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Reportagem: Filii Nigrantium Infernalium e Alchemist @ Hard Club, Porto - 18/04/2015


Depois de uns Aura Noir, e de uma data de Corpus Christii cancelada, o Hard Club continua a servir Black Metal ao fim de semana, desta vez, com uma data que marcou  os vinte anos de um disco e sua actual edição em vinil. 

Mas antes da celebração da data, os Alchemist abriram a noite com um tema novo - “Jnana” - seguindo-se “Torn” e  outros temas da maqueta de 2012 – “Flesh to Be Broken” - faltando apenas “Anal Genesis” para completar esta. O som deste trio ganha com a mistura entre o virtuosismo dos solos de João D. e o sentido punk do baixo de João G. numa mistura unida pela bateria de João S. em que o som tem algum revival do black dos anos 90, por vezes aproximando-se ao bom de Celtic Frost. A referência aos suíços foi sublinhada no fim do concerto com uma excelente versão do clássico “Procreation Of The Wicked”. Num encore merecido veio ainda outro tema novo: Crippling Anxiety”. Alchemist é uma das melhores bandas de black nacionais, pena que se mantenham sem um longa-duração. Há cerca de 20 anos, os Filii Nigrantium Infernalium chegavam ao Porto, numa tarde chuvosa, para apresentarem o seu “Era do Abutre”. No local estariam não mais de 6/7 pessoas, o dono do espaço não sabia de nenhum concerto. De improviso e em um par de horas, os Filii estavam noutro local da cidade a tocar com outros grupos. O público desconhecia-os e riu-se demasiado, acabando escorraçado da sala pelo Belathauzer, vocalista e mentor do projecto. O concerto acabou na hora, os Filii, sem cachet, tiveram de manobrar para regressar a Lisboa, encerrando uma aventura portuense tão mal sucedida.

Nestes vinte anos a banda terminou, regressou, foi gravando algumas (poucas) coisas e criou um estatuto de culto que lhe permitiu, em 2015, ter uma sala 2 do Hard Club muito bem composta. Hoje, o próprio Belathauzer, brinca um pouco com a sua atitude em palco – “demos tantos pregos neste concerto…” – mas pelo meio vai dizendo verdades – “em todas as igrejas há homens nus!”, “este disco não encontram na FNAC, nem no Pingo Doce” – e entre muita ironia e circo, descarrega malhas atrás de malhas: “Calypso”, “Seita”... Só mais ao fim do concerto – e da garrafa… – se começa a levar a sério e explica que “Guerreiros do Trovão” e “Heavy Metal”, são duas faixas inéditas, da época de “Era do Abutre” que agora foram gravadas – “no dia de Natal” - e que, por isso, alguns poderão ter escutado malhas destes temas, em outras das gravações do grupo.

Com um toque de Spinal Tap, atirando sangue de galinha (em pacote) para o público, lutando com um crucifixo seguro ao micro por fita adesiva, mas sendo capaz de reconhecer os poderes vocais de um fan – Jesus nas palavras de Belathauzer – com quem partilha o palco em “Seita”, Belathauzer é hoje um misto de pregador das trevas e caricatura (propositada) de Rock Star, apoiado num trio musical capaz de dar a dimensão musical necessária ao ato para que passe da mera piada e receba o estatuto de culto. Mantus, outro resistente dos anos 90, serve de guitar hero trazendo um lado mais Heavy Metal ao som de Filii, enquanto Helregni e Arrno seguram o ritmo de um concerto que se traduz por uma excelente noite, bem disposta e com muito Necro Rock. Nesta noite, em que se fazia o lançamento, a norte, da edição em vinil da “Era do  Abutre”, o público soube entender Filii Nigrantium Infernalium. Parabéns aos que lá estiveram e souberam dar valor, a banda merece-o.

Agradecimentos: Notredame Productions