desejo que essa essência seja transmitida ao longo das músicas. São poucas as vezes que ajusto alguss pormenores. Acho que os ouvintes apercebem-se disso, e só para deixar a dica, algumas falhas que se possam encontrar, são deixadas nas faixas propositadamente. Estas marcas nas músicas provocam um momento de irritação até  mesmo em mim (Porque é que aquela melodia soa assim e não assim?), etc, mas gosto de criar este tipo de reacção que já se tornou parte da minha assinatura musical. 


M.I. - De todos os temas que já compuseste, qual é o teu preferido?

(Risos) Uma pergunta um pouco traiçoeira. Bem, eu estou orgulhoso de todos os meus lançamentos, cada um teve o seu próprio modo de criação, embora um mais frustrante do que outro, mas estou feliz com o que tenho vindo a realizar com Immundus até agora. Difícil apontar para um favorito.


M.I. - Como costumas promover os teus lançamentos? É habitual tocares ao vivo? 

Nunca toquei ao vivo com Immundus. Este projecto é mesmo um projecto só de estúdio. Tive muitas opportunidades de tocar ao vivo aqui na Noruega e fazer digressões com outros artistas noruegueses pelo norte da Europa e também  recebi convites para festivais de Dark Ambient e musica experimental na Europa. Recusei porque prefiro que Immundus continue a ser um projecto de estúdio. Já assisti a vários shows deste tipo de música e adoro as vibes que os artistas conseguem criar neste tipo de shows, ambiente pesado e tenso, só mesmo estando lá e experimentar por si mesmo. Quanto à promoção, continuo a mandar press releases, os álbuns para review para revistas em formato digital, para zines que aceitam estes formatos, blogs e, claro, as redes sociais. Tento preparar o melhor que posso antes e durante um lançamento.


M.I. - Portugal já teve o prazer de te ver a fazer o que mais te satisfaz ou achas que o panorama musical português não está preparado para o som de Immundus? O que nos falta? 

Para ser completamente honesto, não sei mesmo como a minha música está a ser aceite em Portugal. Tenho tido reconhecimento em alguns sítios na Europa, mas em Portugal, Metal Imperium é a primeira zine que me entrevista. Portugal está definitamente preparado para Immundus! Conheço e tenho contacto com alguns artistas na mesma cena e acho que Portugal só tem é de ajudar os artistas a terem mais saída. O que falta??? Se continua no mesmo que há 10 anos atrás,  Portugal precisa de incentivos e mentes abertas, porque não faltam boas bandas com força de vontade para exporem a sua música aos ouvintes.


M.I. - Como te sentes por ver que os teus lançamentos são muito bem recebidos e descarregados da internet?

Com orgulho claro! Quando comecei Immundus nunca pensei que o feedback fosse tão grande, mas continuo com os dois pés assentes no chão a fazer o que gosto. Espero assim continuar. Agradeço muito o apoio dos fãs e dos ouvintes que compram a música, porque assim contribuem para mais lançamentos de Immundus. Muito Obrigado!  


M.I. - Ao longo dos anos tem havido algumas bandas portuguesas que marcaram a cena metal mas que, infelizmente, nunca tiveram grande resposta internacional. Porque achas que as bandas portuguesas em geral não têm a capacidade de atrair atenção? São menos verdadeiras ou criativas?

As bandas têm capacidades, mas há falta de incentivos e os sítios para demonstrarem a sua música são muito poucos. Como já disse anteriormente, muitos precisam de abrir as mentes para o que é novo e diferente. Na minha opinião, isto cria um mau efeito para as bandas porque estas perdem a força de vontade e acabam por desistir… NÃO DESISTAM! Mas também existem bandas que têm a oportunidade mas são arrogantes ao ponto de preferirem um palco grande e rejeitarem um bar ou um local mais pequeno. 


M.I. - Quando vens a Portugal, costumas ir assistir a concertos? Qual foi o último a que assististe? 

Costumo ir a Portugal só no verão e como sou do Algarve não há muito que se passa lá a nível de concertos nessa altura. O meu maior interesse quando vou de ferias é ver a família, amigos e criar novas histórias. (Risos) Se houver alguns concertos na área, vou ver mas não vou propriamente à procura.


M.I. - O acesso à cultura está praticamente vedado ao português comum por causa da crise e por uma questão de falta de educação cultural. Hoje em dia as crianças já têm acesso a aulas gratuitas de música desde tenra idade. Achas que esta iniciativa poderá, a longo prazo, alterar a atitude dos portugueses e a cultura no nosso país? 

Acho uma excelente ideia os jovens aderirem a este tipo de iniciativa, ainda por cima, gratuitamente. O mundo não gira só á volta de política e futebol. Todos nós somos músicos e a oportunidade de aprender e poder exprimir sentimentos através da música é uma das coisas mais puras e verdadeiras que existem na humanidade. 


M.I. - Que conselho darias aos jovens portugueses que se debatem com a falta de emprego e oportunidades no nosso país? 

Eu nunca comento política nem religião e este tipo de opinião torna-se muito pessoal. Sigam o que vai no vosso coração e enfrentem os obstáculos como puderem, desde que não desistam.


M.I. - Obrigada pelo teu tempo. Deixa uma mensagem aos leitores da Metal Imperium.

Muito Obrigado por esta oportunidade, foi a primeira que fiz uma entrevista para uma zine da terra.  E dêem uma oportunidade à música de Immundus.

Visitem o site official em: http://immundusofficial.weebly.com
Twitter: @immundustwiter


Entrevista por Sónia Fonseca