"A War Of Our Own", o mais recente trabalho dos Stream of Passion, é um daqueles discos que, ainda antes de ser ouvido, já nos deixa a salivar. Não só porque a banda enveredou pelo conceito de auto financiamento do disco (sem pressões, directivas ou limitações de editoras), como consegue uma capa onde vemos uma Marcela Bovio (?) envolta num cenário fantástico, numa paleta cromática verdadeiramente intensa. Mas quem conhece os Stream of Passion sabe que, pese embora a música tenha sem dúvida a sua componente mais romântica, os conceitos líricos de fantasiosos têm muito pouco.
E é essa seriedade que faz dos Stream of Passion um dos colectivos mais interessantes hoje em dia no universo do metal com vozes femininas. A seriedade de uma banda que emprega tudo o que tem na escrita dos temas, pegando em estruturas simples, mas ao mesmo tempo abrilhantando-as com pormenores aqui e ali. Ao ouvir A War Of Our Own ouvimos um disco honesto, intenso, forte e acima de tudo melancólico (trágico por vezes). Melancólicos não numa vertente mais gótica ultra-romântica, mas sim numa perspectiva mais sociocultural, com várias alusões aos problemas do México de Marcela Bóvio, que por sua vez mostra também o saudosismo pela sua terra natal.
Muitos dos temas aqui presentes chegam mesmo a roçar o brilhante. A faixa-título não só é disso excelente exemplo, como também da forma algo sui geniris de compor dos Stream of Passion. Dá para perceber claramente que a base da composição da banda é o piano ou o violino, daí que na maioria das vezes são as linhas melódicas destes instrumentos que sobressaem ao invés dos elementos de metal mais tradicionais, ou mesmo dos sintetizadores. Algo que se aplica especialmente na trágica "Secrets" ou na delicada "For You", dois temas com uma carga emocional fortíssima e que mostram que através da simplicidade se consegue por vezes chegar ao resultado ideal, sem o auxílio de camadas e camadas de partes sinfónicas.
Mas nem sempre "A War of Our Own" é frágil, e a energia de "Burning Star" e peso de "Earthquake" são mais do que necessários para que os temas em questão sejam verdadeiramente intensos. Quando isso acontece, vemos que o resto da banda também continua em excelente forma, mas invariavelmente as atenções vão sempre cair para a excelente prestação de Marcela Bóvio, afinal de contas é ela o grande coração do colectivo, cantando uma vez mais em inglês e em castelhano, o que faz todo sentido, especialmente quando o conteúdo lírico gira em torno do México.
O melhor que se pode dizer de "A War Of Our Own", é que este não é só o melhor disco dos Stream of Passion, é sim um dos melhores discos alguma vez compostos neste subgénero.
Nota: 9.2/10
Review por António Salazar Antunes
