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Lychgate - "An Antidote for the Glass Pill" Review


Dois anos depois da estreia com o álbum homónimo, os Lychgate – que contam com Greg Chandler (Esoteric) nas suas fileiras – estão de volta com o segundo disco “An Antidote For The Glass Pill”. Por detrás deste título surge um álbum conceptual baseado na teoria panóptica do inglês Jeremy Bentham misturada com incursões relativas às obras “Nós”, de Zamyatin, e “Insatiability”, de Witkiewicz – dois livros em que a lavagem cerebral em massa é o âmago destes exemplos literários.

O conceito e até as estruturas musicais – que são bastante complexas, diga-se – remetem-nos a um quadro teórico e académico, mas a verdade é que uma boa parte da sonoridade dos Lychgate é altamente vampiresca sobretudo devido à inclusão de um órgão de tubos que surge em todo o disco com passagens obscuras que nos levam aos anos de ouro do cinema expressionista – recordo, por exemplo, a obra-prima “Faust” de FW Murnau (filme baseado na obra literária de Goethe) ou até “Frankenstein” de James Whale (filme baseado na obra de Mary Shelley).

Não se pode dizer que o black metal, na veia avant-garde, dos Lychgate seja totalmente desprovido de melodia, apenas não é aquela melodia que sabe bem ouvir e que faz crescer em nós as melhores sensações. Não… A melodia dos Lychgate é maioritariamente dissonante, imperativa e inquietante. E isso vai ao encontro da teoria panóptica relativa às prisões: com este álbum iremos sentir-nos emprisionados num círculo sonoro obscuro em que os demónios do crime estão sempre à espreita, mas de facto não os conseguimos ver. Apesar da constante presença do órgão de tubos anteriormente mencionado, as guitarras não ficam de todo em segundo plano já que são elas que criam as paisagens sonoras densas e por vezes cortantes no background de toda a insanidade musical proporcionada pelo disco – e quando falo em insanidade refiro-me essencialmente à polirritmia que causa sensações de desconforto.  

Convenhamos que “An Antidote For The Glass Pill” não é um trabalho para todos e muito menos para todos os dias. Eu próprio ainda não percebi qual o espírito certo para desfrutar desta viagem alucinante – nem sei se alguma vez vou perceber.

Nota: 6.5/10

Review por Diogo Ferreira